sábado, agosto 23, 2008

Morreu anteontem, aos 90 anos, de AVC. Deixa três filhos e um neto

Aprendi – há pouco tempo, não por curiosidade, mas por indicação –, que são nas páginas dos obituários que ainda sobrevivem os bons textos do jornalismo impresso. Não por morbidez, mas por essa sessão abrigar lições diárias de como ilustres desconhecidos podem ilustrar conhecidas histórias. A tradição não é muito utilizada por aqui (poucos jornais destinam repórteres aos obituários) devido a cultura íbero-americana de relacionar a morte à dor e silêncio, mas, em países de origem anglo-saxã, que costumam celebrar a passagem dessa para melhor, é quase obrigatório prestigiar uma boa morte no café da manhã.

Uma das sessões mais prestigiadas do The New York Times, o obituário é considerado, hoje, o último refúgio do jornalismo literário, que teve origem por lá, na década de 1960. Inclusive, grandes nomes do New Journalism se dedicaram ao mórbido ofício, como Gay Talese. Robert McG e Alden Whitman – considerado o pai do obituário moderno, “o homem que deu vida ao obituário” – são dos mais conhecidos redatores da célebre sessão do jornal mais lido do mundo.

E engana-se quem pensa que o obituário está morrendo. O NYT inovou na sessão, dada por muitos como ultrapassada e fadada ao falecimento. O “The Last Word”, no site do jornal, possibilita ao sujeito gravar seu obituário em vídeo. O primeiro foi o humorista Art Buchwald, que escreveu no próprio jornal, no Herald Tribune e em mais uma gama de periódicos.

No Brasil, “O Livro das Vidas” – Matinas Suzuki Jr. (org.), Denise Bottmann (trad.), 312 pg., Companhia das Letras, São Paulo, 2008; R$ 48 – é uma boa oportunidade de conferir a compilação dos melhores obituários escritos para o NYT, nas últimas décadas. "A seção de obituários do Times é uma cerimônia de adeus diária de bom jornalismo e uma das campeãs de leitura do jornal mais influente do mundo. Há quem pense que a valorização do obituário pela imprensa de língua inglesa seja um ritual de morbidez, mas isso é uma falsa impressão", escreve Suzuki, no posfácio da edição.

+ Sobre:

Veja o “The Last Word”, de Art Buchward

Entrevista com Matinas Suzuki, organizador d' "O livro das Vidas"

Fique por dentro

Entre os jornais brasileiros, a Folha de S. Paulo reserva preciosas linhas diárias às memórias de almas desconhecidas. Os textos ficam no caderno Cotidiano, assinadas pelo repórter Willian Vieira. Assinantes da Folha ou do Uol podem acompanhar a sessão na versão on-line. A Revista piauí – sessão "Despedida" – e o Globo também dispensam atenções às mortes fresquinhas.



sexta-feira, agosto 15, 2008

Grupos de investimento invadem o futebol

A prática não é nova e, certamente, esse filme você já viu: no auge do campeonato, seu time do coração disputa as primeiras colocações e, mesmo a contragosto do clube e da torcida, os principais jogadores são negociados ao futebol do exterior*

Renan Damasceno - Portal Uai

Desde a implantação da Lei Pelé, há 10 anos - que veio para acabar com a "escravidão" dos jogadores de terem seu passe preso estritamente a clubes de futebol -, pipocaram empresários, grupos de investimento, donos de supermercado, hospital e banqueiros bem dispostos a lucrarem com atletas e aproveitarem da penúria financeira das principais equipes brasileiras.

A invasão de terceiros no futebol, em evidência nas principais negociações milionárias dos últimos anos - especialmente para times europeus e do Oriente Médio -, foi um dos efeitos colaterais da lei, em vigor desde março de 1998. "Efeito colateral" pois nem sempre o interesse desses investidores são os mesmos dos clubes e torcedores e, sim, a busca por lucros cada vez maiores. A intenção é fazer dinheiro e não "amor à camisa".

Em entrevista recente ao repórter Andrew Downie, do The New York Times (matéria Trading in soccer talent, de 19 de julho), o empresário Thiago Ferro, parceiro no departamento de investimento em futebol do Grupo Sonda, revelou que o grupo investe em média US$ 10 milhões por ano em novos talentos e que os valores estão crescendo rapidamente por causa dos lucros, que, segundo ele, chegam a 150% ao ano.

*A matéria na íntegra você confere no Portal Uai - Estado de Minas.

Leia também:

* Há 10 anos, Grupo EMS Sigma Pharma participa de negociações no Cruzeiro
* Conheça algumas das empresas que investem pesado em jogadores


segunda-feira, agosto 04, 2008

Quarteirões do Jazz - Belo Horizonte


Quando dois ou três iniciantes no jazz sentam para botar as histórias e os novos acordes em dia, não faltam suspiros. Todos, sem exceção, reclamam saudosamente de não ter mais aquelas jam session de antigamente, de não existir mais grandes quintetos como os de Miles Davis – com direito a Herbie Hancock, ao piano; Wayne Shorter, ao sax Ron Carter, ao baixo; e Tony Willians, à bateria – e de, ao caminhar pelas ruas, não correr mais o risco de tropeçar em um Charlie Parker, um Chet Baker ou em uma Billie Holiday, à beira de uma overdose de heroína.

No entanto, quem mora em BH tem tido pouco a reclamar. É possível, até com pouca grana, assistir apresentações de primeira, para New Orleans nenhuma botar defeito. O reduto principal é o Conservatório Music Bar. Às terças, instrumentistas conhecidos por aqui e pelo resto do mundo se reunem no estreito palco para um repertório que vai de risos e improvisos a clássicos do fusion e do cool jazz.

Outras boas opções são as cafeterias, que parecem ter cansado das seleções automáticas dos leitores de .mp3 e voltado a apostar nos bons e velhos quartetos e quintetos. Entre as casas estão: o Café do cinema Belas Artes, às quintas, o Café com Letras, aos sábados, além de apresentações periódicas no Status, no Café do Sol e no Bar Marquês.

Pode ser que, daqui uns 50 anos, dois ou três iniciantes no jazz sentem para botar as histórias e os novos acordes em dia e, com suspiros, reclamem saudosamente de não existir mais jam session como aquelas com Neném e Beto Lopes, bons grupos como o All Star Jazz Band e de, ao caminharem pelas ruas de BH, não encontrarem cafeterias e barzinhos ao som de Chico Amaral, ao sax, Enéias Xavier, ao baixo, e Magno Alexandre, à guitarra.

Confira os bares

Conservatório Music Bar – Rua Timbiras, 2041 - Lourdes: (31) 3213-8375

Café com Letras – Rua Antônio de Albuquerque, 781 - tel: (31)3225-9973

Café Status – R. Pernambuco, 1150 - tel: (31) 3261-6045

Café do Sol – Av. Contorno, 3301 - Santa Efigênia (31) 3463-8989

Bar Marquês – Marquês de Maricá, 56 - Sto. Antônio (31) 3293-8256

* A programação das apresentações de Jazz, em agosto, em BH, você confere no Clube do Jazz.

Fique por dentro

Agosto começou com os ouvidos afinados. A sexta edição do Savassi Festival – Jazz e Lounge agradou novamente o público, que lotou os quarteirões próximos à praça do bairro. O destaque ficou por conta do encerramento com Toninho Horta e um dos bons momentos foi a apresentação do simpático quarteto dinamarquês Engstfeld-Weiss Quartet. Ainda falta ao público um pouco mais de ligação com a música, para que o festival não se transforme em quase uma festa rave, como aconteceu próximo ao palco Tim, em frente ao Café com Letras.