segunda-feira, junho 17, 2013

O maior Taiti de todos os tempos



Acompanhei de perto nos últimos 10 dias a epopeia da Seleção Taitiana na sua primeira aventura longe da Oceania em competição adulta organizada pela Fifa. Fiquei tão familiarizado, que temi até ser relacionado para o jogo de hoje contra a Nigéria. Fui presenteado com colar de conchas da Polinésia, aprendi sobre a cultura dos To’a Aitos (guerreiros de aço, na língua local) e vi que, em termos de esporte, a praia deles é outra – belíssimas praias, por sinal, não faltam na ilha de pouco mais de 150 mil habitantes.

Em tempos de burocracia, jogadores recusando entrevistas, salários astronômicos e até ameaças de não disputar a Copa das Confederações por discordar da premiação, o Taiti foi um presente para os apaixonados pelo futebol. Não pela qualidade técnica, que certamente vai ficar devendo, mas por ainda guardar um romantismo há muito tempo em falta no esporte: joga pelo amor ao futebol, dividindo os treinos com rotinas pesadas de trabalho. Seus jogadores são amadores, no sentido mais puro da palavra.

Hoje, a Seleção do Taiti seremos eu, você e todos nós que um dia sonhamos em entrar em um estádio e ser aplaudidos de pé. É a vitória da pelada, da várzea, do futebol de fim de semana. Talvez seja essa a essência que o profissionalismo perdeu pelo caminho: a possibilidade de transformar o sonho em realidade.

Somente o esporte e o cinema são capazes de traçar roteiros como a vinda do Taiti ao Brasil, do time jamaicano de bobsled à Olimpíada de Inverno’1988 (que inspirou o filme Jamaica abaixo de zero), ou a participação de Eric Moussambani na Olimpíada de Sydney’2000 – aquele nadador da Guiné Equatorial que quase morreu afogado por nunca ter treinado em piscina olímpica.

Talvez os taitianos não marquem nenhum gol – sim, é bem possível – ou sofram mais de 10 em uma só partida – isso é mais provável ainda. Mas a missão dos comandados do técnico Eddy Etaeta está cumprida. Não são eles que têm de nos agradecer pela oportunidade – como fizeram, educadamente, na última sexta-feira ao cantar para a imprensa uma música escrita pelo goleiro. Nós é que temos de aplaudi-los por reacender nossa capacidade de acreditar e sonhar. Allez, To’a Aito!