sábado, agosto 29, 2009

O Vaudeville de Madame Carling


A grata surpresa da noite de sexta-feira (28.08) do Jazz festival Brasil, em Belo Horizonte, foi a explosão contagiante da multi-instrumentista sueca Gunhild Carling, que tomou de assalto o público que lotou o Grande Teatro do Palácio das Artes para assistir outra apresentação - da banda Jazz 6, que tem o escritor Luis Fernando Veríssimo ao saxofone.

O rendez-vous causado por Carling não permitiu que nenhuma vivalma saísse do espatáculo sem um sorriso largo no rosto. A sueca cantou, sapateou e tocou de trombone à gaita-de-fole, culminando na exibição com três trumpetes ao mesmo tempo.

E o que espanta não é apenas o jeito "circense" de Carling se apresentar: sua capacidade em tirar dos instrumentos de sopro uma sonoridade jazzística sofisticada, sua voz arrastada e suave, prolongando as vogais tônicas, e a qualidade técnica de seus três acompanhantes (guitarra acústica, baixo e bateria) são apenas alguns dos motivos pelos quais o show da noite desta sexta foi um dos mais aclados da 7ª edição do Jazz Festival.


Abaixo, a apresentação de Gunhild Carling no Programa do Jô (28/08/09) e, no outro vídeo, um resumo de sua versatilidade:



sexta-feira, agosto 28, 2009

100 anos de Benny Goodman


A alcunha de “Rei do Swing” aplicada ao clarinetista Benny Goodman (1909-1986) pode ser contestada pelos críticos mais ortodoxos, mas suas façanhas não merecem nomenclatura menos majestosa. Embora precedido por músicos como Fletcher Henderson e Bix Beiderbecke, que já rascunhavam o swing (o gênero, não a troca de casais), ainda na década de 1920, coube a Benny transformar o estilo na mais bem sucedida época da história do jazz.

Caracterizado pelas big bands e pelas músicas menos complexas, rítmico e harmonicamente falando, do que o jazz moderno, o swing da década de 1930 é o único momento em que jazz e música popular americana viraram quase a mesma coisa.

Tal popularidade iniciou “por acaso” no fim de uma desastrosa turnê pelos Estados Unidos. À beira da desistência por causa da péssima receptividade ao estilo, Benny resolveu fazer suas últimas apresentações de clarinete erguido na Califórnia – mesmo que isso pudesse lhe render uma chuva de vaias e de copos de cerveja arremessados ao palco. Porém, não esperava ser recebido tão calorosamente pelo público formado predominantemente por jovens da West Coast. Não demorou muito para o estouro correr pelo país e culminar, em 1938, na primeira apresentação de jazz no Carnegie Hall, o templo da música de Nova York.

Uma constatação: as fãs histéricas não nasceram com o rock e, da mesma forma que o blues originou o jazz e depois o rock’n roll, Benny Goodman é uma espécie de Elvis ou Beatles da pré-história.

Bom moço, Goodman era o filho que toda nação queria ter. Da sua ascensão até o início da década de
1940, era a imagem perfeita para os Estados Unidos divulgar para o mundo sua cultura e, pouca gente lembra hoje, que ele foi nos Anos 30 um dos nomes mais populares e queridos da América. Em suas apresentações mundo a fora, não admitia que seus músicos tocassem mal vestidos e era tecnicamente exigentíssimo, tanto que, quando ouvia alguma nota fora do compasso, lançava o fulminante “olhar de raio”, que significava carta de demissão no dia seguinte.

Em uma das fases mais conturbadas na luta pela igualdade racial nos Estados Unidos – briga que se estendia ao ainda dividido mundo do jazz –, Benny foi o primeiro bandleader que colocou negros, brancos, amarelos e azuis tocando junto. A opção anti-racista pode ser reflexos em sua infância que ele mesmo não gostava muito de revelar: era filho de imigrantes judeus, refugiados da Primeira Guerra.

Se estivesse vivo – pelo menos o está nos mais de 30 discos que deixou –, Benny Goodman completaria 100 anos em 2009. Mesmo que as homenagens no mundo do jazz tenham o deixado um pouco de lado, o clarinetista é o nome celebrado na 7ª edição do Jazz Festival Brasil, que passa por Belo Horizonte neste fim de semana. É uma oportunidade de ouvir de grupos influenciados por Goodman a releitura de clássicos como Sing Sing Sing e tantas outras imortalizadas pelo clarinete do incontestável “Rei do Swing”.

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quarta-feira, agosto 19, 2009

Tudo é Jazz!


1959 foi um grande ano para o Jazz. À beira de sucumbir diante do eletrificado Rock'n Roll, que há quatro anos ganhava espaço nas vitrolas com a guitarra de Chuck Berry, o estilo provou seu poder de reinvenção e deu ao mundo dois incríveis presentes naquele ano. Por conta de Miles Davis, que já transitara do bebop ao modal sem perder a compostura, os descrentes foram tomados de assalto com o lançamento de Kind of Blue, gravado entre março e abril.

Para entender o motivo pelo qual este é considerado o maior álbum de jazz de todos os tempos, basta ver a formação do sexteto: Miles, Coltrane e Adderley aos sopros, Jimmy Cobb à bateria, Paul Chambers ao baixo e Bill Evans ao piano (este último, o 'mentor' do álbum, embora Miles assine sozinho todas as faixas).

Companheiro de Miles no naipe de sopros de Kind of Blue, John Coltrane ainda teve fôlego para criar em 1959 todas as faixas de Giant Steps, o último suspiro do Bebop – afinal, como anunciava o disco seguinte de Trane, já se sentia "ecos de uma nova era" no ar poluído dos guetos da América.

Fôlego e disposição, aliás, não faltavam aos dois, pois, ainda em 1959, Davis criou e gravou em apenas uma noite a trilha sonora de "Ascensor para o Cadafalso", do Louis Malle, enquanto Trane finalizava Echoes Of An Era e juntava forças para compor e executar My Favorite Things, lançado no ano seguinte.

Entretanto, como a tragédia é um clichê tentadoramente romântico no mundo do jazz, 1959 teve sua dose de tristeza, causada por outras doses (de heroína) injetadas na veia de Billie Holliday. A cantora dispensa maiores apresentações, pois as hipérboles que frequentemente acompanham sua biografia são incapazes de mensurar os hectolitros de conhaque que Lady Day entornou em menos de cinco décadas.

Entre tantas homenagens de cinquentenário, o Festival Tudo é Jazz deste ano, em Ouro Preto (programação ao lado), escolheu celebrar a falta que Billie nos faz, com show de Madeleine Peyroux, considerada a sucessora de Lady Day, em razão do timbre ligeiramente semelhante. Peyroux, que começou sua carreira interpretando canções outrora imortalizada por grandes divas como Ella Fitzgerald e Bessie Smith, será acompanhada por nomes importantes do gênero, como o baixista Ron Carter, que na última edição se apresentou ao lado de Milton Nascimento (veja a cobertura do blog em 2008 aqui).

Atrações – O Festival Tudo é Jazz é um dos eventos imperdíveis deste segundo semestre. Aos fãs mineiros do gênero não faltam atrações. Entre 27 e 30 de agosto, Belo Horizonte recebe a sétima edição do Jazz Festival Brasil. Uma semana depois é a vez do já tradicional Festival de Jazz da Savassi. Para quem gosta de cinema, o Cine Humberto Mauro apresenta a mostra "Jazz no Cinema", com películas que tiveram sua trilha sonora assinada por nomes como Duke Ellington, Charles Mingus e Miles Davis. Além das cafeterias e bares que tem o Jazz como ingrediente especial no cardápio (confira alguns aqui).

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Entrando no clima dos festivais, o MOVIOLA também está de cara nova. Aproveitando a extensa programação dos próximos meses, o blog irá se dedicar mais ao assunto, sem se esquecer de outros bens e males que nos afligem – sem tocar no nome do Sarney, restos mortais de Michael Jackson e Lina Vieira, claro.

Enfim, espero que o novo layout tenha agradado!

segunda-feira, agosto 03, 2009

Kubrick e o futebol


Segundo o mapa-mundi azul e amarelo no canto esquerdo da tela, cerca de 25 internautas visitam o Moviola diariamente. Número baixo comparado ao estrelado da blogosfera, porém espichado diante da falta de atualização e divulgação desta página. Nada mal. No entanto, minha popularidade cai por terra quando abro minha conta do Google Analytics - serviço de estatísticas de pageviews gratuito - e descubro que, pelo menos metade destes flaneurs digitais, chegam até aqui através de combinações estranhas e desconexas de palavras lançadas ao Google.

O programa de buscas, segundo estatísticas, registra em torno de 23 mil procuras por segundo. no mundo inteiro Meu blogue, desde seu primeiro post, em 2005, abriga 116 extensos textos, com uma infindável gama de palavras. Isso quer dizer que abocanho uma dízima irrisória dos perdidos no espaço cibernético.

A palavra-chave que mais remeteu internautas ao meu endereço no último ano foi "Kubrick Futebol", assim mesmo, as duas juntas, colocando lado a lado, no ataque do Moviola, o aclamado diretor e o centenário esporte bretão.

Certamente, a ligação mais próxima entre os dois é o termo Laranja Mecânica, título da adaptação para o cinema do romance homônimo de Anthony Burgess feito por Kubrick, em 1971, empregado na mesma década para rotular a seleção holandesa, comandada pelo maestro Cruijff. No futebol, a seleção flamenga revolucionou ao implantar um esquema tático que atacava e defendia em bloco, trocando passes em grande velocidade. No cinema, Clorkwork Orange talvez ainda seja a representação máxima das películas de ultraviolência.

Neste blog, as duas palavras se misturam na crítica que escrevi sobre a filmografia do diretor para o Delphos, em 2006 (partes I, II, III). Cruijff, sem os outros 10 da imbatível seleção holandesa de 1974, é citado na matéria sobre atletas que se aventuraram nos palcos depois de pendurar as chuteiras. O exímio dote vocal de Cruijff é comparado a de outros gênios da música mundial, como Pelé, Marcelinho Carioca e Maguila.