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quarta-feira, junho 15, 2011

Borges e eu



Há seis anos, entre as estantes tortuosas e labirínticas de um sebo do Prédio Maleta, no centro de Belo Horizonte, encontrei um livro de Borges, à penumbra de tantos outros de poesia. Não era a seção mais indicada para encontrar a obra desse contista universal, mas se tratava de Elogio da Sombra, de 1969, quando o argentino contava 70 anos e convivia com a cegueira, que o obrigou a buscar a essência das palavras desmascaradas nas métricas da poesia.

Instigado a conhecer aquele escritor, que já ouvira falar em reportagens sobre Buenos Aires e num dossiê feito pela revista Cult em seu aniversário de segundo ano, não hesitei em abrir
o livro fininho em uma página aleatória: The Undening gift, ou O Infinito Presente (tradução livre, uma vez que o tradutor Carlos Nejar preservou o título original) foi meu aleph, uma porta de entrada, para tentar desvendar esse labirinto de espelhos que forma a obra de Borges, dispersa por mais de cinquenta anos de dedicação à produção literária e ao esforço bibliotecário de comprender os grandes autores e clássicos, do ocidente de Dom Quixote ao oriente d'As Mil e uma noites.

Há um ano estive em Buenos Aires e conheci o bairro em que Borges cresceu, na rua Serrano, em Palermo (foto). Ele nasceu em uma casa da rua Tucumán, 840, na região central, mas a residência não existe mais. Em 1944, Borges e sua mãe se mudaram para um exíguo apartamento à rua Maipú, também no centro, onde o escritor viveria por 41 anos. Lá, Borges ditou à sua mãe suas principais obras: O Aleph, O Informe de Brodie, entre outros.
Meu preferido é a coleção de contos de Ficciones, escritos entre 1941 (Primeira parte: O Jardim de Caminhos que se Bifurcam) e 1944 (Segunda parte: Artifícios). Nele recortamos alguns elementos que fascinavam Borges: os labirintos, os espelhos, a memória, a biblioteca e os catálogos inimagináveis, os pampas, a literatura anglo-saxônica e os clássicos gregos ou de língua espanhola.

Há 25 anos (em 14 de junho de 1986, ano em que nasci), Borges partia deste mundo, como bem definiu o jornalista Ariel Palácios, do Estadão, "para tornar-se tal como em seu poema sobre sua amada Buenos Aires em 'eterno como a água e o ar'".



THE UNENDING GIFT



Um pintor prometeu-nos um quadro.
Agora, em New England, sei que morreu. Senti, como
outras vezes, a tristeza de compreender que somos como
um sonho. Pensei no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são imortais.)
Pensei em um lugar prefixado que a tela não ocupará.
Pensei depois: se estivesse aí, seria com o tempo uma coisa
mais, uma coisa, uma das vaidades ou hábitos da
casa; agora é ilimitada, incessante, capaz de qualquer
forma e qualquer cor e a ninguém vinculada.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como uma
Música e estará comigo até o fim. Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa
Há algo imortal.)

quinta-feira, maio 20, 2010

Ah, sempre Borges.







"Sem leitura não se pode escrever. Tampouco

sem emoção, pois a literatura não é, certamente,
um jogo de palavras. É muito mais. Eu diria que a
literatura existe através da linguagem, ou melhor,
apesar da linguagem."

Jorge Luís Borges

quinta-feira, outubro 01, 2009

Santiago, o memorioso


Assisti, com mais de dois anos de atraso, ao documentário Santiago, de João Moreira Salles, que esteve na programação do Canal Brasil semana passada, no É Tudo Verdade. O filme sobre o excêntrico mordomo da família Moreira Salles me fez lembrar, do começo ao fim, do conto Funes, o memorioso, que compõe o livro Ficciones, do argentino Jorge Luís Borges.

O reli depois de anos. Funes, por um acidente, é dotado de uma memória prodigiosa, capaz de decorar tomos de Plínio, mapas do tamanho físico de uma cidade e recordar das 24 horas de um dia. Por isso, fica relegado ao quarto dos fundos de uma velha fazenda, no escuro.

Santiago, decendente de italianos radicado no Brasil, também é dotado de memória invejável. Datilografou resmas de papel com notas sobre atores do cinema e teatro, cantores, músicas e gente da sociedade carioca. Tentou deixar de herança ao mundo um pouco de tudo aquilo que guardou mais de meio século na lembrança. Assim como Funes, Santiago vivia só, em um pequeno quarto dos fundos da mansão dos Moreira Salles, em...... Bem, não tenho a memória deles...

Digno de nota também a auto-crítica de João Moreira ao final do documentário: "Por mais que tentasse tirar expressões naturais de Santiago, ficava claro que ele era o Mordomo e eu, o filho dos donos da casa". E se memória é o eixo do documentário, João pode, ao retomar o material filmado em 1992, reconstruir um pouco de sua história e de seus irmãos.

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+ Sobre documentários neste blog:

Documentário Brasileiro do Século XXI
Edifício Master – a solidão no meio da metrópole
Waldick – Durango Kid à brasileira
Leon Hirzsman – Deixa que eu falo
Estamira – O olhar que tudo pode ver e tudo pode revelar
Glauber Rocha - Maranhão 66/Senado 09
Heavy Metal - Ruído das Minas

+ Sobre Borges neste blog

Borges vai ao cinema
Borges - James Joyce


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terça-feira, maio 19, 2009

Borges vai ao cinema


Antes de dirigir os dois filmes que o colocaram na linha de frente da Nouvelle Vague – Hiroshima, meu amor, 1959, e Ano Passado em Marienbad, 1961 –, Alain Resnais se dedicou à documentação em curta-metragem. Os cinco principais, reunidos na Mostra dedicada à sua carreira, no Cine Humberto Mauro, já bastariam para coroá-lo como um dos mais inventivos e contestadores estéticos do cinema, afirmação endossada por André Bazin, que cita Gérnica (1950) em sua obra “Pintura e cinema”.

Nos três primeiros anos da década de 1950, Resnais se dedicou à bela obra anti-racista e anti-colonialista “As estátuas também morrem” (1953), sobre as artes negras e, dois anos mais tarde, atinge a maturidade em Noite e Nevoeiro (1955), que caminha pelos campos de concentração nazistas. Os travellings do diretor nos faz passear pelos pavilhões abandonados, sob o céu rosa de outono, mescladas às cenas de arquivo monstruosas, do regime hitleriano, para Ahmadinejad nenhum duvidar.

Na década anterior, na Argentina, Jorge Luis Borges, passava seus dias entre a Biblioteca Nacional, na qual seria bibliotecário nos anos seguintes, e as famosas leiterias, tradicionais na Buenos Aires da primeira metade do século – a única que Borges recorda, uma vez que perdeu a visão prograssivamente, deficiência que o obrigou a dedicar-se unicamente aos poemas.


Apreciando as infinitas estantes, com inúmeras prateleiras e incontáveis obras de Stevenson, Quevedo, Ibsen e várias edições de Dom Quixote e As Mil e uma Noites – alguns de seus autores e obras preferidos –, Borges imaginou a Biblioteca de Babel (Ficciones, Mar del Plate, 1941), um universo com galerias em formato hexagonal, talvez sem fim. “A Biblioteca é uma esfera, cujo centro cabal é qualquer hexagono, cujo a circunferência é inacessível”.


Em minha curta experiência cinematográfica – ainda menor literária –, sempre imaginei como a grandiosidade e a imaginação criativa e visionária de Borges poderia ser traduzida para o cinema. Seria mais cabível em uma ficção, mas fui encontrá-lo, na primeira poltrona do cinema, no documentário Toda a memória do mundo, dirigido por Resnais, 1956, sobre a rotina de classificação e preservação dos livros na Biblioteca Nacional de Paris. E nada mais borgeano, que o prefácio preparado para a exibição: “De corredor em corredor, de livro em livro, desdobra-se o labirinto”.

Como na obra Borges, as artes também se bifurcam.

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quinta-feira, maio 04, 2006

EspaçoLiteratura - Jorge Luís Borges


James Joyce
( in Elogio das Sombra, Borges, 1969)

Em um dia do homem estão os dias
do tempo, desde o inconcebível
dia inicial do tempo, em que um terrível
Deus prefixou os dias e agonias,
até aqule outro em que o umbíquo rio
do tempo terrenal torne a sua fonte,
que é o Eterno, e se apague no presente,
no futuro, no passado o que agora é meu.
Entre a aurora e a noite está a história
universal.Do fundo da noite vejo
a meus pés os caminhos de hebreu,
Cártago aniquilada, Inferno e Glória.
Dá-me, Senhor, coragem e alegria
para escalar o cume deste dia.


Borges, Jorge Luís ( 1889 - 1986) - Escritor. Considerado o maior poeta argentino de todos os tempos e um dos maiores escitores da Literatura mundial.
Meu guia pelos labirintos da escrita, uma fonte inesgotável de conhecimento e uma mescla requintada de experiências literárias de toda parte do mundo.
Borges é uma biblioteca que me atrevo a conhecer.

+ Borges na Internet:
Textos - www.releituras.com/jlborges_menu.asp
Biografia e entrevista - http://www.secrel.com.br/JPOESIA/jlb.html
Sobre a obra - www.terra.com.br/almanaque/vidaeobra/borges.htm
Crítica Literária - http://www.tanto.com.br/cassia-artigo.htm