terça-feira, novembro 28, 2006

Volver - Definitivamente, um filme de Almodóvar.

Volver... con la frente marchita,
Las nieves del tiempo platearon mi sien...
Sentir... que es un soplo la vida,
Que veinte años no es nada,
Que febril la mirada, errante en las sombras,
Te busca y te nombra.
Vivir... con el alma aferrada
A un dulce recuerdo
Que lloro otra vez...
(Carlos Gardel)



por: renan damasceno

Pedro Almodóvar tornou-se uma grife do cinema contemporâneo. O mais aclamado diretor de língua hispânica desde Luís Buñuel e Carlos Saura. Criou um universo cinematográfico particular: fotografia e cores peculiares, roteiros que se abrem formando uma rede de histórias a partir dos segredos e desejos das suas personagens. Assistir um novo trabalho de Almodóvar é apenas constatar a genialidade deste que é o maior diretor em atividade.

Não, não é exagero. Na história do cinema, Almodóvar é um dos raros diretores que conseguiu emplacar um estilo único em seus filmes. Digo único porque os grandes mestres, que mudaram o curso da história cinematográfica, em sua maioria, - como Eisenstein, Godard, Glauber, etc. – participavam de escolas que criavam novas linguagens a partir de experimentos coletivos, com filmes de vários diretores ao mesmo tempo - Nouvelle Vague, Neo Realismo, Cinema Novo, por exemplo. Almodóvar é estrela solitária no apagado cinema espanhol da década de 80.

A experiência de Almodóvar começou nos subúrbios de Madrid. Seus primeiros filmes (Labirinto de Paixões, 1982, Que fiz eu para merecer isto?, 1884, e Matador, 1987) têm um pouco deste mundo periférico e suburbano da capital espanhola: drogas, dragqueens e homossexualismo.

A segunda fase, a partir de 1989, com Mulheres à beira de um ataque de Nervos, marca a passagem de um cinema marginal para o universo melodramático e o reconhecimento internacional. Daí em diante seus filmes passaram a ter a marca “Una película de Almodóvar”, explorando o universo feminino, os desejos, as relações amorosas e familiares. Tudo sobre minha mãe (1999) é a prova definitiva e marca a terceira fase de seu cinema, a partir deste, seus filmes passaram a ser aguardados com anseio pelo público e aclamados pela crítica.

Minha intenção não é escrever um texto biográfico. Apesar de ter assistido todos os filmes do diretor lançados no Brasil, falta-me conhecimento cinematográfico pra isso. Coloquei essa breve história porque é impossível falar de seu mais novo lançamento sem voltar no tempo. Aliás, é Volver (voltar, em espanhol) o nome da película.

O filme é uma volta, não apenas a La Mancha, terra natal do diretor, onde são filmadas várias cenas com a protagonista Penélope Cruz (Raimunda), mas uma volta ao universo feminino, após o hiato masculino de Má Educação (2004). É a volta de Carmem Maura, musa dos seus primeiros trabalhos. A volta do que Almodóvar sabe explorar, como poucos: as relações afetivas e familiares.

A história é imprevisível – outra característica -, as personagens são muito bem desenhadas num universo, unicamente, feminino. Raimunda, a protagonista, é uma mulher bela e sofrida, no melhor estilo Sofia Loren nos filmes de Vittorio de Sica. Sole, sua irmã, após ser abandonada pelo marido, sobrevive, sozinha, trabalhando de cabelereira, clandestinamente, dentro da própria casa. Paula, a filha, a típica adolescente.

As gerações se encontram no vilarejo que Raimunda abandonou quando se casou com Paco e foi viver em Madrid. Começa com a celebração da morte: a lavagem dos túmulos, cuidados - como ensina a tradição - pelas viúvas, vestidas uniformemente de preto. Neste início, Almodóvar retrata a submissão das mulheres aos maridos, mesmo depois de mortos, e como todas, nascem e morrem, obedecendo à tradição da aldeia onde vivem. A mãe de Raimunda, que quebra essa submissão ateando fogo na casa que seu marido dormia com outra, é obrigada a viver trancada na casa da tia, abstendo-se da vida, não apenas por medo judicial, mas por destoar-se do caminho natural de todas as mulheres do lugar.

A vida de Raimunda em Madrid é difícil. Paco torna-se alcoólatra, é despedido do emprego. Ela trabalha como faxineira no aeroporto.O dia que muda toda a história do filme acarreta uma série de acontecimentos: Paula é assediada pelo Pai; Paco é assassinado com uma facada pela filha; Tia Paula (Tia de Raimunda, que vivia no vilarejo) morre e sua mãe reaparece.

A volta da personagem de Carmem Maura traz a tona uma série de segredos que dão sentido ao filme e à vida das duas filhas – Raimunda e Sole – e da neta.

Noto outra peculiaridade nos filmes do criador de Volver. Os segredos que são revelados, na maioria de seus trabalhos como diretor, e que dão sentido ao filme, poderia ser usado, certamente, para se desenvolver outro roteiro, tão genial quanto o próprio filme. Esta característica da multiplicidade esta presente nas grandes obras contemporâneas, da literatura ao cinema, como defende o filósofo italiano Ítalo Calvino, em suas Seis Propostas Para o Próximo Milênio.

Há vários filmes de Almodóvar dentro de um filme de Almodóvar.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Estamira: Esta mira, o olhar que tudo pode ver e tudo pode revelar

A intenção inicial do diretor Marcos Prado (co-produtor do premiado Ônibus 174) era filmar as transformações do aterro sanitário Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, destino de 85% do lixo produzido na cidade do Rio de Janeiro.O processo duraria sete anos, até conhecer uma das 2000 pessoas que, diariamente, garimpavam objetos velhos e restos de comida no aterro. A senhora de 65 anos, semi-analfabeta, de pele morena e o rosto marcado pela idade e trabalho possuía uma vontade incomum de se expressar.Seu nome: Estamira, ou como afirma a própria protagonista , “A Estamira”.

Renan Damasceno

O diretor poderia ter se rendido a editar o filme mostrando apenas os momentos lúcidos desta senhora, mas perderia a essência, acabando por apenas mitificá-la. Ao contrário, explorou o discurso ora rancoroso, ora doce, mas sempre enfático da personagem. Ela é perturbadora porque é capaz de gerar sentimentos de desconforto, mas também de admiração, por isso nos afeta.

A fotografia é outro ponto forte – no início, uma filmagem manual em preto e branco contrapondo-se ao colorido digital do restante do filme - e juntamente com a trilha sonora proporciona momentos de poesia no cenário caótico e putrefato do lixão.A alvoroçada dança dos urubus sobre os restos de animais mortos e a briga de dois cachorros por uma boneca são algumas das cenas , minuciosamente, observadas pela lente das câmeras.O que poderia ser tachado, simploriamente, como estética da miséria, nos fascina pela excelente combinação entre as imagens e o discurso místico da catadora de lixo.

Os minutos iniciais do filme são uma sobreposição confusa de imagens e palavras desconexas. É a apresentação da personagem Estamira, dotada de falas sem sentido, algumas vezes, indecifráveis. Sua personalidade parece única, mas ao longo do filme se revela como milhões. Mulher, feiticeira, doce, raivosa, louca, lúcida.Todos temos um pouco de Estamira. Todo o caos do lixão, dos urubus, do mar agitado é uma metáfora de seu pensamento desordenado e inclassificável, aparentemente ilógico.

A razão de seu distúrbio pode ter explicação em sua vida. Aos 12, é levada para um prostíbulo pelo próprio avô, que a estuprava desde muito cedo. Aos 17, casa-se com um italiano com quem teve sua primeira filha. Vêm em seguida várias traições, brigas violentas, novos casamentos e novos filhos. Depois de ser fortemente violentada, revolta-se com a religião e com Deus: centro de seu discurso e que provoca descontrolada ira ao ter o nome mencionado.

Após longos minutos de frases sem sentido lógico começa a permear palavras de grande potência filosófica que criam conceitos e definem modos de pensar. O “trocadilo”, o “controle remoto”, os “espertos ao contrário” e os “astros negativos” são os mais citados. ”Minha missão, além de ser a Estamira, é revelar a verdade, somente a verdade, capturar a mentira e jogar na cara”. Suas falas são dotadas de profecias que definem sua prepotência, como a única pessoa que sabe da existência do “além dos além”, que cientista nenhum conhece.

A perturbação de Estamira não é uma doença mental, pois como ela mesma afirma que “doente mental é aquele que é imprestável”. Seu discurso é marcado por uma peculiar lucidez e um conhecimento que não é aquele aprendido na escola, “lugar onde tudo se copia”, o que a distancia do “comum”.Ao manter esse distanciamento, Estamira consegue ver o que ninguém vê: a degeneração do homem que produz a desigualdade, a violência e se oprime rendendo devoções a Deus, que o castiga. Segundo ela, quem presta esta devoção está “contaminado pela doença da terra”.

Seu pensamento não é menos verossímil e legítimo que muitos disseminados no “mundo normal”. Se suas palavras não são reconhecidas como tal, é porque Estamira é uma outsider, faz parte da comunidade dos que vivem “do lado de fora”, que sobrevivem de “restos e descuidos”, à mercê da sociedade, que deles nada quer saber. Viver do lixo não é motivo de desgosto, ao contrário, Estamira gratifica e faz de Gramacho sua casa, onde criou fortes laços de amizade. Isto faz com que o filme não caia no lugar comum, sendo uma simples denúncia da miséria. Se há denúncia, é do descaso, não apenas social, mas existencial.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Breve Biografia De Glauber Rocha

Por: Renan Damasceno

Glauber Andrade Rocha nasceu em 1939 na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia. Aos oito anos, mudou-se com a família para Salvador, ingressando no Colégio Presbiteriano 2 de Julho, um dos mais tradicionais da capital baiana. Desde cedo, Glauber mostrou vocação para as artes, escrevendo e atuando em peças teatrais. Aos 10 anos, escreve sua primeira peça, El Ijito de Oro, escrita em espanhol e encenada no próprio Colégio Presbiteriano.

Durante a década de 50, Glauber continuou escrevendo e atuando, além de participar de programas de rádio como crítico de cinema. Cursou Direito por um ano na Faculdade Federal da Bahia, foi repórter policial e colaborou em diversas revistas e jornais.Em 1958, filma Pátio, que não foi finalizado devido à falta de sonorização.

Influenciado pela Esquerda Comunista, pelo cinema revolucionário de Sergei Eisenstein e pelo neo- realismo italiano de Rosselini e Pasolinni, Glauber despertou um novo olhar crítico sobre a cultura e a política brasileira. Queria uma arte engajada, que defendesse o Brasil do imperialismo estadunidense e do domínio do cinema roliudiano. Suas viagens pelo interior do nordeste com seu pai, o comerciante Adamastor Rocha, o fez conhecer a verdadeira realidade brasileira.

Na década de 60, o cinema brasileiro passou por uma grande revolução. As telas, antes dominadas pelos filmes de comédia e pelas grandes produções do estúdio Atlântida, dão lugar ao cinema revolucionário, liderado por Glauber, conhecido como Cinema Novo. Aderem-se ao movimento os cineastas Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Joaquim Pedro de Andrade e Nelson Pereira dos Santos, que dirigiu Rio 40 graus, em 1953, considerado o precursor desse novo jeito de fazer cinema.

“Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, está foi a frase que deu identidade ao movimento. Em 1963, Glauber dirige “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, considerado uma obra-prima do cinema brasileiro, que denuncia o misticismo cego e a realidade nordestina.Três anos mais tarde, dirige “Terra em Transe”, com grande elenco, entre eles Mário Lago, Paulo Autran e Paulo Gracindo. O filme foi considerado subversivo e proibido de ser exibido em território nacional, alegando ofensa à Igreja Católica.Completando a trilogia das grandes obras do diretor, “O Dragão da Maldade contra o santo guerreiro”, que rendeu a Glauber o prêmio de melhor diretor no prestigiado Festival de Cannes, na França.Ainda na década de 60, o diretor filma o documentário “Maranhão 66”, que registra a posse de José Sarney como governador no estado.

Em 1971, Glauber parte para o exílio e dirige filmes internacionais como o espanhol “Cabeças Cortadas” e o italiano “O leão de sete cabeças”, sem muito sucesso. A ferocidade crítica de seus três grandes sucessos da década anterior é menos visível em seus seis longas-metragens da década de 70.Foi novamente premiado em Cannes pelo curta DiCavalcanti DiGlauber, filmado durante o funeral do pintor brasileiro DiCavalcanti.Seu último filme foi “A Idade da Terra”, criticado durante sua estréia no Festival de Veneza, em 1980.


Glauber faleceu em 1981, aos quarenta e dois anos, no Rio de Janeiro, vítima de septicemia, um choque bacteriano causado por uma broncopneumonia. Lutou pela solidificação da cultura nacional, pela liberdade e pela democracia.Mostrou para o Brasil o Brasil que pouca gente conhece.

Filmografia:

1980 - A idade da terra
1979 - Jorjamado no cinema
1976 - Di Glauber
1975 - Claro
1974 - As armas e o povo
1974 - História do Brasil
1972 - Câncer
1970 - Cabeças cortadas
1970 - O Leão de Sete Cabeças
1968 - O Dragão da maldade contra o santo guerreiro
1967 - Terra em transe
1966 - Maranhão 66
1963 - Deus e o diabo na terra do sol
1960 - Barravento
1959 - O pátio

Assista aos Vídeos na Íntegra:

DiCavalcanti DiGlauber
Documentário Manifesto Glauber

sexta-feira, outubro 06, 2006

EspaçoReflexão - Bertold Brecht



O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
__________________________________
Bertolt Brecht (1898-1956). Dramaturgo e poeta alemão. Revolucionou o teatro com peças que visavam estimular o senso crítico e a consciência política do espectador. Brecht foi um dos nomes mais influentes do teatro do século XX.

sexta-feira, setembro 08, 2006

O Maior Amor do Mundo: o amor que brota no seco



“Toda morte é inútil e toda vida vale a pena, nem que seja por um único e breve momento.”
Por: Renan Damasceno

O Maior Amor do Mundo, novo longa-metragem do diretor Carlos Diegues, não se trata de uma obra que merece destaque apenas pela grandiosidade de seu diretor – como acontece freqüentemente com diretores consagrados e suas obras imunes às críticas. Desde sua qualidade técnica (filmado em 16mm e pioneiro na finalização digital) à excelência da atuação do protagonista José Wilker, o filme define a maturidade do cinema brasileiro. Cacá Diegues, contemporâneo de Glauber Rocha e um dos expoentes do Cinema Novo, na década de 60, traz um roteiro menos pretensioso que as obras cinemanovistas, apostando numa “viagem pelo interior e pelo exterior do Rio de Janeiro”, como ele mesmo afirma.

Antônio (José Wilker), astrofísico brasileiro radicado nos Estados Unidos, resolve voltar para o Brasil após ser notificado de um tumor no cérebro que o levaria à morte em poucos dias.Antônio é marcado pelo sucesso profissional e pelo fracasso amoroso e afetivo.Nem mesmo o ardor revolucionário de seus contemporâneos, durante os anos de chumbo, foi capaz de despertar-lhe alguma paixão.

O desafeto com o pai, um respeitado maestro, vêm desde a infância e permanece nesse reencontro.A relação dos dois é desastrosa, seu pai parece culpa-lo da derrota do Brasil na final da Copa de 50, data de seu nascimento, e pela perda da amante e maior amor da sua vida, a mãe verdadeira de Antônio. Porém, a volta do astrofísico têm um único objetivo: Procurar sua mãe biológica.A busca pelo seu “maior amor do mundo”.

No contato com a realidade suburbana carioca começa a brotar um novo sentimento em Antônio. Uma busca no passado - marcado pela não-linearidade e os flashbacks durante o filme – que dá sentido a uma vida sem esperanças de futuro. O protagonista descobre o que poderia ser a sua realidade.Pessoas misturadas aos montes de lixo, ao tráfico, à desordem e ao abandono social. Os próprios moradores do local têm a consciência desse Rio de Janeiro caótico, desassistido pelos programas sociais, de saneamento e de saúde.

Antônio conhece Mosca, o espelho do que poderia ser a sua vida, com pouco mais de dez anos envolvido no tráfico, que nunca freqüentou uma escola, morto, dias depois, vítima da violência da polícia. Apaixona-se pela mulata Luciana, por quem sente atração imediata e que se engravida após uma rápida relação entre os dois.

O tempo, cronológico e psicológico, marca profundamente a história e a morte de Antônio acontece no encontro dos dois, cronologicamente, no fim de sua busca e na manifestação terminal de sua doença e, psicologicamente, nos braços de sua mãe.

O maior amor do mundo não é, somente, a busca pelo amor materno.É a manifestação da vida nos derradeiros dias do protagonista, que brota do coração seco e que descobre, na realidade suburbana, seu sentido. Que desobedece ao tempo.O amor que pode ser o mais breve possível, mas a prova de que toda vida vale a pena.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Frankfurtianas....

A cultura de massa é “uma psicanálise ao revés”, é regressiva. Para Adorno e Horkeheimer, a “cultura de massa” não é nem cultura nem é produzida pela massa: sua lei é a novidade, mas de modo a não perturbar os hábitos e expectativas, a ser imediatamente legível e compreensível pelo maior número de expectadores e leitores.Evita a complexidade, oferecendo produtos à interpretação literal, ou melhor, minimal. Assim, a mídia realiza uma caça a polissemia pela demagogia da facilidade – fundamento da legitimidade desse sistema de comunicação.Adorno critica a Indústria Cultural não por ser democrática, mas por não o ser.A mídia transmite uma cultura agramatical e desortográfica, de tal forma que a educação retorna a condição do segredo, conhecimento de uma elite: “A luta contra a cultura de massa só pode ser levada adiante se mostrada a conexão entre a cultura massificada e a persistência da injustiça social”.

(Escola de Frankfurt - Luzes e Sombras do Iluminismo)

terça-feira, agosto 22, 2006

Crueldade e ironia: O cinema produtor de violência.


A sociedade passa por um período de banalização e espetacularização (como me referi no artigo BBB – O espetáculo superficial).Os ideais de liberdade e democracia sofrem constantes mutações, as utopias inexistem e a ruptura dos valores sociais nos introduz em um mundo cada vez mais competitivo, cruel e desumano.

É certo – e nenhum momento afirmo o contrário – que a violência é fruto de diversos problemas sociais que foram se agravando com políticas corruptas e mal estruturadas e por políticos que deixam o povo à mercê de seus interesses, mas os veículos de comunicação contribuem para essa banalização da violência.Exemplo disso são as séries e filmes produzidos pela indústria estadunidense nas últimas décadas.

O cinema americano inaugura, no final da década de 80 e início da década seguinte, um novo estilo cruel e sarcástico de fazer cinema.O “neo-brutalismo” como é conhecido, mescla ironia e crueldade, criando uma nova imagem ao bandido.Ele passa a ser o centro do espetáculo, pouco importando sua postura e suas ações.

Cria-se, assim, uma espetacularização da violência.Matar, violentar e torturar passa a ser tratado com bom humor, funcionando apenas como pano de fundo para a ação de quem executa o ato.

A violência como entretenimento nos faz pensar que tudo é normal. Somos meros espectadores da crueldade executada no meio social, somos cúmplices de uma sociedade cada vez mais desumana.


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segunda-feira, julho 31, 2006

Música - Buena Vista Social Club

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Buena Vista Social Club é a reunião dos grandes nomes da música Cubana das décadas de 60 e 70. O álbum produzido pelo estadunidense Ry Cooder conta com a presença de Ibrahim Ferrer, Eliades Ochoa, Omara Portuondo, Rúben Gonzalez, Campay Segundo entre outros.
Na volta de Cooder à Havana para gravar o álbum solo de Ibahim Ferrer, o cineasta Win Wenders o acompanhou lançando o documentário homônimo vencedor de 10 prêmios internacionais e indicado ao Oscar 2000.
Este doc. gravado pelas ruas de Havana mergulha na história da cultura musical cubana e no universo fidelista mostrando o ostracismo no qual esses músicos foram submetidos ao longo dos anos.Uma viajem pela Cuba atual que relembra seu passado, revivendo através da música, uma cultura esquecida que de repente surge através deste projeto.

+ Buena Vista na Internet
Site Oficial: www.pbs.org/buenavista/

quarta-feira, junho 07, 2006

Margem da Palavra - A Terceira Margem do Rio



Texto: Renan Damasceno

“O seu palavreado diferente [de Guimarães Rosa] não é constituído propriamente de vocábulos “difíceis” ou desusados, como no caso de Euclides da Cunha ou Coelho Neto, mas de recriações e invenções forjadas a partir das virtualidades do idioma, que levam o leitor a constantes descobertas.” Augusto de Campos.

A Terceira margem do rio, sexto conto do livro Primeiras Estórias (1962), é uma celebração do silêncio, do sujeito que se desapropria da linguagem e fica à margem da vida. Uma narrativa silenciosa, que nos guia por um rio-texto, “rio abaixo, rio afora, rio adentro”.

O conto funda-se na narração do filho sobre seu pai “homem cumpridor, ordeiro, positivo” que decide viver em uma canoa à margem do rio. Narra o desgosto da família, seu sentimento de culpa, os anos que, rio acima, rio abaixo, seu pai vive sem se distanciar da margem. O conto termina quando a imagem do filho quase se funde com a do pai e o pedido do mesmo para quando morrer ser colocado em uma canoa, rio abaixo.

Guimarães Rosa se apropria da linguagem popular e cria um vocabulário calcado de neologismos, regionalismo e com sonoridades que se assemelham às criações joycianas. Metáforas e aliterações são comuns na narrativa como a seqüência fonética que dá fim ao texto “rio abaixo, rio afora, rio adentro – o rio”.

O personagem principal – o pai – caminha para uma não-existência ao quietar-se em sua canoa. Segundo Lacan, “existimos na linguagem e esta se relaciona com a cultura e com o social”, ao abrir mão desse instrumento de interação social, o personagem foge dessa ordem convencionada de existência.

O filho, incomodado com a situação, vive em sua culpa, de não ser capaz de tomar o lugar do pai e falha em sua última tentativa, ao fugir correndo pra longe da canoa.

Nesse conto de sentimentos desolados, culposos, de relação distanciada, tece a trama desse conto primoroso de Guimarães Rosa.

+ Guimarães Rosa na Internet:
O conto na íntegra :
http://www.releituras.com/guimarosa_margem.asp

sábado, junho 03, 2006

Ensaio - Corpo Fechado

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*Texto: Renan Damasceno
*Foto: Ayron Borsari


Corpo Fechado é a antepenúltima das nove novelas que compõem Sagarana, romance inaugural da obra ficcional de Guimarães Rosa. Publicado em 1946, o livro é um dos precursores do pós-modernismo e firma a característica verticalizada de Rosa: a transcendência do estritamente regional para, assim, chegar a uma dimensão metafísica, universal do homem.

Esta é uma história de valentões e de espertos, de violência e de feitiços. A pequena e interiorana Laguinha é assombrada pela presença dos sucessivos “espanta-praças”: José do Boi, Desidério, Miliguido, Adejalma – “nome bobo, que nem é de santo” - , Targido e finalmente, Manuel Fulô.
Manuel Fulô (ou Manuel Veiga, Manuel Peixoto, Manuel Flor, Mané das Moças, ou ainda, quando xingado, Mané-minha-égua) é o anti-herói da história. Não trabalhava, de jeito nenhum, “e gostaria de saber quem foi que inventou o trabalho, pra poder tirar vingança” e, assim como Dom Quixote e o cavalo Rocinante, vivia acompanhado de sua besta nhata, Beija-Fulô, e juntos “centaurizavam gloriosamente”.
Por conviver algum tempo com os ciganos, aprendeu deles toda a sorte de truques possíveis, envolvendo animais de montaria. Quando decide casar, Targino, um dos valentões (aliás, um dos últimos) da cidade cisma em ter para si a noite de núpcias.
E aqui que começa a história que dá nome ao título. Targino, o “cobra que pisca olho”, “excomungado”, se encanta pela futura esposa de Manuel, das Dor.
Reboliço. Correrias. Movimentação do doutor.Renegando o sobrenome Veiga, esses que o apoiaram antes do momento fatídico. Antonico das águas, “que tinha alma de pajé” e era “curandeiro-feiticeiro”, agora entra na história para “fechar o corpo” de Manuel Fulô – em troca da égua Beija-fulô - “requisitando agulha-e-linha, um prato fundo, cachaça e uma lata com brasas”:
“- Fechei o corpo dele. Não careçam de ter medo, que para arma de fogo eu garanto!...”
Na rua da casa do Doutor, onde todos espiavam a suposta desgraça de Manuel, acontece o encontro.Targino erra os cinco tiros e Manuel com uma quicé, quase canivete, furou o valentão, que “girando na perna esquerda e ceifando o ar com a direita; capotou, deviveu”.
Mesmo com a lealdade dos Veigas, o ingrato novo-valentão termina o conto esbravejando aos quatro-ventos:
“-Conheceu, diabo, o que é raça de Peixoto?!”

Fica claro ao longo do texto a devoção do povo interiorano pelo “valentão”. Esse é invocado por diversas expressões que o santificam – como ser inatingível - ou o demonizam – como excomungado. Outra chave para desvendar o sertanejo de Corpo Fechado é a esperteza, a malandragem, o anti-heroísmo, presente em Manuel-Fulô. Podemos tomar isso como uma fuga, uma alternativa de sobrevivência, próximo do personagem João Grilo , da peça teatral O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna (1955).
Numa linguagem mesclada de arcaísmos, figuras de linguagem e tipismos mineiros, Rosa universaliza o sujeito regional. Atribui novas formas e qualidades e cria, a partir disso,uma nova concepção do homem sertanejo
.

sexta-feira, maio 26, 2006

DiaryBoard - "Um choque de genialidade"


" Nem o capuccino quente depois do filme me ajudou a digerir Jean Luc Godard. Minha primeira experiência com seu cinema foi um choque, um espanto, um novo sentido de arte cinematográfica. Em uma palavra: Genialidade - pra não comentar em poucas e injustas linhas um brilhantismo irredutível.
"A Chinesa" (La Chinoise, 1967) é uma aula de socialismo, de revolução, de história. De Marx e Lenin a Sartre, Camus passando pelo teatro de Samuel Becket e Brecht, o roteiro é digno de um gênio. Godard é pra ser lido e não apenas assistido, as imagens complementam o brilhantismo do texto. É um filme para ser revisto, esmiuçado, estudado, digerido aos poucos.
Godard me proporcionou nas telas o que Garcia Márquez, Sartre e Borges me propiciam na literatura, um estado de euforia, um ecstasy, um prazer.Impossível traduzi-lo em palavras sem reduzi-lo"

quinta-feira, maio 18, 2006

Clássicos do cinema brasileiro - Vidas Secas



"Este filme não é apenas uma transposição fiel para o cinema de uma obra imortal da literatura brasileira.
É antes de tudo, um depoimento sobre uma dramática realidade social de nossos dias e a extrema miséria que escraviza 27 milhões de nordestinos e que nenum brasileiro pode ignorar. "

Inserido na fase mais produtiva do Cinema Novo, Vidas Secas é - do início ao fim - seco, árido e rude. A fotografia é marcada por excelentes locações, que reforçam o clima de aridez do filme.

Outra característica são os longos períodos de silêncio preenchidas por açoes ríspidas e excelente interpretação dos atores (principalmente as crianças que pouco falam durante o filme).
Uma das principais obras de um dos maiores diretores da história do nosso cinema, Nelson Pereira dos Santos.


Ficha Técnica
Título Original: Vidas Secas
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 103 min.
Ano de Lançamento (Brasil): 1963
Direção: Nélson Pereira dos Santos
Elenco: Átila Iório (Fabiano)
Maria Ribeiro (Sinhá Vitória)
Jofre Soares (Fazendeiro)
Maria Rosa

quinta-feira, maio 04, 2006

EspaçoLiteratura - Jorge Luís Borges


James Joyce
( in Elogio das Sombra, Borges, 1969)

Em um dia do homem estão os dias
do tempo, desde o inconcebível
dia inicial do tempo, em que um terrível
Deus prefixou os dias e agonias,
até aqule outro em que o umbíquo rio
do tempo terrenal torne a sua fonte,
que é o Eterno, e se apague no presente,
no futuro, no passado o que agora é meu.
Entre a aurora e a noite está a história
universal.Do fundo da noite vejo
a meus pés os caminhos de hebreu,
Cártago aniquilada, Inferno e Glória.
Dá-me, Senhor, coragem e alegria
para escalar o cume deste dia.


Borges, Jorge Luís ( 1889 - 1986) - Escritor. Considerado o maior poeta argentino de todos os tempos e um dos maiores escitores da Literatura mundial.
Meu guia pelos labirintos da escrita, uma fonte inesgotável de conhecimento e uma mescla requintada de experiências literárias de toda parte do mundo.
Borges é uma biblioteca que me atrevo a conhecer.

+ Borges na Internet:
Textos - www.releituras.com/jlborges_menu.asp
Biografia e entrevista - http://www.secrel.com.br/JPOESIA/jlb.html
Sobre a obra - www.terra.com.br/almanaque/vidaeobra/borges.htm
Crítica Literária - http://www.tanto.com.br/cassia-artigo.htm

quarta-feira, março 08, 2006

Post-Urban, posturbanização, posturbação, pertubação.

O primeiro título desse blog - Urban Photography,Storyboard II - era referência ao gênero fotográfico que mais me agrada, no entanto nunca havia postado fotos do gênero aqui.

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" O universo aqui é o da vida-satélite e dos tipos que giram em torno de órbitas próprias, colorindo a vida de um AMARELO HEPÁTICO E PULSANTE. Não o amarelo do ouro, do brilho e das riquezas, mas o amarelo do imbaçamento do dia-a-dia e do envelhecimento das coisas postas. Um AMARELO MANGA, farto. ( Trecho do fime Amarelo Manga de Cláudio Assis)

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"O amarelo não entrou por acaso. Faz parte. Amarelo é sol nascente, isto é, novo dia, renascer. E é também a cor da gema do ovo. Tudo o que vive veio do ovo, se lembra das aulas de história natura!? É a cor do ouro, que representa nobreza, valor. Também a cor do amaranto, que não murcha. "
(José J. Veiga, texto: Vestido de fustão)


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Fotos: Renan Damasceno.
Foto 2 - www.leedsphotography.co.uk

Cinema - As 5 melhores produções nacionais de 2005.

Infelizmente, mais uma vez, o Brasil não produziu filme de judeu e cachorrinho, afinal é disso que hollywood gosta!

1 – Dois Filhos de Francisco – (Dir: Breno Silveira, com Ângelo Antonio, Dira Paes, Jackson Antunes e José Dumond).
A favor do consenso, nenhuma obra produzida em 2005 supera a qualidade e o roteiro do primeiro longa-metragem de Breno Silveira. E sem dúvida, esta figura entre as maiores produções da história do cinema nacional.O filme mostra a trajetória da banda neo-sertaneja Zezé di Camargo e Luciano de forma simples , objetiva, com uma linguagem primorosa e não faz apologia à pobreza como única forma de alcançar o sucesso – erro crasso de várias produções nacionais.

2 - Cabra Cega – (Dir: Toni Venturi, com Leonardo Medeiros, Débora Duboc e Jonas Bloch)
Vencedor de grandes prêmios no circuito nacional, Cabra cega destaca-se pelo baixo orçamento e pela excelente qualidade de seus atores.O filme – passado em grande parte dentro de um apartamento, onde o revolucionário Tiago fica escondido da polícia – é marcado pelas incertezas, traições e pela força da juventude na luta contra a Ditadura Militar.Enredo sufocante. E a trilha sonora assinada por Chico Buarque e Fernanda Porto em uma excelente versão de Roda Viva.


3 – Cidade Baixa – (Dir: Sérgio Machado, com Lázaro Ramos, Wagner Moura e Alice Braga)
Passado na cidade baixa de Salvador o filme narra o triângulo amoroso da prostituta Karinna e os dois amigos, Naldinho e Deco.Quanto ao elenco é dispensável comentar que Lázaro Ramos e Wagner Moura são as duas maiores revelações dos últimos anos.O filme é seco, gritante e realista, com diálogos curtos e diretos.

4 – Cinema, Aspirinas e Urubus – (Dir: Marcelo Gomes, com Peter Ketnath, João Miguel)
Um dos filmes mais elogiados pela critica no festival de Cannes. Em 1942, no meio do sertão nordestino, dois homens vindos de mundos diferentes se encontram. Um deles é Johann, alemão fugido da 2ª Guerra Mundial,que dirige um caminhão e vende aspirinas pelo interior do país. O outro é Ranulpho (João Miguel), um homem simples que sempre viveu no sertão e que, após ganhar uma carona de Johann, passa a trabalhar para ele como ajudante. Viajando de povoado em povoado, a dupla exibe filmes promocionais sobre o remédio "milagroso" para pessoas que jamais tiveram a oportunidade de ir ao cinema.

5 - Gaijin, Ama-me como sou (Dir: Tizuka Yamazaki)

Grande vencedor do Festival de Gramado 2005, Gaijin II (como também é chamado pois funciona como uma continuação de Gaijin, filme da mesma diretora, de 1982) é a história de uma família japonesa radicada no sul do país desde 1908.As circunstancias históricas acabam adiando a volta da família para o Japão.Bom filme, realmente merecedor de prêmios deste nível.

terça-feira, fevereiro 28, 2006

A metáfora libertária de Glauber.

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“Espero que o sinhô tenha tirado uma lição.
Que assim mal dividido esse mundo anda errado,
Que a terra é do Homem,
Não é de Deus nem do Diabo" .
(João Guimarães Rosa)

Misticismo e fanatismo cego estão no centro da obra que projetou Glauber Rocha. “Deus e o Diabo na terra do sol” retrata as alucinações, as visões e a loucura que a fome, a miséria e a ignorância podem inspirar num povo desesperado.

Glauber narra a realidade nordestina na pele de Manuel, vítima do coronelismo, marcado pela seca e entregue às profecias e ao fanatismo dos homens, dividido - sem nenhuma conduta – entre Santo Sebastião (o profeta negro que promete que o sertão vai virar mar) e Corisco (o cangaceiro que faz justiça com suas mãos, por si e em nome de Lampião).

Assim, fundem-se as imagens de Deus e o Diabo na pele desses dois homens marcados pela loucura e pela solidão da seca (que no filme fica mais evidente pela voz de Othon Bastos narrando as duas personagens). A missão de exterminar Deus e o Diabo fica a encargo de Antônio das Mortes.O homem sem crença e livre, dono de sua própria lei. Reside na carabina de Antonio das Mortes o ideal libertário e revolucionário do filme. Exterminados o profeta e o cangaceiro, seria o primeiro passo para a saga da libertação do povo nordestino, uma revolução social tirando-os da ortodoxia, das promessas de salvação e da opressão religiosa.

Os paradoxos apresentados em Deus e o Diabo na Terra do Sol - entre a morte de Deus e a valorização do homem - marcam uma das características das obras do Cinema Novo, inspirado em obras francesas e principalmente no realismo Italiano (com Rosselini sendo seu grande inspirador).A valorização do homem e sua cultura como única forma de libertação é o que busca a estética cinema-novista, renegando a forma hollywoodiana, criando uma forma essencialmente brasileira de fazer cinema.

O realismo é presente no cenário do filme.O sol escaldante, o gado morto e as pedras no solo seco demarcam o caminho da lenta procissão de êxodo nordestino em busca da terra longínqua onde “choverá ouro e pedra se transforma em pão”.Os simbolismos religiosos são representados de forma crua com o sacrifício em nome de Deus, a purificação da alma com o sangue de um recém nascido e a imagem bíblica da mulher traidora na pele de Rosa, esposa de Manuel.O povo de Morro Santo vê-se preso entre a cruz e a espada, entre a profecia e a realidade sertaneja.

Enfim, fugindo das dimensões divinas e satânicas, entre Deus e o Diabo, jaz o homem, dono de sua própria história e da busca incessante pela liberdade.

Ficha Técnica:
Título Original: Deus E O Diabo Na Terra Do Sol
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 125 min.
Ano de Lançamento (Brasil): 1964
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha e Walter Lima Jr.
Fotografia: Waldemar Lima

Elenco: Geraldo Del Rey ( Manuel) Othon Bastos ( Corisco) Maurício do Vale ( Antônio das Mortes) Yona Magalhães (Rosa) Lídio Silva ( Santo Sebastião)

sábado, janeiro 21, 2006

Para ler, assistir e ouvir....

Assistir:
Ilha das Flores (Brasil, 1989, dir. Jorge Furtado)
O documentario encontra-se no site Curta o curta.

Em 13 minutos Jorge Furtado consegue criticar o capitalismo, a ganância, a prepotência e as inversões dos valores.
Ilha das flores situa-se no Rio Grande do Sul,o local é usado para depositar o lixo de Porto Alegre e cidades vizinhas. O local foi comprado por um criador de porcos e o restos organicos são aproveitado para a alimentação de seus animais.
O restante rejeitado pelos porcos é ofereciado aos moradores das regiões periféricas da ilha. Eles se organizam em grupos de 10 pessoas para escolher o restante de verduras e legumes.
Forte, reflexivo e de causar indignação.

Ler :
Viver para Contar (Gabriel Garcia Marquez, 2002, 467 pags.)

Indispensável para compreender a obra de um dos maiores escritores latino- americano. Nessa autobiografia Marquez passa por sua infância até chegar ao trabalho como jornalista e escreve passagens importantes que serviram de inspiração para livros como " O amor no tempo do cólera.

Ouvir:
Squirel Nut Zippers

Banda americana de jazz criada nos meados da década de 90 . variedade de sonoridades e vocais bem trabalhados.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

O metal sob os olhos da mídia.

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Titulo Original: O metal sob os olhos da mídia
Por: Renan Damasceno
Texto publicado no site www.metalfuria.com.br



Um dos fundadores do grupo de Thrash Metal Pantera – juntamente com seu irmão, o baterista Vinnie Barrel -, “Dimebag” Darrel foi assassinado durante a apresentação de seu grupo Damageplan, há pouco mais de um ano. O que traz grandiosidade ao fato não é apenas a perda que Dimebag representa, haja visto a importância do Pantera na influência de uma gama de bandas estadunidenses, e sim a repercussão que o fato obteve na mídia.

Parece desatualizado tocar num assunto intensamente discutido durante os meses que sucederam a morte de Darrel. Ledo engano. Quero, não apenas apresentar uma análise da cobertura feita pelos comandados de Roberto Marinho, como mostrar o legado da morte e uma posterior conscientização.

Vamos ao fato.

Em 09 de dezembro, o guitarrista Dimebag Darrel morreu assassinado por um maluco chamado Nathan Gale, de 25 anos, que disparou cinco tiros contra o músico. Além de Darrel, mais duas pessoas que assistiam ao show e um segurança foram mortos.Segundo testemunhas, antes dos disparos, Gale teria dito “Você acabou com o Pantera. Você arruinou a minha vida.”

O fato foi noticiado na mesma noite pelo jornal noturno da Rede Globo, o Jornal da Globo. Encabeçado pelo âncora Willian Wack, o canal mostrou seu despreparo, desprezo e preconceito contra os gêneros musicais “underground’s” . Wack apresentou Darrel como usuário de drogas – fazendo uma alusão ao seu apelido “dimebag”, trouxa de maconha – e como pregador do ódio e da violência. Não bastou. A ignorância não cessou e foi necessário convocar Arnaldo Jabor.

Sim, Arnaldo Jabor, aquele cineasta, que pertencia à esquerda comunista do país e hoje ataca a mesma como um direitista nato. Aquele que se vendeu ao cinema comercial, traindo Glauber Rocha e os ideais do Cinema Novo. Aquele que critica incessavelmente as colunas sociais de Caras, mas não perde uma oportunidade de desfilar entre celebridades em fotos de revista.

Como fã de Cinema Brasileiro que sou, reconheço sua importância. Leio seus artigos em diversos jornais, o considero um dos grandes entendedores da política americana e um exímio comentarista. Mas seu comentário e sua ignorância são questionáveis. Reproduzo-o a seguir, intitulado “Não Sobrou Nada”:

“O rock começou como canto à alegria e à liberdade, música de esperança numa era de utopias e flores. Aos poucos, a ilusão foi passando. Em 68, a esperança jovem foi sendo detida pela reação da caretice mundial. Os ídolos começaram a morrer: Janis Joplin, Jimmy Hendrix sumiram juntos. Na década de 70, o que era novo e belo se transforma nos embalos de sábado à noite e começa o tempo da brilhantina. Junto com a caretice dos Beegees, o que era liberdade cai na violência. Em Altamont, no show dos Stones, a morte aparece. Charles Manson é o hippie assassino e o heavy metal o punk vão glorificar o barulho e o ódio. Com a pressão do mercado mais sólida e invencível, a falsa violência comercial, sem meta, nem ideologia, fica mais louca e ridícula. Os shows de rock viram missas negras que lembram comícios fascistas. É musica péssima, sem rumo e sem ideal. A revolta se dissolve e só fica o ódio e o ritual vazio. Hoje, chegamos a isso, a essas mortes gratuitas. A cultura e a arte foram embora”.

Quem conhece Heavy Metal sabe que a intenção da música não é pregar "ódio e violência" e que os eventos destinados ao estilo musical não são "missas negras".Surpreendo-me ao saber que tal expressão ainda é usada, quando sabemos que “missas negras” é fruto do preconceito da Igreja Católica ao referir-se a cultos realizados por minorias.Uso as palavras de Ricardo Boessio em um artigo do site Duplipensar. “Nem o colunista global, nem os leitores aqui precisam gostar do peso do heavy metal. Ninguém precisa gostar de um estilo musical. Porém querer tachar como violento, ou que prega a violência é uma ignorância tamanha, digna de pessoas intolerantes e que querem empurrar os seus gostos pessoais para os outros”.

Indo ao cerne da questão, preconceito está diretamente ligado ao ódio e a violência e não a um estilo musical, vide o documentário de Michael Moore “Tiros em Columbine”, onde tentam empurrar a música de Marylin Manson como influência e causa dos assassinatos na high-school Columbine, nos Estados Unidos.

Não é surpresa que um jornal atue de forma conservadora, especialmente na Rede Globo.O problema é quando uma reportagem é prejudicada pela ignorância, pelo desejo de disseminar o preconceito e da necessidade de rotulação.

É de causar indignação como que o maior orgão formador de opinião do país pode cometer tão grandioso erro, manchando o nome de um movimento, por causa de um crime ocorrido, onde o assassino nem pertencia ao movimento; e mais questionável quando essa mesma emissora "conservadora" promove estilos como o funk, som de terceira qualidade e com letras imundas e imorais! Drogas? E o Belo, pagodeiro do grupo Soweto, condenado a 8 anos de prisão por tráfico e associação ao tráfico de drogas? E o Rafael Ilha, do grupo Pop Polegar, que engoliu um isqueiro e robou um cobrador de ônibus para sustentar seu vício? E assim enumeraria uma infinidade de ídolos “não-metaleiros” envolvidos em casos semelhantes.

Finalizando.Deve passar longe das telas e impressos de Copacabana e da Elite carioca, da qual Jabor faz parte, eventos como o Live Aid organizado em grande parte por astros do Rock, inclusive o “terror das boas famílias”, Black Sabbath; O show ocorrido em 1992 em homenagem a Freddy Mercury, ex-vocalista do Queen, reunindo nomes como Extreme, Metallica e Guns’n Roses que teve sua renda revertida para o combate a AIDS; Haja visto a reunião do Pink Floyd este ano para arrecadar dinheiro para combater a fome na África. As manifestações contra a guerra no Iraque liderada por nomes como Eddie Vedder, do Pearl Jam; As manifestações anti-capitalismo estadunidense do System of a Down, Green Day e do “The Boss”, Bruce Springsteen no hit “Born in USA”; A luta pelo direito das mulheres liderada pelo grupo L7; E uma infinidade de exemplos.

O heavy Metal certamente não é o gênero mais correto. Ódio e violência são problemas relacionados à sociedade corrompida pelo desprezo político e à desorganização social e não a um estilo musical. Não me aborreço apenas como fã do Heavy Metal, mas também como acadêmico de jornalismo, que assiste a tamanha irresponsabilidade e desprezo pelo espectador que assiste ao jornal.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Chico Buarque - A casa do Oscar

A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno
para os lados do Iguatemi, havia o ante-projeto presente no
próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar
na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu
pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava
dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num
aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o
terreno no Iguatemi. Deste modo, a casa do Oscar antes de
existir foi demolida, ou ficou intacta, suspensa no ar como
a casa do beco de Manuel Bandeira. Senti-me traído,
tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço
contra a minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha
e normanda: ‘Só volto pra casa quando for a casa do Oscar!’



Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto
do Oscar. Vivi um seis meses naquele casarão do Oscar, achei
pouco. Decidi a ser o Oscar eu mesmo, regressei a São Paulo,
estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o
pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia que me
reprovou no exame oral, respondi calado: ‘Lá em casa tem um
canudo com a
casa do Oscar...’



Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim.
Quando minha música sai boa, penso que parece música de Tom
Jobim. Música de Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar.(Chico Buarque)