quinta-feira, março 25, 2010

NY Quality Coffees

Matéria do Manhattan Connection do último domingo, 21 de março, sobre os novos hábitos de consumo de café em Nova York. Será que descobriram que aquele líquido escuro e aguado dos fast coffees deles não são cafés?


quarta-feira, março 24, 2010

Akira Kurosawa - O centenário do diretor dos sonhos


Por Roberto Hirao/Folha de S. Paulo

Quando a exibição de “Cão Danado”, no último dia 6 de janeiro, terminou, num cinema lotado de Nova York, o público bateu palmas, em meio a gritos de “gênio!”. Os aplausos eram para a produção de 1949 e para o diretor, Akira Kurosawa, o maior e mais importante do Japão. O filme foi rodado em condições precárias, numa Tóquio arrasada pela Segunda Guerra.

“Cão Danado” tem toques de filme noir e do neorrealismo italiano. Enquanto Kurosawa filmava um policial que percorre o submundo da capital japonesa, na Itália Vittorio De Sica fazia “Ladrões de Bicicleta”.

Mas essa foi apenas uma homenagem da entidade norte-americana Film Forum ao centenário do diretor japonês, nascido em 1910 e morto em 1998. Kurosawa é um dos mais premiados cineastas do mundo. Venceu os principais festivais com “Rashomon -Às Portas do Inferno” (Leão de Ouro em Veneza, 1950), “A Fortaleza Escondida” (Urso de Prata em Berlim, 1958) e “Kagemusha -A Sombra do Samurai (Cannes, 1980). Em 1990, recebeu um Oscar “pela contribuição que deu ao desenvolvimento do cinema”.

Elogiado e adulado em quase todo lugar, Kurosawa enfrentava problemas em seu país. A Toho, produtora à qual estava vinculado desde 1936, fazia pressões para que cortasse o orçamento, o que resultou no depressivo “Dodeskaden”.

Para “Kagemusha”, a produtora contratou Shintaro Katsu, uma celebridade. No primeiro dia de filmagem, Shintaro apareceu com uma enorme comitiva. Kurosawa o chamou em seu escritório e o despediu. Ele teria dito: “De estrela, chega eu”.

O dinheiro que faltava para “Ran” veio da França. Steven Spielberg e George Lucas produziram “Sonhos”. Os roteiros de Kurosawa foram adaptados para “Sete Homens e Um Destino” e “Por um Punhado de Dólares”, faroestes que estouraram nas bilheterias.

Cenas de filmes atuais lembram o estilo do cineasta, como a perseguição num estádio lotado em “O Segredo dos Seus Olhos”. No filme japonês, o jogo é de beisebol; no argentino, de futebol. O original? “Cão Danado”, o mesmo feito nos escombros de Tóquio há mais de 60 anos.


domingo, março 21, 2010

O calor do samba e o frescor da autenticidade

João Marcos Veiga

Domingo, seis horas da tarde. Horário incomum para shows na capital mineira. Mas lá estavam milhares de fãs dispostos a encarar o alto valor da entrada (R$60 a inteira), o preço salgado das bebidas (R$4,50 a lata de uma cerveja não muito apreciada), as enormes filas do banheiro feminino, o calor visível nos rostos suados da platéia e a falta de acústica de um ginásio travestido de casa de espetáculos. Nenhuma novidade para aqueles que são forçados a ir ao Chevrolet Hall para ver seus artistas preferidos.

Mas antes que o centro das atenções subisse ao palco, ficou a cargo do Copo Lagoinha deixar os presentes no clima do samba. Samba carioca para ficar mais claro. O grupo belorizontino desfilou por mais de uma hora os grandes clássicos daquele estado, com direito a declaração das escolas preferidas de cada integrante. Em nenhum momento foram apresentados temas de compositores dos morros de BH, origem afirmada com orgulho por muitos ali. Mas a função deles era outra: animar. E isso foi feito com muita competência. Com revezamento de cantores e bons instrumentistas (como o cavaquinista Dudu Braga), o Copa Lagoinha se despediu do público às 19h45 com a sensação de dever cumprido e mesmo com o merecimento de ter dividido os holofotes com a grande atração da noite. Infelizmente parece que isso não passou pela cabeça dos produtores.

Cerca de vinte e cinco minutos depois, Mart´nália estava diante de uma platéia ansiosa. E a primeira música do setlist foi logo o tema de abertura da atual “novela das oito” da Globo. Impossível não ser bem recebida nessas circunstâncias. Dali pra frente o que se viu foi o carisma de uma artista que caiu nas graças do Brasil na última década, apesar de já estar no ramo há mais de duas. A primeira parte do show foi conduzida pelo ritmo frenético da cantora, a cada instante num canto do palco, dançando de modo cômico e convidativo, tocando diversos instrumentos de percussão e distribuindo beijos, acenos e simpatia.

Muitas das canções apresentadas, como “Cabide”, foram acompanhadas efusivamente por milhares de gargantas e pulmões. Prova de que ela já tem seu espaço garantido no time de intérpretes brasileiras. Caminho aberto principalmente a partir do álbum “Pé de meu samba”, de 2002, o quarto de uma discografia que já está no oitavo trabalho. A produção teve o aval de ninguém menos que Caetano Veloso e Maria Bethânia. Mas lidar com grandes nomes da MPB nunca foi problema pra ela. Filha de Martinho da Vila, cresceu num ambiente de amor ao samba – e se este for de Vila Isabel melhor ainda. Os primeiros passos de Mart´nália foram dados fazendo vocais em apresentações do pai, que diz ter “inventado” a filha – o nome dela é uma junção do seu com o da mãe, Anália. A artista, no entanto, trilhou a própria estrada, traçando uma personalidade irreverente e cativante.

E na segunda parte do show trazido a capital mineira, ficou claro que essa personalidade não é fabricada, como o que se percebe com um pouco mais de olhar crítico diante da maioria das cantoras do país. A espontaneidade logo deu lugar a um clima mais intimista, com a percussão e toda base da banda cedendo lugar somente ao próprio violão. O timbre rouco – que cativou monstros do jazz num improvável duo com Madaleine Peyroux em homenagem à Bilie Holiday, ano passado, em Ouro Preto – trouxe ares de romantismo a pista até então destinada às desajeitadas sambadas dos mineiros. Versátil e talentosa, Mart´nália transparece ser uma artista que realmente vive a música à flor da pele.

Num contraponto à inegável presença de palco que desenvolve, ela faz questão de ser apenas mais uma ao lado de sua banda (guitarra, baixo, violão, bateria, duas percussões e vocais). Na medida em que se inclui num figurino todo preto à la holding, ela valoriza o conjunto e se sobressai unicamente por méritos. O grupo, por sinal, chama atenção pela qualidade de seus instrumentistas e por sonoridades discretamente diluídas ao longo da noite, principalmente através de um violão com toques jazzísticos e uma guitarra com nítida pegada roqueira.





Numa terceira etapa da apresentação, Mart´nália fez algumas homenagens ao samba, onde desfilaram Adoniran Barbosa e outros compositores já interpretados inclusive pela própria banda de abertura. Como não poderia deixar de ser, o nome de Martinho da Vila foi pronunciado mais de uma vez, algumas em meio ao tradicional despojamento da cantora (“vamos dar uma forcinha pro velho que ele precisa, já tá com 72 anos”). E a família não estava presente só no repertório, uma vez que os backings vocals ficam por conta da irmã e da sobrinha. Quando se achava que a presença de ambas era apagada e desnecessária, a jovem foi convidada a apresentar o gingado digno de uma passista de escola de samba sob todas as luzes e olhares e acabou por justificar a turnê ao lado da tia.

Depois de quase uma hora e meia, o show parecia ser conduzido para um final óbvio e pouco criativo com mais um tema que alcançou sucesso através de uma novela global. A interpretação de “Be happy”, que resume bem a figura de Mart´nália, dava um tom de despedida quando foi evocado um samba-enredo não facilmente assimilável para uma alegre e heterogênea platéia formada por casais, turmas de amigos, “dançarinos” e senhorinhas com leques na arquibancada, dentre outros tipos. A ala rítmica mostrou competência e já dava adeus quando o público puxou “Vou Festejar”, espécie de segundo hino dos atleticanos. Para o delírio destes, a cantora reconvocou a banda para acompanhar a música e ainda emendou mais dois temas de samba.

Fim de um domingo quente. Na barulhenta saída do ginásio uma sensação comum: valeu a pena enfrentar o Chevrolet Hall para um show de samba que, apesar de previsível, comprovou que Mart´nália é uma das artistas mais autênticas e carismáticas da atual safra musical brasileira.

sábado, março 20, 2010

Será o fim do jornalismo impresso? - Parte 5 - Circulação de jornais cai 3,46% em 2009

Portal Ig

O jornal Valor Econômico traz, na capa do caderno Eu & Fim de Semana desta sexta-feira, uma série de reportagens escritas por Matias M. Molina sobre a queda na circulação dos jornais impressos do País. De acordo com Molina, os jornais brasileiros atribuem a queda de 3,46% ocorrida no último ano ao cenário econômico negativo em 2009, quando o Produto Interno Bruto (PIB) ficou estagnado e a produção industrial encolheu 7%.

Enquanto “Estadão”, “Folha” e “O Globo” perderam circulação, “Zero Hora” e “Correio Braziliense” ganharam mercado. Os jornais populares “Meia Hora”, “Extra”, “Diário de S.Paulo”, “Jornal da Tarde”, “Diário Gaúcho”, “Super Notícia” também venderam menos exemplares. O diretor editorial do Grupo Folha, Otavio Frias Filho, considera que os jornais de “interesse geral” (em oposição aos regionais e populares) perderam 12% de circulação no ano passado, segundo o “Valor”, editado por uma sociedade controlada pelos grupos “Folha” e “Globo”.

O impacto da internet é considerado outro fator para a queda da circulação. Leitores deixariam de comprar o jornal para lê-lo de graça na web. A ação dos “agregadores”, como Google e Yahoo!, também desencorajariam a compra de jornais. Outro fator seria a clipagem de matérias. Centenas de assinaturas deixaram de ser renovadas porque as empresas agora preferem receber um clipping eletrônico.

A própria estratégia dos jornais fez com que os gastos com vendas e promoção fossem reduzidos. “Na maior parte dos casos, a receita da circulação é insuficiente para cobrir os gastos com papel, impressão e distribuição”, diz a reportagem. Mas segundo Molina, o setor está otimista e aposta numa volta ao patamar anterior, ainda este ano.

Leia também:

Será o fim do jornal impresso? - parte 1
Será o fim do jornal impresso? - parte 2
Será o fim do jornal impresso? - parte 3
Será o fim do jornal impresso? - parte 4
Será o fim do jornal impresso? - parte 5

sexta-feira, março 19, 2010

Uísque

Sei que é sexta-feira quando viro,
vagarosamente, uma dose de uísque
olhando o fundo dourado e trêmulo do copo.

Pontualmente às 20h30.
Regularmente ao som de Miles.

terça-feira, março 16, 2010

Lesson 1 - O dia em que Tom entortou o jazz americano




-Yeah, 'cause the rhythm section does..
-(...) ........ahm... (...) You mean the rhythm section?...
DAP-DADAP-DADAPDA-DA-DAAAA-DAP -DADAPDA-DAP-DAP DAP!

-Eh, um... Yeah, like, I play it backwards because bla...
-DAP-DADAP-DADAPDA-DA-DAAAA-DAP-DADAPDA-DAP-DAP DAP!





segunda-feira, março 15, 2010

Mostra Jacques Rivette

Palácio das Artes

O Cine Humberto Mauro apresenta, entre 15 e 28 de março, mostra pioneira de um dos principais diretores da nouvelle vague francesa, Jacques Rivette. Considerado ao lado de Jean-Luc Godard como o mais experimental dos autores do movimento, a obra de Rivette permanece pouco conhecida pelo público brasileiro.

Influente crítico da revista Cahiers du Cinema, colocou em relevo em seus escritos e entrevistas as obras de diretores como Roberto Rossellini, Jean Renoir, Howard Hawks, Otto Preminger, entre outros. Ao lado de seus companheiros de revista renovou os ares do cinema francês trilhando novos caminhos ainda não explorados da linguagem cinematográfica.

Seus projetos são atravessados por experimentações narrativas e pela investigação da relação entre filme e ato de filmagem, assim como pela atenção a elementos que vão além da “tirania do roteiro”, co
mo a atmosfera, a relação com os espaços filmados e situações imprevisíveis. Outra questão premente no cinema de Rivette é a ideia do teatro como arte catalisadora da ambigüidade entre ilusão e realidade, arte/vida e enredo/improviso.


Este blog já comentou filmes e filmografia dos diretores franceses Eric Rohmer, em A morte do diretor das Palavras; Louis Malle, sobre a trilha sonora de Um ascensor para o Cadafalso; Alain Resnais, em Borges vai ao cinema; e sobre o diretor da cinemateca francesa, Henry Langlois, mentor da geração, em Menos Bandit, mais Langlois.
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O novo encontro de João com a música. E do mundo com João


O recluso João Gilberto, aos 78, gravará novas versões para Insensatez (de Tom e Vinícius) e Louco (Wilson Batista/ Henrique de Almeida), além de um tema inédito de sua autoria. Compositor eventual, João compôs ao menos 12 canções ao longo de 61 anos de carreira. As informações são da Ilustrada, na Folha de S. Paulo de hoje. (Matéria "João Gilberto grava novas canções").

As três músicas farão parte da trilha sonora de O Gerente, novo filme do também veterano Paulo César Saraceni que, desde suas duas obras essenciais do Cinema Novo (Porto das Caixas, 1962, e O Desafio, de 1965), não tem produzido nada de relevante. Sua assiduidade atrás das câmeras, aliás, não tem sido melhor que de João ao microfone – em 20 anos, lançou apenas quatro filmes, todos sem expressão.

Os dois se conhecem desde a década de 1980, quando o diretor começou, em parceria com Leon Hirszman, as gravações de Bahia de Todos os Santos. O documentário mostra espetáculos ao ar livre de músicos baianos em Roma, em 1983. Estiveram lá Caymmi, Caetano, Tom Zé, Moraes Moreira, Gil e o próprio João. As músicas que serão regravadas esse ano são duas das quatro que João apresenta no filme. Estate, dos italianos Martino e Brighetti, e Wave, de Tom, foram as outras duas.

A admiração de João Gilberto pelo poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) pode ter contribuído para que ele decidisse participar do projeto de Saraceni. Em Chega de Saudade, Ruy Castro narra o episódio em que João, ainda desconhecido, ao avistar Drummond no centro do Rio, abordou-o, chamou-o de mestre e pediu um autógrafo.

João Compositor

A música inédita já começou a ser esboçada por João no apartamento em que vive no Leblon. A canção será instrumental, possivelmente cantarolada. Apenas ele e o violão, como nos registros de algumas de suas poucas músicas autorais. Para que João as grave, foi montado um estúdio onde mora, com alguns equipamentos trazidos dos EUA.

Das composições de João, as mais famosas são Oba-La-La e Bim-Bom, lançadas nos anos 1950.

Saiba Mais

Para saber mais de João Gilberto neste blog, experimente vê-lo interpretando Estate, em Roma, neste post aqui. Também foi citado no post sobre as façanhas de Dick Farney e sobre o Sinatra-Farney Club. Mais post de Bossa Nova, aqui. Já o parceiro de Saraceni em Bahia de Todos os Santos, o diretor Leon Hirszman, recebeu comentário sobre sua cine-biografia, Deixa que eu Falo, lançada em 2008. Mais sobre Cinema Novo, aqui.

sábado, março 13, 2010

terça-feira, março 09, 2010

A revisão de guardas envelhecidas

João Marcos Veiga

A música popular brasileira, apesar da riqueza e diversidade produzidas no último século, ainda não cumpriu um processo completo e satisfatório de digestão de suas influências, pilares e pedras fundamentais. Passados mais de cinquenta anos, a Bossa Nova continua suspeita de ser um desdobramento do jazz americano; ainda não se sabe ao certo – ou não se quer saber – qual foi a real contribuição da Tropicália para a cultura do país, e seu principal representante, Caetano Veloso, é visto como um poço de contradição, pra não dizer incompreensão; o rock dos anos 80 leva o selo de um som comercial, superficial e sem muitas novidades.

Outro movimento que paira indefinido nas mentes, ouvidos e corações de ouvintes, músicos e críticos é a Jovem Guarda. Os meninos que empunhavam longos cabelos, jaquetas, motos vermelhas e guitarras que levavam ao delírio o público feminino – ao passo que faziam moda entre os desprestigiados nessa briga – foram submetidos a contundentes críticas nas últimas décadas, principalmente quando comparados aos outros movimentos da época.


Independente de opiniões e posições, os clichês só colaboram para continuidade de um país que não sabe lidar com suas artes.

O mais recente trabalho do ex-titã Arnaldo Antunes, nesse sentido, colabora de forma importante para essa revisão. O título do álbum, “Iê Iê Iê”, está no inconsciente coletivo brasileiro e naturalmente remete a uma série de sonoridades e temáticas – para ficar apenas no âmbito da música. E é exatamente isso o que se encontro nas doze faixas do disco. Logo na capa, uma imagem que dialoga com a cultura pop e com o cinema e Hqs americanos sugere o que está por vir. Está ali o obrigatório timbre do órgão Hammond, vocais simples e batidas dançantes, letras fáceis e meladas, guitarras coloridas e rompantes perfeitos para a histeria dos anos 60.


A proposta não é o que pode se dizer de uma releitura, como a feita por Fernanda Takai, com tutoria de Nelson Mota, sob as interpretações bossa-novísticas de Nara Leão. Nessa empreitada, Arnaldo Antunes incorporou o espírito da Jovem Guarda em todos sentidos, ecoando a aura de Roberto, Erasmo e companhia a cada faixa. Em “Invejoso”, vem a mente as rixas de casais, o ronco dos carros (ou calhambeques) e os objetos materiais (como casacos de couro), que valiam tanto quanto harmonias e melodias.

Na canção de mesmo nome do álbum, o tema é o sucesso, as rádios, a superação e seus frutos – no caso as mulheres conquistadas. “Sua Menina” apela para a consciência de que nem toda mulher gosta de um homem cafajeste.
De forma curiosa, “Iê Iê Iê”, que apresenta uma homenagem de um roqueiro dos anos 80 ao movimento que marcou a década de 60, antecipa o “Rock” do Tremendão. Esse também é o nome de um disco de John Lennon, influência central da Jovem Guarda.

Ao lado de Arnaldo, aparece uma série de colegas tribalistas (Marisa Monte e Carlinhos Brown) e titãs (Sérgio Britto, Marcelo Fromer e Paulo Miklos). Todos eles, provavelmente, também sofreram uma enxurrada de Rita Pavone, Beatles, surf music, twist e programas de auditório quando crianças e adolescentes. A novidade ficou por conta da produção de Fernando Catatau, da emergente banda cearense “Cidadão Instigado”.


Depois de um disco de estúdio, “Qualquer”, e um DVD com registro ao vivo, ambos com pegada mais leve e intimista, Arnaldo se disse em busca de uma “sonoridade mais dançante”. E como ele mesmo conta, ao contrário de seus outros trabalhos, neste o título nasceu antes. De forma deliberada, nada apareceu por acaso: “Iê Iê Iê” foi planejado e executado, sem dúvida com qualidade.

O álbum não traz surpresas musicais – transparece, de forma honesta, um tom de homenagem declarada. Isso não pode ser visto, no entanto, de forma simplista quando se trata de Arnaldo Antunes. No vácuo da falta de referências intelectuais da década de setenta pra cá, ele se posicionou como um artista versátil, transitando do rock enérgico dos Titãs dos anos 80 ao experimentalismo em vídeo e poesia dos anos 90, passando pelo suspeito “Tribalistas” e por letras e versos que resgatam o concretismo dos anos 60.


Quase de forma imperceptível, Arnaldo imprime um tom próprio em faixas como “Envelhecer.” Apesar do ritmo alegre, a letra, que fala da perda de cabelo e do tempo que cruelmente não espera, faz um contraponto à jovialidade a flor da pele da Jovem Guarda. Aqui se estabelece um diálogo criativo entre temáticas e sonoridades. Em “Um Kilo”, os temas cotidianos e triviais do movimento em questão são incorporados pelo olhar poético de Arnaldo, num jogo de palavras onde o rei não se sentiria muito em casa.

“Iê Iê Iê” aparece como um bom trabalho num momento de releituras, homenagens e muita falta de criatividade. Emerge a figura de um artista que não tem medo de expor suas influências e de alternar discos “sérios” com outros “comerciais e dançantes”, porém sempre amparado por bons instrumentistas e por uma produção competente.

O álbum, contudo, passa longe de ser algo ousado e que mereceria estar num patamar louvável dentro da música brasileira – talvez até pela impossibilidade de trabalhar um estilo restrito, previsível e empobrecido estética, melódica e harmonicamente. Fica a homenagem de um bom artista a um movimento que marcou uma geração. Nada mais.