segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Opinião - À sombra de Fidel

Renan Damasceno

(Texto da pág. de Opinião do Jornal dos Lagos, Alfenas. página em PDF)

A poucos meses de completar meio século governando com mão de ferro a ilha de Cuba – maior tempo à frente de um regime político da história moderna –, o ditador Fidel Castro sai de cena. No entanto, sua imagem deve pairar sobre o imaginário do povo cubano por mais um bom tempo. Com quase dois
metros de altura, barba, boné verde e farda das forças armadas do país, mas sem a mesma saúde dos tempos de Serra Maestra, Fidel ainda tem o poder sobre a ilha e só renunciou à disputa das eleições deste ano, na qual lhe daria o direito de governar por mais cinco anos, por ter um substituo também originado da Revolução de 1959: seu irmão Raul Castro, no governo desde seu afastamento por problemas de saúde, há um ano e meio.

Os resquícios da ditadura fidelista estão longe de desaparecer em pouco tempo. A eleição do irmão Raul prova que a revolução, mesmo que aos frangalhos, ainda tem força para se reerguer. Conta com o apoio popular, que, obedientes ao regime, não pensam em revolução nas ruas. Talvez por saber que “revolução” no país não representa nenhuma mudança na forma ditatorial de governo – ao lado de Raul, Guevara e Cienfuegos, Fidel tomou o lugar de Fulgêncio Batista, que governou a ilha de forma não menos autoritária entre 1940-1948 e 1952-1959.

Marcado por mortes, preseguições políticas e privação ao acesso à informação, os 49 anos de governo do ditador prova que ideais socialistas não combinam com o poder. Geram vicíos. Assim foi na história recente da América Latina: na Bolívia de Velasco Alvarado e, recentemente, na Venezuela de Hugo Chávez.

A saída de Fidel dá novo fôlego à economia, traz esperança aos milhares de ex-patriados e anima o fim do embargo sancionado há 46 anos pelos Estados Unidos. Mas a expectativa não deve ser muito grande. O governante formal mudou, mas a ilha continua a mesma. As esperanças são maiores do que as mudanças na ilha de Fidel.