quinta-feira, maio 20, 2010

Ah, sempre Borges.







"Sem leitura não se pode escrever. Tampouco

sem emoção, pois a literatura não é, certamente,
um jogo de palavras. É muito mais. Eu diria que a
literatura existe através da linguagem, ou melhor,
apesar da linguagem."

Jorge Luís Borges

terça-feira, maio 18, 2010

Uma pergunta para Ruy Castro


14h17. Abre a porta automática do estacionamento do Expominas, maior centro de convenções de Belo Horizonte, com impressionantes 72 mil m² de área construída. Apressado, o escritor Ruy Castro cruza acompanhado de uma assistente de organização os mais de 100 metros que o separa do Café Literário, espaço para 150 pessoas, devidamente decorado e ar condicionado de bater queixo, palco das principais palestras e debates da Bienal do Livro de Minas 2010.

“Ruy, posso lhe fazer uma pergunta?”, disparei despretensioso ao encontrá-lo a passos largos no hall de entrada. Antes que me respondesse, ou ao menos fizesse um aceno, três organizadores o cercaram, me encararam batendo o dedo indicador no relógio, alertando que o jornalista Paulo Markun, que dividiria o sofá com ele, e mais de 100 pessoas já o aguardavam no café, para um bate-papo sobre biografias – especialidade dos dois.

Munido de um bloco de papel e uma edição de “Um filme é para sempre” - coletânea de textos sobre cinema do jornalista, publicados ao longo de três décadas na grande imprensa e organizados, em 2006, por sua esposa, Heloísa Seixas -, o acompanhei à distância, peguei uma das 150 fichas que me dava acesso ao café e, atentamente, tomei nota de alguns trechos, que postarei depois.

Pouco mais de 1h15 depois, findado o arsenal de perguntas enfadonhas do público, daquelas que o entrevistador sabe a resposta, mas faz questão exibir seus conhecimentos, dotes e títulos, consegui, finalmente, fazer minha pergunta.

- Ruy, você levaria o Adriano pra Copa?

(risadas)

- Levaria o Vagner Love ...

domingo, maio 16, 2010

Folha de S. Paulo: +mais! ( 16/02/1992 - 16/05/2010)


O Mais! deixa de circular, legando exemplos de liberdade e atualidade na abordagem de temas culturais

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

Quando o Mais! foi lançado, em 16 de fevereiro de 1992, uma das brincadeiras que mais ouvi, dentro e fora da Redação, indagava: "O caderno chama-se Mais! ou chama-se "Menos'?".
A reclamação, a princípio, fazia sentido.

O veículo foi criado para reunir num só lugar dois produtos bem-sucedidos do jornal: "Ciência" e "Letras". Também agregava assuntos da Ilustrada, que deixou de circular aos domingos, e uma seção que existia em Mundo, chamada "Multimídia Especial".

A criação do número 1, sob o comando de seu talentoso primeiro editor, Marcos Augusto Gonçalves, foi uma aventura que dificilmente esquecerei. Como fazer caber em suas 18 páginas parte do conteúdo habitual de todos aqueles cadernos suprimidos, mas sobretudo realizar uma "renovação do jornalismo cultural brasileiro", como o Mais! fora anunciado nas páginas do jornal?

Em oposição ao espírito acadêmico e literário que predominava nos cadernos culturais semanais da época, este foi erguido sobre o seguinte tripé: mais jornalismo, mais atenção aos temas atuais e mais intervenção polêmica no debate sociocultural (e mesmo político) brasileiro.

Na conta do jornalismo, praticamente todos os principais repórteres do jornal escreveram matérias de envergadura para o Mais!. O empenho dos editores Adriano Schwartz e Marcos Flamínio Peres fez adensar essa estratégia, que culminou nos anos recentes nas premiadas reportagens de Mário Magalhães e Joel Silva ("Os anti-heróis - O submundo da cana", 24/8/2008) e Raphael Gomide ("O Infiltrado -PM por dentro", 18/5/2008).

O caderno também cuidou de levar para o jornalismo cultural sofisticado os princípios que norteiam o "Manual da Redação" da Folha, inclusive no que diz respeito aos modelos de edição do jornal, com uso intensivo de recursos didáticos, mapas, gráficos e estatísticas.

Futurismo

A preocupação com trazer temas atuais à pauta, por sua vez, foi um modo de evitar a tendência ao passadismo e à museificação, que continuam sendo verdadeiras pragas do jornalismo cultural. Com isso, o semanário abriu-se a assuntos muito variados e heterodoxos, às vezes futuristas.
Foi o primeiro espaço da grande imprensa a levar a sério a internet, quando a web ainda era apenas uma fantasia (17/7/ 1994, em reportagem visionária de Maria Ercilia). Abro a edição de 9/4/2000, e vejo que o assunto de capa ("O livro morreu! Viva o e-livro!") traz uma reportagem minuciosa sobre as experiências com livros eletrônicos -dez anos antes do Kindle e do iPad.

Deixar o caderno bem próximo da atualidade exigia um trabalho imenso. Para começar, era fundamental ao editor e à equipe ter um sentimento acentuado de pertencimento à sua época. Precisávamos também ser tremendamente ágeis, porque não interessava ao Mais! a atualidade abstrata, mas o que havia acontecido na última semana. Recordo que, inúmeras vezes, edições já prontas foram substituídas por outras, na última hora, para trazer à capa um assunto mais quente e mais relevante no momento vivido pelo leitor.

Com isso, a partir de exemplos concretos e no calor dos acontecimentos, os principais debates do final do século 20 e do início do século 21 foram abordados: o fim do comunismo, a crise da esquerda, a globalização, o multiculturalismo, as políticas afirmativas, o colapso da psicanálise, a neurociência, a bioética, a entrada na era digital, o terrorismo e a política securitária pós-11 de Setembro, o neoconservadorismo etc. etc.

A ambição de intervir no debate sociocultural e político brasileiro também excitava muito os que participavam do caderno. Um dos "momentos culminantes" desse esforço jornalístico foi o debate desencadeado pelo economista José Luis Fiori, em reportagem de Fernando de Barros e Silva (de 3/7/1994), sobre a influência das diretrizes neoliberais do Consenso de Washington no plano de governo do então candidato presidencial Fernando Henrique Cardoso. Foi uma gigantesca polêmica, e o próprio FHC interrompeu a campanha para redigir uma longa réplica à reportagem.

Liberdade

À parte o tripé que associava jornalismo, atualidade e intervenção, o Mais! tinha outra base editorial, nos bastidores: mais irreverência, mais reflexão e mais liberdade. Das irreverências, dou apenas um exemplo (há vários).

Dezenas de pessoas cancelaram sua assinatura do jornal no dia seguinte à publicação de uma antologia de poemas dedicados à vagina. Para piorar, a edição (20/7/ 1997) estampava na capa o quadro "A Origem do Mundo", de Courbet -o "close" pictórico de uma genitália-, numa disposição gráfica arrojada e elegante, criada por Renata Buono, a designer que sempre esteve por trás da excelência visual do caderno.

Outra atitude foi a de nunca considerar o leitor um néscio e sempre acreditar que ele se interessa pelas reflexões mais complexas e mais ousadas. A editoria evitou a todo custo cair no anti-intelectualismo ou na aversão às "vanguardas" das artes e do pensamento -ressentimentos que atingem com frequência o meio jornalístico.

Assim, abriu-se à colaboração inestimável de um numeroso elenco de professores, intelectuais, escritores, dramaturgos, cineastas e artistas plásticos, entre outros profissionais, do Brasil e do exterior, dos mais diferentes matizes políticos e das mais diversas correntes culturais. Sem eles, teria sido apenas um caderno cultural qualquer.

Foi a tradição editorial da Folha de um jornalismo polifônico, aberto e tolerante -tradição erguida na luta contra a ditadura militar- que inspirou e alimentou essa dinâmica colaborativa, multidisciplinar e calcada na liberdade de pensamento.

É esta mesma liberdade, creio, o principal legado do Mais! ao novo e ilustríssimo caderno que o substituirá, a partir do próximo domingo.

quinta-feira, maio 06, 2010

Messi e Neymar – Acordes de um futebol subversivo


Lionel Messi está para o Tango Nuevo de Astor Piazzolla, assim como Neymar para o samba da velha guarda. O brilhantismo dos dois maiores jogadores de futebol do mundo na atualidade – posso me equivocar em atribuir tal prestígio ao premiado argentino -, subverte alguns conceitos que teimam em se arrraigar no chão de seus países. Enquanto a era Dunga suplanta os acordes alegres do samba de morro, com um jogo mais quadrado que bicordes de heavy metal, Lionel tenta bailar leve e sutilmente sobre as milongas tristes e chorosas dos argentinos.

O futebol de Neymar é curto e certeiro igual samba de Noel, fino que nem composição de Ismael Silva na voz de Francisco Alves, cheio de virtuose à Pixinguinha e malandro do tipo Cartola. É completo e já nasceu pronto, prato cheio para saudosistas que clamam por mais Canhoteiros, Zizinhos e Pelés, num país que não para de produzir volantes – ou transformar armadores em marcadores.

Já Lionel Messi, embora a derrota do Barcelona para o Bayern de Munique na Liga mereça trilha de Corsini ou Magaldi, se espalha pelos gramados do Camp Nou como os dedos de Piazzolla percorrem as teclas do bandoneón. Feito tarântula. Jovem, Messi tem a dura missão de dar brilho e brio ao cada vez mais acinzentado futebol argentino, ainda salvo por Sérgio Aguero, Higaín e o pouco notado Ricardo Noir, escondido no Boca Juniors.

No Brasil, o Santos bagunçou o esquema, assim como João Gilberto leu a cartilha do samba para nos presentear com a Bossa Nova. Já marcou uma centena de gols em quatro meses, jogando com três jogadores no meio-campo com características de armadores e apenas um carregador de piano auxiliado pelos laterais. O esquema é novo? Pode ser, mas o compasso é de samba velho, para nossa alegre apreciação – e felicidade de não encará-los como adversários na Copa.

Ao contrário, esperamos encontrar os argentinos em solo sul-africano. Teremos, para tanto, que enfrentar Lionel Messi e Cia., eliminá-los e fazê-los desabar em lágrimas ao som de um tango interpretado por Carlos Gardel ou Rosita Quiroga. E mostrar aos argentinos que “Que veinte años no es nada”, como canta Gardel em Volver, para vingar o gol de Cannigia na Copa do Mundo, em 1990, na Itália.


*Charge do Neymar, reproduzida do Flickr do Fábio Nada




quarta-feira, maio 05, 2010




Desculpe a falta de atualização.
Em breve, série nova.