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segunda-feira, março 15, 2010

O novo encontro de João com a música. E do mundo com João


O recluso João Gilberto, aos 78, gravará novas versões para Insensatez (de Tom e Vinícius) e Louco (Wilson Batista/ Henrique de Almeida), além de um tema inédito de sua autoria. Compositor eventual, João compôs ao menos 12 canções ao longo de 61 anos de carreira. As informações são da Ilustrada, na Folha de S. Paulo de hoje. (Matéria "João Gilberto grava novas canções").

As três músicas farão parte da trilha sonora de O Gerente, novo filme do também veterano Paulo César Saraceni que, desde suas duas obras essenciais do Cinema Novo (Porto das Caixas, 1962, e O Desafio, de 1965), não tem produzido nada de relevante. Sua assiduidade atrás das câmeras, aliás, não tem sido melhor que de João ao microfone – em 20 anos, lançou apenas quatro filmes, todos sem expressão.

Os dois se conhecem desde a década de 1980, quando o diretor começou, em parceria com Leon Hirszman, as gravações de Bahia de Todos os Santos. O documentário mostra espetáculos ao ar livre de músicos baianos em Roma, em 1983. Estiveram lá Caymmi, Caetano, Tom Zé, Moraes Moreira, Gil e o próprio João. As músicas que serão regravadas esse ano são duas das quatro que João apresenta no filme. Estate, dos italianos Martino e Brighetti, e Wave, de Tom, foram as outras duas.

A admiração de João Gilberto pelo poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) pode ter contribuído para que ele decidisse participar do projeto de Saraceni. Em Chega de Saudade, Ruy Castro narra o episódio em que João, ainda desconhecido, ao avistar Drummond no centro do Rio, abordou-o, chamou-o de mestre e pediu um autógrafo.

João Compositor

A música inédita já começou a ser esboçada por João no apartamento em que vive no Leblon. A canção será instrumental, possivelmente cantarolada. Apenas ele e o violão, como nos registros de algumas de suas poucas músicas autorais. Para que João as grave, foi montado um estúdio onde mora, com alguns equipamentos trazidos dos EUA.

Das composições de João, as mais famosas são Oba-La-La e Bim-Bom, lançadas nos anos 1950.

Saiba Mais

Para saber mais de João Gilberto neste blog, experimente vê-lo interpretando Estate, em Roma, neste post aqui. Também foi citado no post sobre as façanhas de Dick Farney e sobre o Sinatra-Farney Club. Mais post de Bossa Nova, aqui. Já o parceiro de Saraceni em Bahia de Todos os Santos, o diretor Leon Hirszman, recebeu comentário sobre sua cine-biografia, Deixa que eu Falo, lançada em 2008. Mais sobre Cinema Novo, aqui.

terça-feira, abril 14, 2009

Levante no interior – História do cinema em Alfenas


Em 1967, Glauber Rocha, o maior de nossos cineastas, já havia escancarado nossa fome e alçava voos mais arrojados e alegóricos ao esmiuçar nossa Terra em Transe. Na França, Godard antecipava a revolução em La Chinoise e terminava ali, na minha opinião, seu ciclo genial, no qual retomaria duas décadas depois com Je Vous Salue, Marie. Antonioni, já o maior italiano da década, partia para a Inglaterra para discutir o conceito da imagem em Blow Up – rodado um ano antes. Buñuel se rendia às tardes parisienses em A belle de jour. A liberdade da América-on-the-road chegava aos cinemas com Easy Rider e, aqui, a liberdade estava com seus dias contados à espera do AI-5.

O cinema brasileiro não decidia se continuava Novo ou trazia de volta as chanchadas, desta vez pouco mais apimentadas. Alguns, como Sganzerla, preferiram embrulhar tudo, jogar na lata de lixo e expor as entranhas das metrópoles que nasciam. Sufocados pelo regime, que estreitava o espaço da produção cultural, os artistas tiveram de se virar e arrumar um sem fim de metáforas para falar o que queriam. Conseguiram. Afinal, a dita era burra.

Embora as principais manifestações estivessem nas capitais, o interior se fez valer. No mesmo ano que Glauber, Godard e o cinema americano falavam em liberdade, poder e manifestações, o texto “Levante das saias”, do teatrólogo Valdir de Luna Carneiro, de Alfenas, Sul de Minas, ganhava versão nas telas, sob a direção de Ismar Porto. A história se mostra atual e visionária, ao trazer à tona o feminismo, antecipar as passeatas e greves francesas, a proteção da igreja aos perseguidos e o fenômeno da industrialização que rumava, tardiamente, ao interior do país.

O texto é simples e pontual. O enredo se passa na fictícia Palha Verde (Alfenas). Um empresa se instalara na cidade e a esposa do dono do negócio está prestes a cair nas garras do garanhão. Com medo de perder o investimento e a fim de resguardar a honra das mulheres, o prefeito e os homens de bem decidem expulsar o galã de Palha Verde. Apoiadas pela igreja, as mulheres se reunem e saem às ruas em defesa do galanteador. Não vou contar o final. Toda essa deliciosa comédia muito bem amarrada e com diálogos enxutos e rápidos.

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Os detalhes da produção, as histórias e entrevistas sobre o filme serão apresentados na primeira edição da nossa revista eletrônica, que ainda está no forno. As reuniões – às duras penas, discussões e cafés –, ainda estão decidindo o rumo desta nova empreitada.
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Estive com Valdir de Luna no último fim de semana, em Alfenas. Em uma ótima tarde de conversa, falamos de literatura, cinema e jornalismo. Fui presenteado com alguns livros seus, entre eles “Sex...teto”, que originou o filme, e o primeiro volume de Teatro Completo, organizado e editado pela prefeitura local.
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Na imagem está o pedido de censura ao filme, liberado como “impróprio para menos de 18 anos e livre para exportação”, em 18/12/1967.


segunda-feira, dezembro 08, 2008

Leon Hirszman - Deixa que eu falo...


Responsável pela organização e relançamento da obra de Leon Hirszman, o montador Eduardo Escorel não poderia ter escolhido forma melhor de homenagear o diretor, morto em 1987: Deixa que eu falo – exibido no Forumdoc.bh, ainda não lançado em circuito comercial –, destaca-se pela riqueza de imagens de arquivo, que ditam por si só o andamento do documentário.

O título foi escolhido para que Escorel não se colocasse na posição de narrador onipresente sobre a vida e obra de um amigo tão íntimo. O subterfúrgio narrativo foi atribuir ao próprio Leon as coordenadas, em uma espécie de documentário póstumo. Para isso, Escorel resgatou entrevistas e arquivos pessoais do diretor e “deixou que ele falasse”.

Segundo o diretor, o documentário não teve roteiro e foi construído a partir da pesquisa de material. Tratando-se de um exímio montador, Escorel organiza 70 minutos de filme com fragmentos que fogem da própria realidade e filmografia de Hirszman: para falar da chegada da família de Leon ao Brasil, utiliza trechos de O Imigrante (Chaplin, 1917), para citar a relação do diretor com os grevistas do ABC Paulista, evoca imagens de A Greve (Eisenstein, 1924).

Deixa que eu falo se destaca por falar muito em pouco tempo. É uma viagem ao mais íntimo de Leon Hirszman – um dos mais importantes nomes da cultura brasileira e um dos fundadores do Cinema Novo –, sem cair no lugar comum de tantos documentários biográficos.
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+ Cinema Novo neste blog:
- Breve biografia diGlauber
- Clássicos do cinema brasileiro: Vidas Secas
+ Vídeos
- Assista ao curta Partido Alto, dirigido por Hirszman, em 1982
- Assista ao trailer de Eles Não Usam Black Tie, de 1981
+ Leon na rede
- Site oficial do diretor

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quinta-feira, maio 18, 2006

Clássicos do cinema brasileiro - Vidas Secas



"Este filme não é apenas uma transposição fiel para o cinema de uma obra imortal da literatura brasileira.
É antes de tudo, um depoimento sobre uma dramática realidade social de nossos dias e a extrema miséria que escraviza 27 milhões de nordestinos e que nenum brasileiro pode ignorar. "

Inserido na fase mais produtiva do Cinema Novo, Vidas Secas é - do início ao fim - seco, árido e rude. A fotografia é marcada por excelentes locações, que reforçam o clima de aridez do filme.

Outra característica são os longos períodos de silêncio preenchidas por açoes ríspidas e excelente interpretação dos atores (principalmente as crianças que pouco falam durante o filme).
Uma das principais obras de um dos maiores diretores da história do nosso cinema, Nelson Pereira dos Santos.


Ficha Técnica
Título Original: Vidas Secas
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 103 min.
Ano de Lançamento (Brasil): 1963
Direção: Nélson Pereira dos Santos
Elenco: Átila Iório (Fabiano)
Maria Ribeiro (Sinhá Vitória)
Jofre Soares (Fazendeiro)
Maria Rosa

terça-feira, fevereiro 28, 2006

A metáfora libertária de Glauber.

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“Espero que o sinhô tenha tirado uma lição.
Que assim mal dividido esse mundo anda errado,
Que a terra é do Homem,
Não é de Deus nem do Diabo" .
(João Guimarães Rosa)

Misticismo e fanatismo cego estão no centro da obra que projetou Glauber Rocha. “Deus e o Diabo na terra do sol” retrata as alucinações, as visões e a loucura que a fome, a miséria e a ignorância podem inspirar num povo desesperado.

Glauber narra a realidade nordestina na pele de Manuel, vítima do coronelismo, marcado pela seca e entregue às profecias e ao fanatismo dos homens, dividido - sem nenhuma conduta – entre Santo Sebastião (o profeta negro que promete que o sertão vai virar mar) e Corisco (o cangaceiro que faz justiça com suas mãos, por si e em nome de Lampião).

Assim, fundem-se as imagens de Deus e o Diabo na pele desses dois homens marcados pela loucura e pela solidão da seca (que no filme fica mais evidente pela voz de Othon Bastos narrando as duas personagens). A missão de exterminar Deus e o Diabo fica a encargo de Antônio das Mortes.O homem sem crença e livre, dono de sua própria lei. Reside na carabina de Antonio das Mortes o ideal libertário e revolucionário do filme. Exterminados o profeta e o cangaceiro, seria o primeiro passo para a saga da libertação do povo nordestino, uma revolução social tirando-os da ortodoxia, das promessas de salvação e da opressão religiosa.

Os paradoxos apresentados em Deus e o Diabo na Terra do Sol - entre a morte de Deus e a valorização do homem - marcam uma das características das obras do Cinema Novo, inspirado em obras francesas e principalmente no realismo Italiano (com Rosselini sendo seu grande inspirador).A valorização do homem e sua cultura como única forma de libertação é o que busca a estética cinema-novista, renegando a forma hollywoodiana, criando uma forma essencialmente brasileira de fazer cinema.

O realismo é presente no cenário do filme.O sol escaldante, o gado morto e as pedras no solo seco demarcam o caminho da lenta procissão de êxodo nordestino em busca da terra longínqua onde “choverá ouro e pedra se transforma em pão”.Os simbolismos religiosos são representados de forma crua com o sacrifício em nome de Deus, a purificação da alma com o sangue de um recém nascido e a imagem bíblica da mulher traidora na pele de Rosa, esposa de Manuel.O povo de Morro Santo vê-se preso entre a cruz e a espada, entre a profecia e a realidade sertaneja.

Enfim, fugindo das dimensões divinas e satânicas, entre Deus e o Diabo, jaz o homem, dono de sua própria história e da busca incessante pela liberdade.

Ficha Técnica:
Título Original: Deus E O Diabo Na Terra Do Sol
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 125 min.
Ano de Lançamento (Brasil): 1964
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha e Walter Lima Jr.
Fotografia: Waldemar Lima

Elenco: Geraldo Del Rey ( Manuel) Othon Bastos ( Corisco) Maurício do Vale ( Antônio das Mortes) Yona Magalhães (Rosa) Lídio Silva ( Santo Sebastião)