segunda-feira, julho 20, 2009

Woodstock à mineira

Está no Estado de Minas de hoje, 20/07/2009:

Por mais que os protagonistas neguem, um novo Clube da Esquina pode estar vindo à cena, mais especificamente em Três Pontas, onde Milton Nascimento e Wagner Tiso acabam de gravar as bases do novo disco de inéditas (com algumas regravações) de Milton, sob a produção de Tiso, com direito a participação do gr
upo Ânima Minas e dos cantores, compositores e instrumentistas Heitor Branquinho, Fernando Marchetti, Ismael Tiso, Adriano Kamizaki e André Duarte, entre os cerca de 20 jovens artistas três-pontanos, praticamente desconhecidos, que vão participar do projeto.

Terra natal de Bituca e Wagner, que, em Belo Horizonte, se juntaram aos descendentes das famílias Borges, Brant, Guedes e Horta para escreverem um capítulo à parte da música popular brasileira, a cidade de 55 mil habitantes, no Sul de Minas, vive hoje um momento de intensa atividade artístico-cultural.

A presença dos filhos ilustres parece ter sido o gancho que faltava para a reedição do lendário festival de música que, naquelas plagas, ficou conhecido como o Woodstock mineiro. De 10 a 13 de setembro, Milton Nascimento, Wagner Tiso, Jon Anderson (ele mesmo, o vocalista do Yes), Toninho Horta, Ivan Lins, Jorge Vercilo, Tom Zé, Ricardo Herz, Didier Lockwood, Wilson Sideral e outras prováveis atrações vão reviver aquela histórica tarde-noite-madrugada de 30 e 31 de julho de 1977, que conseguiu levar milhares de pessoas para o meio do pasto da Fazenda Paraíso.


Lá, se apresentaram para o delírio da plateia formada de três-pontanos e forasteiros de toda parte Milton Nascimento, Chico Buarque, Fafá de Belém, Clementina de Jesus, Francis Hime, Gonzaguinha, grupo Azimuth e outros convidados. “A coisa mais bonita daquilo tudo foram as pessoas que chegaram numa boa, sem cobrar nada, e cantaram em um dos morros mais bonitos da cidade”, recor
da Bituca.

Agora intitulado Festival Música do Mundo, o megaevento que será realizado em vários locais de Três Pontas, em setembro, poderá vir a integrar o calendário cultural da cidade. “Além de uma paisagem belíssima, somos um povo altamente musical”, diz Wagner Tiso. Em 1977, Tiso apresentou apenas uma música, já que tinha compromisso acertado com Gal Costa, que estava em turnê pelo Brasil.


O show maior da nova edição do chamado Woodstock mineiro será realizado no sábado (12 de setembro), no parque multiuso que a prefeitura da cidade está construindo em homenagem a Wagner Tiso, na Rodovia Três Pontas, na localidade conhecida como Vila Boa Vista.


Segundo Maurinho Bueno, coordenador de programação da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Turismo, que também preside o Centro Cultural Milton Nascimento, a Prefeitura de Três Pontas vai se responsabilizar pela logística, cabendo à Marola Produções, da jornalista Maria Dolores, autora da biografia Travessia – A vida de Milton Nascimento, a produção do festival.

Dez shows, além de apresentações paralelas em oito bares, fanfarras e folias de reis, uma tradição à parte da cidade, estão na agenda. Na biografia de Milton, a jornalista mineira dedica três páginas ao célebre festival, lembrando que Três Pontas, então com 37 mil habitantes, viu a população praticamente dobrar naquele dia. Apesar da praga rogada pelos opositores, segundo ela, a festa foi um sucesso, com direito a chá de cogumelo, maconha e a bebidas, tão comuns aos remanescentes do movimento hippie que correram para a cidade.

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Programação - O Mundo de Tati

sexta-feira, julho 17, 2009

50 anos sem Billie Holiday



por Ruy Casto, na Folha de 15/07/2008:

Em 1948, o baiano Jorge Cravo, Cravinho, 21 anos, relapso estudante de administração em Nova York, não saía do cinema. Não pelos filmes, de que não queria nem saber, mas pelos minishows de palco que os cinemas apresentavam entre as sessões – cinco ou seis por dia, estrelando um grande cantor ou orquestra.


Com um único ingresso, Cravinho assistia ao primeiro show, via o filme uma vez, assistia ao segundo show, dormia na sessão seguinte, assistia ao terceiro show, ia namorar a garota da bombonière durante mais uma sessão e assim por diante. E quem se apresentava nos cinemas? Frank Sinatra, Duke Ellington, Billy Eckstine, Tommy Dorsey, Nat King Cole etc. Certo dia, foi a vez de Billie Holiday.

Ao fim do último show de Billie, o emocionado Cravinho postou-se nos fundos do cinema e a viu sair, linda, de vestido justo e gardênia no cabelo. Seguiu-a até um botequim, entrou também e sentou-se ao balcão, a um ou dois banquinhos da deusa. Mas respeitou sua solidão e não a importunou.

Dois anos depois, de volta ao Brasil, Cravinho escreveu-lhe uma carta, aos cuidados da Decca, sua gravadora, convidando-a a cantar na Bahia. Para sua surpresa, Billie respondeu, autorizando-o a falar com um brasileiro amigo dela, chamado Guinle (Jorginho, claro), a respeito disso. Mas nada resultou, e a própria carta se perdeu.

Passaram-se séculos e, nos anos 80, Cravinho vendeu sua fabulosa coleção de LPs de cantores de jazz para um americano. E pode-se imaginar a surpresa deste ao abrir um LP de Billie Holiday e ver cair uma carta da cantora, dirigida a seu fã brasileiro, o qual só depois se lembrou de que a guardara dentro de um disco.

Nesta sexta-feira, são 50 anos da morte de Billie. Foi uma morte anunciada, mas Cravinho e o mundo até hoje não se refizeram.


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