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terça-feira, maio 18, 2010

Uma pergunta para Ruy Castro


14h17. Abre a porta automática do estacionamento do Expominas, maior centro de convenções de Belo Horizonte, com impressionantes 72 mil m² de área construída. Apressado, o escritor Ruy Castro cruza acompanhado de uma assistente de organização os mais de 100 metros que o separa do Café Literário, espaço para 150 pessoas, devidamente decorado e ar condicionado de bater queixo, palco das principais palestras e debates da Bienal do Livro de Minas 2010.

“Ruy, posso lhe fazer uma pergunta?”, disparei despretensioso ao encontrá-lo a passos largos no hall de entrada. Antes que me respondesse, ou ao menos fizesse um aceno, três organizadores o cercaram, me encararam batendo o dedo indicador no relógio, alertando que o jornalista Paulo Markun, que dividiria o sofá com ele, e mais de 100 pessoas já o aguardavam no café, para um bate-papo sobre biografias – especialidade dos dois.

Munido de um bloco de papel e uma edição de “Um filme é para sempre” - coletânea de textos sobre cinema do jornalista, publicados ao longo de três décadas na grande imprensa e organizados, em 2006, por sua esposa, Heloísa Seixas -, o acompanhei à distância, peguei uma das 150 fichas que me dava acesso ao café e, atentamente, tomei nota de alguns trechos, que postarei depois.

Pouco mais de 1h15 depois, findado o arsenal de perguntas enfadonhas do público, daquelas que o entrevistador sabe a resposta, mas faz questão exibir seus conhecimentos, dotes e títulos, consegui, finalmente, fazer minha pergunta.

- Ruy, você levaria o Adriano pra Copa?

(risadas)

- Levaria o Vagner Love ...

domingo, maio 16, 2010

Folha de S. Paulo: +mais! ( 16/02/1992 - 16/05/2010)


O Mais! deixa de circular, legando exemplos de liberdade e atualidade na abordagem de temas culturais

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

Quando o Mais! foi lançado, em 16 de fevereiro de 1992, uma das brincadeiras que mais ouvi, dentro e fora da Redação, indagava: "O caderno chama-se Mais! ou chama-se "Menos'?".
A reclamação, a princípio, fazia sentido.

O veículo foi criado para reunir num só lugar dois produtos bem-sucedidos do jornal: "Ciência" e "Letras". Também agregava assuntos da Ilustrada, que deixou de circular aos domingos, e uma seção que existia em Mundo, chamada "Multimídia Especial".

A criação do número 1, sob o comando de seu talentoso primeiro editor, Marcos Augusto Gonçalves, foi uma aventura que dificilmente esquecerei. Como fazer caber em suas 18 páginas parte do conteúdo habitual de todos aqueles cadernos suprimidos, mas sobretudo realizar uma "renovação do jornalismo cultural brasileiro", como o Mais! fora anunciado nas páginas do jornal?

Em oposição ao espírito acadêmico e literário que predominava nos cadernos culturais semanais da época, este foi erguido sobre o seguinte tripé: mais jornalismo, mais atenção aos temas atuais e mais intervenção polêmica no debate sociocultural (e mesmo político) brasileiro.

Na conta do jornalismo, praticamente todos os principais repórteres do jornal escreveram matérias de envergadura para o Mais!. O empenho dos editores Adriano Schwartz e Marcos Flamínio Peres fez adensar essa estratégia, que culminou nos anos recentes nas premiadas reportagens de Mário Magalhães e Joel Silva ("Os anti-heróis - O submundo da cana", 24/8/2008) e Raphael Gomide ("O Infiltrado -PM por dentro", 18/5/2008).

O caderno também cuidou de levar para o jornalismo cultural sofisticado os princípios que norteiam o "Manual da Redação" da Folha, inclusive no que diz respeito aos modelos de edição do jornal, com uso intensivo de recursos didáticos, mapas, gráficos e estatísticas.

Futurismo

A preocupação com trazer temas atuais à pauta, por sua vez, foi um modo de evitar a tendência ao passadismo e à museificação, que continuam sendo verdadeiras pragas do jornalismo cultural. Com isso, o semanário abriu-se a assuntos muito variados e heterodoxos, às vezes futuristas.
Foi o primeiro espaço da grande imprensa a levar a sério a internet, quando a web ainda era apenas uma fantasia (17/7/ 1994, em reportagem visionária de Maria Ercilia). Abro a edição de 9/4/2000, e vejo que o assunto de capa ("O livro morreu! Viva o e-livro!") traz uma reportagem minuciosa sobre as experiências com livros eletrônicos -dez anos antes do Kindle e do iPad.

Deixar o caderno bem próximo da atualidade exigia um trabalho imenso. Para começar, era fundamental ao editor e à equipe ter um sentimento acentuado de pertencimento à sua época. Precisávamos também ser tremendamente ágeis, porque não interessava ao Mais! a atualidade abstrata, mas o que havia acontecido na última semana. Recordo que, inúmeras vezes, edições já prontas foram substituídas por outras, na última hora, para trazer à capa um assunto mais quente e mais relevante no momento vivido pelo leitor.

Com isso, a partir de exemplos concretos e no calor dos acontecimentos, os principais debates do final do século 20 e do início do século 21 foram abordados: o fim do comunismo, a crise da esquerda, a globalização, o multiculturalismo, as políticas afirmativas, o colapso da psicanálise, a neurociência, a bioética, a entrada na era digital, o terrorismo e a política securitária pós-11 de Setembro, o neoconservadorismo etc. etc.

A ambição de intervir no debate sociocultural e político brasileiro também excitava muito os que participavam do caderno. Um dos "momentos culminantes" desse esforço jornalístico foi o debate desencadeado pelo economista José Luis Fiori, em reportagem de Fernando de Barros e Silva (de 3/7/1994), sobre a influência das diretrizes neoliberais do Consenso de Washington no plano de governo do então candidato presidencial Fernando Henrique Cardoso. Foi uma gigantesca polêmica, e o próprio FHC interrompeu a campanha para redigir uma longa réplica à reportagem.

Liberdade

À parte o tripé que associava jornalismo, atualidade e intervenção, o Mais! tinha outra base editorial, nos bastidores: mais irreverência, mais reflexão e mais liberdade. Das irreverências, dou apenas um exemplo (há vários).

Dezenas de pessoas cancelaram sua assinatura do jornal no dia seguinte à publicação de uma antologia de poemas dedicados à vagina. Para piorar, a edição (20/7/ 1997) estampava na capa o quadro "A Origem do Mundo", de Courbet -o "close" pictórico de uma genitália-, numa disposição gráfica arrojada e elegante, criada por Renata Buono, a designer que sempre esteve por trás da excelência visual do caderno.

Outra atitude foi a de nunca considerar o leitor um néscio e sempre acreditar que ele se interessa pelas reflexões mais complexas e mais ousadas. A editoria evitou a todo custo cair no anti-intelectualismo ou na aversão às "vanguardas" das artes e do pensamento -ressentimentos que atingem com frequência o meio jornalístico.

Assim, abriu-se à colaboração inestimável de um numeroso elenco de professores, intelectuais, escritores, dramaturgos, cineastas e artistas plásticos, entre outros profissionais, do Brasil e do exterior, dos mais diferentes matizes políticos e das mais diversas correntes culturais. Sem eles, teria sido apenas um caderno cultural qualquer.

Foi a tradição editorial da Folha de um jornalismo polifônico, aberto e tolerante -tradição erguida na luta contra a ditadura militar- que inspirou e alimentou essa dinâmica colaborativa, multidisciplinar e calcada na liberdade de pensamento.

É esta mesma liberdade, creio, o principal legado do Mais! ao novo e ilustríssimo caderno que o substituirá, a partir do próximo domingo.

sexta-feira, novembro 20, 2009

"Em Nova York todo mundo fala Bírous"

Acabo de ler "O Som do Pasquim", uma deliciosa compilação de entrevistas com músicos publicadas n'O Pasquim, revista que reuniu o melhor time da história do jornalismo cultural brasileiro. Certamente, o ponto alto da coletânea, organizada pelo Tárik de Souza, é a entrevista de Agnaldo Timóteo, concedida aos jornalistas Júlio Hungria, Jaguar, Millôr e ao conterrâneo de Caratinga, Ziraldo.

Nada escapa à lingua afiada do cantor. Chico Buarque: uma merda. Caetano: não é cantor. Frank Sinatra: um cantor de voz bonita, comum, sem nada de excepcional. Milton Nascimento: burro. Roberto Carlos: inteligente, ganha 300 pratas por mês. Bírous: ...peraí...Bírous??

Ele explica:

"Todo mundo fala The Beatles. E quando estive lá em NY, um amigo meu disse que 'Bírous é demais'. Então eu perguntei: 'por que Bírous'. Ele me explicou. 'Aqui em Nova York todo mundo fala Bírous".

Tudo bem, explicado. Além de Timóteo, também estão no livro: Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso ("um gênio, espanto, e não podemos fazer nada", segundo Glauber), Waldick Soriano, Raul Seixas, Lupicínio Rodrigues e mais alguns. É de dar gargalhada. Recomendo.

*Os cartoons que ilustram o post e o livro são do Nássara (.n).

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Nesta moviola, a MPB foi explicada neste artigo. Waldick, o Durango Kid brasileiro, que ganhou documentário ano passado, mereceu um artigo só pra ele. Chico, de tantas paixões, sobrou nas quatro linhas. Do Milton, tem praticamente uma coletânea de textos. Jornalismo Cultural, então, nem se fala.

domingo, setembro 13, 2009

Ruy Castro: O Leitor Apaixonado


Está no Digestivo Cultural desta semana:



Embora tenha se consagrado através de suas biografias, e de seus textos sobre música popular e cinema, Ruy Castro, em seu novo livro, revela uma ligação profunda com a literatura. O Leitor Apaixonado, na sequência de Um filme é para sempre (2006, cinema) e Tempestade de Ritmos (2007, música), é uma compilação também de Heloisa Seixas, pela Companhia das Letras, reunindo matérias de Ruy sobre livros, escritores e o universo literário.


Desde os primeiros contatos na infância, com uma edição de Alice no País das Maravilhas, traduzida por Monteiro Lobato, até o début do jornalista Ruy Castro, cobrindo a posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras, em 1967 (com foto). Ruy aproveita e revisita temas aos quais está, historicamente, associado: Nélson Rodrigues, com quem conviveu (além de ter biografado); Paulo Francis, de quem foi amigo (e que mudou sua vida, com uma promoção); e o Correio da Manhã, que era lido por seu pai e seu avô (e que, em sua redação, abrigou a fina flor da literatura brasileira).

O jornalismo ainda se faz presente graças outras publicações, como New Yorker e Esquire; assim como a influência dos EUA na cultura do século XX, através de autores como Gertrude Stein e de grupos como o do Algonquin. O apego à cultura do Rio de Janeiro igualmente se reflete em O Leitor Apaixonado, mas a surpresa fica por conta de artigos de Ruy dedicados Oswald e Mário de Andrade. Outra surpresa é um texto sobre Paulo Coelho – o best-seller inevitável.

Já do século XIX, Ruy Castro puxa Oscar Wilde, escritor celebridade pré-1900, e da relembrada crise de 1929, resgata Nathanael West, outra consagração literária póstuma. Na capa, para completar, uma foto da biblioteca de Ruy, sugerindo um lugar onde passou longas horas entre livros e escritores (daí o subtítulo “Prazeres à luz do abajur”). Enfim, por mais que Ruy Castro tenha sido comumente associado a outras artes, nunca restou dúvida de que seu estilo tinha uma origem inescapável: o amor à literatura.

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+ Ruy Castro neste blog:

Vídeo - Ruy Castro debate 50 anos da Ilustrada

Artigo - 50 Anos sem Billie Holliday
Artigo - Afinal, o que é MPB

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sexta-feira, dezembro 12, 2008

Supermercado de produtos culturais


Dizem por aí que já não se faz jornalismo cultural como antigamente, com textos extensos, críticas mordazes e perfis minuciosos e densos. Aliás, falam por todos os cantos que tudo que é bom está morrendo: o futebol arte, o cinema como arte, a arte.

Encontram fundamentos para julgar os cadernos de cultura atuais, os críticos que destacam que essas páginas tem se transformado em um aglomerado de textos de serviços. Talvez isso seja reflexo da própria cultura: se vende um espetáculo, um filme. Lógica do consumo. Lobão – que está longe de ser um grande ídolo meu –, já esbravejou uma frase sintomática: 'A arte se torna arte ao ser consumida'.

A Folha está comemorando os 50 anos do caderno Ilustrada. Uma série de debates sobre o passado e o futuro da cultura e do jornalismo ocorre no MASP, em São Paulo, que pode ser acompanhado na íntegra no Folha Online.

Aos fãs das rodas de boa conversa, abaixo está o vídeo integral da discussão sobre "Cultura e Jornalismo" – o último de três debates. Estão presentes, Ruy Castro e Martinas Suzuki. Vale a pena.





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+ jornalismo cultural no blog:
A arte dos obituários
+ jornalismo cultural na rede:
Ilustrada – Especial 50 anos
Gonzo – O filho bastardo do newjournalism
+ download:
Baixe o livro Jornalismo Cultural (Fábio Gomes)

sábado, agosto 23, 2008

Morreu anteontem, aos 90 anos, de AVC. Deixa três filhos e um neto

Aprendi – há pouco tempo, não por curiosidade, mas por indicação –, que são nas páginas dos obituários que ainda sobrevivem os bons textos do jornalismo impresso. Não por morbidez, mas por essa sessão abrigar lições diárias de como ilustres desconhecidos podem ilustrar conhecidas histórias. A tradição não é muito utilizada por aqui (poucos jornais destinam repórteres aos obituários) devido a cultura íbero-americana de relacionar a morte à dor e silêncio, mas, em países de origem anglo-saxã, que costumam celebrar a passagem dessa para melhor, é quase obrigatório prestigiar uma boa morte no café da manhã.

Uma das sessões mais prestigiadas do The New York Times, o obituário é considerado, hoje, o último refúgio do jornalismo literário, que teve origem por lá, na década de 1960. Inclusive, grandes nomes do New Journalism se dedicaram ao mórbido ofício, como Gay Talese. Robert McG e Alden Whitman – considerado o pai do obituário moderno, “o homem que deu vida ao obituário” – são dos mais conhecidos redatores da célebre sessão do jornal mais lido do mundo.

E engana-se quem pensa que o obituário está morrendo. O NYT inovou na sessão, dada por muitos como ultrapassada e fadada ao falecimento. O “The Last Word”, no site do jornal, possibilita ao sujeito gravar seu obituário em vídeo. O primeiro foi o humorista Art Buchwald, que escreveu no próprio jornal, no Herald Tribune e em mais uma gama de periódicos.

No Brasil, “O Livro das Vidas” – Matinas Suzuki Jr. (org.), Denise Bottmann (trad.), 312 pg., Companhia das Letras, São Paulo, 2008; R$ 48 – é uma boa oportunidade de conferir a compilação dos melhores obituários escritos para o NYT, nas últimas décadas. "A seção de obituários do Times é uma cerimônia de adeus diária de bom jornalismo e uma das campeãs de leitura do jornal mais influente do mundo. Há quem pense que a valorização do obituário pela imprensa de língua inglesa seja um ritual de morbidez, mas isso é uma falsa impressão", escreve Suzuki, no posfácio da edição.

+ Sobre:

Veja o “The Last Word”, de Art Buchward

Entrevista com Matinas Suzuki, organizador d' "O livro das Vidas"

Fique por dentro

Entre os jornais brasileiros, a Folha de S. Paulo reserva preciosas linhas diárias às memórias de almas desconhecidas. Os textos ficam no caderno Cotidiano, assinadas pelo repórter Willian Vieira. Assinantes da Folha ou do Uol podem acompanhar a sessão na versão on-line. A Revista piauí – sessão "Despedida" – e o Globo também dispensam atenções às mortes fresquinhas.