terça-feira, maio 19, 2009

Borges vai ao cinema


Antes de dirigir os dois filmes que o colocaram na linha de frente da Nouvelle Vague – Hiroshima, meu amor, 1959, e Ano Passado em Marienbad, 1961 –, Alain Resnais se dedicou à documentação em curta-metragem. Os cinco principais, reunidos na Mostra dedicada à sua carreira, no Cine Humberto Mauro, já bastariam para coroá-lo como um dos mais inventivos e contestadores estéticos do cinema, afirmação endossada por André Bazin, que cita Gérnica (1950) em sua obra “Pintura e cinema”.

Nos três primeiros anos da década de 1950, Resnais se dedicou à bela obra anti-racista e anti-colonialista “As estátuas também morrem” (1953), sobre as artes negras e, dois anos mais tarde, atinge a maturidade em Noite e Nevoeiro (1955), que caminha pelos campos de concentração nazistas. Os travellings do diretor nos faz passear pelos pavilhões abandonados, sob o céu rosa de outono, mescladas às cenas de arquivo monstruosas, do regime hitleriano, para Ahmadinejad nenhum duvidar.

Na década anterior, na Argentina, Jorge Luis Borges, passava seus dias entre a Biblioteca Nacional, na qual seria bibliotecário nos anos seguintes, e as famosas leiterias, tradicionais na Buenos Aires da primeira metade do século – a única que Borges recorda, uma vez que perdeu a visão prograssivamente, deficiência que o obrigou a dedicar-se unicamente aos poemas.


Apreciando as infinitas estantes, com inúmeras prateleiras e incontáveis obras de Stevenson, Quevedo, Ibsen e várias edições de Dom Quixote e As Mil e uma Noites – alguns de seus autores e obras preferidos –, Borges imaginou a Biblioteca de Babel (Ficciones, Mar del Plate, 1941), um universo com galerias em formato hexagonal, talvez sem fim. “A Biblioteca é uma esfera, cujo centro cabal é qualquer hexagono, cujo a circunferência é inacessível”.


Em minha curta experiência cinematográfica – ainda menor literária –, sempre imaginei como a grandiosidade e a imaginação criativa e visionária de Borges poderia ser traduzida para o cinema. Seria mais cabível em uma ficção, mas fui encontrá-lo, na primeira poltrona do cinema, no documentário Toda a memória do mundo, dirigido por Resnais, 1956, sobre a rotina de classificação e preservação dos livros na Biblioteca Nacional de Paris. E nada mais borgeano, que o prefácio preparado para a exibição: “De corredor em corredor, de livro em livro, desdobra-se o labirinto”.

Como na obra Borges, as artes também se bifurcam.

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quinta-feira, maio 14, 2009

Ciclo Alain Resnais - Programação


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sexta-feira, maio 08, 2009

Assessoria...

O artigo "100 dias em 10 capas", uma leitura dos primeiros 100 dias do governo Obama a partir de 10 capas de três revistas americanas, publicado mês passado no Moviola, está na capa do respeitado site Observatório da Imprensa desta semana. Para conferir, clique aqui. O artigo também foi publicado no site do jornalista Leo Quintino, neste link aqui. E no Jornal dos Lagos, de Alfenas, bem aqui.

quinta-feira, maio 07, 2009

Afinal, o que é MPB?


Está na coluna de Ruy Castro, na Folha de São Paulo de 27/04/2009:

MPB não é apenas uma abreviatura de “Música Popular Brasileira”. Antes cêsse, mas não ésse. Quando foi criada, por volta de 1965 ou 1966, significava um tipo de música então emergente, que não se sabia bem o que era – mas já não era bossa nova, não queria mais ser o samba e, muito menos, iê-iê-iê.

Seu primeiro produto, ainda sem o rótulo, pode ter sido ‘Arrastão’, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Logo vieram ‘Lunik 9’, de Gilberto Gil, ‘Upa, neguinho’, de Edu e Guarnieri, ‘Roda Viva’, de Chico Buarque, e outras que, com um certo ‘conteúdo’ em comum, também não se encaixavam em nenhum gênero familiar. Donde só podiam ser ‘MPB’.

Quando a ‘MPB’ minguou, dois ou três anos depois, a sigla sobreviveu e começou a ser aplicada – até hoje – a toda música produzida no Brasil, do padre José Mauricio ao padre Marcelo e de Chiquinha Gonzaga ao É o Tchan. Com isso, deseducaram-se várias gerações quanto à memória da nossa diversidade rítmica, até então classificada por sambas (em suas mil variações), marchas, choros, baiões, frevos, valsas, foxes, baladas, cocos etc. Virou tudo ‘MPB’.

Mas não para sempre, espero. Se o exemplo do MIS vingar, vamos passar a chamar ‘Garota de Ipanema’ de samba, ‘Alegria, Alegria’, de marchinha, ‘Domingo no Parque’, de baião, ‘Travessia’, de toada, ‘Caminhando’, de guarânia, ‘Mania de Você’, de rumba, ‘Beatriz’, de valsa, ou ‘Como uma Onda’, de bolero. Que, muito mais que ‘MPB’, é o que eles são.

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+ Música brasileira neste blog:
As façanhas de Farnésio
Se Deus tivesse uma voz...


terça-feira, maio 05, 2009

Documentário brasileiro do Século XXI


O Cine Humberto Mauro, do Palácio das Artes (BH), apresenta, entre 4 e 12 de maio, a mostra Documentários de Busca. Foram escolhidos quatro documentários que marcaram o amadurecimento no Brasil, no início do século XXI, de uma forte tendência do documentarismo mundial, onde o universo pessoal do realizador assume papel de destaque.

Os filmes: Um Passaporte Húngaro, de Sandra Kogut, registra os processos burocráticos para conquista de um passaporte da mesma nacionalidade de seus avós. Em 33, nos tornamos detetives junto ao realizador Kiko Goiffman, na busca de encontrar sua mãe biológica, que dura exatos trinta e três dias. Já em Edifício Master e O Prisioneiro da Grade de Ferro, o olhar se desloca, a motivação da busca está no outro. Enquanto no primeiro os moradores da famosa residência carioca estão em foco, o segundo revela uma rotina incessante, conformando uma imagem múltipla do presídio, construída pelos próprios detentos.

Está no Estado de Minas de ontem, 04/05/2009:


A TRADIÇÃO CINEMATOGRÁFICA apresenta documentário e ficção como compartimentos estanques – o primeiro comprometido com o registro do real, a última voltada para a criação de uma nova realidade ou, no máximo, a reconstituição de uma realidade que deixou de existir. Os pesquisadores de cinema, contudo, afirmam que a distinção entre as duas categorias é mais nebulosa do que gostaríamos: todo documentário conteria algum elemento ficcional (mesmo que apenas o fato de que não registra seu objeto, mas o objeto que seu diretor pretende contar ou narrar), enquanto qualquer obra de ficção conteria, em si, algum registro documental (mesmo que apenas o fato de que certas pessoas, em certos momentos, executaram certas ações que resultaram objetivamente naquele filme). A mostra Documentários de busca, que será apresentada no Cine Humberto Mauro (Palácio das Artes) até dia 12, reúne quatro filmes brasileiros que se destacam por testar aquela fronteira.

Duas obras começam a ser exibidas a partir desta segunda-feira: Um passaporte húngaro, de Sandra Kogut (17h30), e 33, de Kiko Goifman (21h). Amanhã, entram em cartaz, também, Edifício Master, de Eduardo Coutinho, e O prisioneiro da grade de ferro, de Paulo Sacramento. Os quatro filmes se alternam na programação ao longo de toda a mostra, o que permite aos espectadores confrontá-los e tentar descobrir por que o Brasil tem sido tão pródigo na produção de obras que levantam aquele questionamento. Parte da explicação está, possivelmente, na exuberância atual do conjunto da produção documentária brasileira, que se destaca não apenas pela diversidade dos objetos que investiga, mas também pela experimentação de novas formas de investigação.

Dos quatro filmes, 33 é o mais radical. O diretor detesta quando alguém menciona o fato de que seu documentário tem afinidade conceitual com reality shows como Big brother Brasil, por registrar uma realidade que foi produzida especialmente para ser documentada. Mas a percepção de tal afinidade é verdadeira, e a qualidade de 33 vem exatamente do fato de que ele concentra, expõe e radicaliza aquilo que os reality shows diluem, disfarçam e suavizam.

Kiko Goifman, adotado na primeira infância, parte em busca de sua mãe biológica, e 33 é o registro dessa busca (o título do filme remete ao número de dias que ele se concedeu para cumprir a tarefa ou desistir dela). Se essa busca é fato do mundo “real” (e, portanto, objeto passível de ser registrado documentalmente), constitui, também, algo próximo da ficção, no sentido de que foi produzido exatamente para que o filme pudesse ser realizado. (Marcelo Castilho Avellar)

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+ Sobre documentários neste blog:
Edifício Master – a solidão no meio da metrópole
Waldick – Durango Kid à brasileira
Leon Hirzsman – Deixa que eu falo
Estamira – O olhar que tudo pode ver e tudo pode revelar

+ da Mostra
Baixe a programação em .pdf

sábado, maio 02, 2009

Propaganda – Ads of the world


Passei quase três horas especulando as propagandas do Ads of the world – o tempo poderia ter sido menor não fosse a demora para carregar o site. A página, que me foi apresentada pela minha namorada, Mari, é um convite aos estudantes de Publicidade (que não é o meu caso e, sim, o dela!) e aos interessados por boas iéias.

No meio de tantas imagens – algumas com boas pitadas de plágio – é possível achar propagandas legais, como a série "Second One", do Terra News, que ilustra o post. Apesar da enxurrada de imagens tratadas no photoshop com frases de efeito no cabeçalho, vale a pena garimpar o site.