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sábado, junho 04, 2011

terça-feira, novembro 02, 2010

sábado, julho 03, 2010

Rio technicolor - Copacabana Palace (1962)


(via @luisnassif)

Produção Franco/ Italiana/ Brasileira de 1962, Copacabana Palace é um filme que não passaria de médio não fosse a qualidade da trilha sonora, onde estão presentes João Gilberto, Tom Jobim, Luis Bonfá, Os Cariocas e Norma Bengell. Além disso, as imagens em Technicolor de um Rio de Janeiro do princípio da década de 60 são belíssimas.

O filme começa com um avião da Panair pousando no Santos Dumont, enquanto, na trilha sonora, uma cantora italiana emite em bom português os acordes de ‘Samba do avião’. Mylene Dèmongeot, que - parece - teve um caso com Tom Jobim no Rio, até hoje conta que a música foi composta para ela.

Três estrangeiros desembarcam no Rio: uma princesa (Mylene), que chega cheia de fantasias de passar três noites de amor tórrido com o amante que trouxe da Europa; um golpista que banca o milionário para roubar as jóias de milionários de verdade; e uma aeromoça (Koscina), que quer aproveitar a escala no Rio para travar um contato mais profundo com um artista brasileiro que tinha conhecido em Lisboa: Tom Jobim!!! Todos se hospedam no Copacabana Palace.







terça-feira, março 16, 2010

Lesson 1 - O dia em que Tom entortou o jazz americano




-Yeah, 'cause the rhythm section does..
-(...) ........ahm... (...) You mean the rhythm section?...
DAP-DADAP-DADAPDA-DA-DAAAA-DAP -DADAPDA-DAP-DAP DAP!

-Eh, um... Yeah, like, I play it backwards because bla...
-DAP-DADAP-DADAPDA-DA-DAAAA-DAP-DADAPDA-DAP-DAP DAP!





segunda-feira, março 15, 2010

O novo encontro de João com a música. E do mundo com João


O recluso João Gilberto, aos 78, gravará novas versões para Insensatez (de Tom e Vinícius) e Louco (Wilson Batista/ Henrique de Almeida), além de um tema inédito de sua autoria. Compositor eventual, João compôs ao menos 12 canções ao longo de 61 anos de carreira. As informações são da Ilustrada, na Folha de S. Paulo de hoje. (Matéria "João Gilberto grava novas canções").

As três músicas farão parte da trilha sonora de O Gerente, novo filme do também veterano Paulo César Saraceni que, desde suas duas obras essenciais do Cinema Novo (Porto das Caixas, 1962, e O Desafio, de 1965), não tem produzido nada de relevante. Sua assiduidade atrás das câmeras, aliás, não tem sido melhor que de João ao microfone – em 20 anos, lançou apenas quatro filmes, todos sem expressão.

Os dois se conhecem desde a década de 1980, quando o diretor começou, em parceria com Leon Hirszman, as gravações de Bahia de Todos os Santos. O documentário mostra espetáculos ao ar livre de músicos baianos em Roma, em 1983. Estiveram lá Caymmi, Caetano, Tom Zé, Moraes Moreira, Gil e o próprio João. As músicas que serão regravadas esse ano são duas das quatro que João apresenta no filme. Estate, dos italianos Martino e Brighetti, e Wave, de Tom, foram as outras duas.

A admiração de João Gilberto pelo poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) pode ter contribuído para que ele decidisse participar do projeto de Saraceni. Em Chega de Saudade, Ruy Castro narra o episódio em que João, ainda desconhecido, ao avistar Drummond no centro do Rio, abordou-o, chamou-o de mestre e pediu um autógrafo.

João Compositor

A música inédita já começou a ser esboçada por João no apartamento em que vive no Leblon. A canção será instrumental, possivelmente cantarolada. Apenas ele e o violão, como nos registros de algumas de suas poucas músicas autorais. Para que João as grave, foi montado um estúdio onde mora, com alguns equipamentos trazidos dos EUA.

Das composições de João, as mais famosas são Oba-La-La e Bim-Bom, lançadas nos anos 1950.

Saiba Mais

Para saber mais de João Gilberto neste blog, experimente vê-lo interpretando Estate, em Roma, neste post aqui. Também foi citado no post sobre as façanhas de Dick Farney e sobre o Sinatra-Farney Club. Mais post de Bossa Nova, aqui. Já o parceiro de Saraceni em Bahia de Todos os Santos, o diretor Leon Hirszman, recebeu comentário sobre sua cine-biografia, Deixa que eu Falo, lançada em 2008. Mais sobre Cinema Novo, aqui.

terça-feira, março 09, 2010

A revisão de guardas envelhecidas

João Marcos Veiga

A música popular brasileira, apesar da riqueza e diversidade produzidas no último século, ainda não cumpriu um processo completo e satisfatório de digestão de suas influências, pilares e pedras fundamentais. Passados mais de cinquenta anos, a Bossa Nova continua suspeita de ser um desdobramento do jazz americano; ainda não se sabe ao certo – ou não se quer saber – qual foi a real contribuição da Tropicália para a cultura do país, e seu principal representante, Caetano Veloso, é visto como um poço de contradição, pra não dizer incompreensão; o rock dos anos 80 leva o selo de um som comercial, superficial e sem muitas novidades.

Outro movimento que paira indefinido nas mentes, ouvidos e corações de ouvintes, músicos e críticos é a Jovem Guarda. Os meninos que empunhavam longos cabelos, jaquetas, motos vermelhas e guitarras que levavam ao delírio o público feminino – ao passo que faziam moda entre os desprestigiados nessa briga – foram submetidos a contundentes críticas nas últimas décadas, principalmente quando comparados aos outros movimentos da época.


Independente de opiniões e posições, os clichês só colaboram para continuidade de um país que não sabe lidar com suas artes.

O mais recente trabalho do ex-titã Arnaldo Antunes, nesse sentido, colabora de forma importante para essa revisão. O título do álbum, “Iê Iê Iê”, está no inconsciente coletivo brasileiro e naturalmente remete a uma série de sonoridades e temáticas – para ficar apenas no âmbito da música. E é exatamente isso o que se encontro nas doze faixas do disco. Logo na capa, uma imagem que dialoga com a cultura pop e com o cinema e Hqs americanos sugere o que está por vir. Está ali o obrigatório timbre do órgão Hammond, vocais simples e batidas dançantes, letras fáceis e meladas, guitarras coloridas e rompantes perfeitos para a histeria dos anos 60.


A proposta não é o que pode se dizer de uma releitura, como a feita por Fernanda Takai, com tutoria de Nelson Mota, sob as interpretações bossa-novísticas de Nara Leão. Nessa empreitada, Arnaldo Antunes incorporou o espírito da Jovem Guarda em todos sentidos, ecoando a aura de Roberto, Erasmo e companhia a cada faixa. Em “Invejoso”, vem a mente as rixas de casais, o ronco dos carros (ou calhambeques) e os objetos materiais (como casacos de couro), que valiam tanto quanto harmonias e melodias.

Na canção de mesmo nome do álbum, o tema é o sucesso, as rádios, a superação e seus frutos – no caso as mulheres conquistadas. “Sua Menina” apela para a consciência de que nem toda mulher gosta de um homem cafajeste.
De forma curiosa, “Iê Iê Iê”, que apresenta uma homenagem de um roqueiro dos anos 80 ao movimento que marcou a década de 60, antecipa o “Rock” do Tremendão. Esse também é o nome de um disco de John Lennon, influência central da Jovem Guarda.

Ao lado de Arnaldo, aparece uma série de colegas tribalistas (Marisa Monte e Carlinhos Brown) e titãs (Sérgio Britto, Marcelo Fromer e Paulo Miklos). Todos eles, provavelmente, também sofreram uma enxurrada de Rita Pavone, Beatles, surf music, twist e programas de auditório quando crianças e adolescentes. A novidade ficou por conta da produção de Fernando Catatau, da emergente banda cearense “Cidadão Instigado”.


Depois de um disco de estúdio, “Qualquer”, e um DVD com registro ao vivo, ambos com pegada mais leve e intimista, Arnaldo se disse em busca de uma “sonoridade mais dançante”. E como ele mesmo conta, ao contrário de seus outros trabalhos, neste o título nasceu antes. De forma deliberada, nada apareceu por acaso: “Iê Iê Iê” foi planejado e executado, sem dúvida com qualidade.

O álbum não traz surpresas musicais – transparece, de forma honesta, um tom de homenagem declarada. Isso não pode ser visto, no entanto, de forma simplista quando se trata de Arnaldo Antunes. No vácuo da falta de referências intelectuais da década de setenta pra cá, ele se posicionou como um artista versátil, transitando do rock enérgico dos Titãs dos anos 80 ao experimentalismo em vídeo e poesia dos anos 90, passando pelo suspeito “Tribalistas” e por letras e versos que resgatam o concretismo dos anos 60.


Quase de forma imperceptível, Arnaldo imprime um tom próprio em faixas como “Envelhecer.” Apesar do ritmo alegre, a letra, que fala da perda de cabelo e do tempo que cruelmente não espera, faz um contraponto à jovialidade a flor da pele da Jovem Guarda. Aqui se estabelece um diálogo criativo entre temáticas e sonoridades. Em “Um Kilo”, os temas cotidianos e triviais do movimento em questão são incorporados pelo olhar poético de Arnaldo, num jogo de palavras onde o rei não se sentiria muito em casa.

“Iê Iê Iê” aparece como um bom trabalho num momento de releituras, homenagens e muita falta de criatividade. Emerge a figura de um artista que não tem medo de expor suas influências e de alternar discos “sérios” com outros “comerciais e dançantes”, porém sempre amparado por bons instrumentistas e por uma produção competente.

O álbum, contudo, passa longe de ser algo ousado e que mereceria estar num patamar louvável dentro da música brasileira – talvez até pela impossibilidade de trabalhar um estilo restrito, previsível e empobrecido estética, melódica e harmonicamente. Fica a homenagem de um bom artista a um movimento que marcou uma geração. Nada mais.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Querelas em torno de Tom


Da coluna de Ruy Castro, semana passada na Folha:


Ontem (8 de dezembro, grifo meu), 15 anos da morte de Tom Jobim. Bem à brasileira, o silêncio pela data foi esmagador. Alguns clipes e rádios lembraram sua música, mas não se observou nada especial ou novos CDs que não contivessem os mesmos e tão sovados fonogramas. E ainda há muito de Tom a descobrir. Principalmente nas catacumbas das gravadoras Continental e Odeon, em que ele trabalhou como arranjador ou maestro, em discos de Dick Farney, Dalva de Oliveira, Orlando Silva e outros.

Nas últimas semanas, Tom tem sido mais citado em querelas que passam ao largo de sua obra. Outro dia, no próprio aeroporto que o homenageia, o Galeão-Tom Jobim, um urubu distraiu-se e entrou pela turbina de um avião que acabara de decolar, o qual teve de voltar à pista. Isso vive acontecendo.
O cruel é que aconteça com urubus, que Tom adorava, e, com frequência, no Galeão, palco de manchetes indignas de sua memória:

"Tom Jobim atrasa 20 voos", "Tom Jobim caindo aos pedaços", "Cocaína apreendida no Tom Jobim". Foi para isso que deram seu nome ao aeroporto?


Outro arranca-rabo envolve a nova saída do metrô carioca a ser inaugurada: a de Ipanema. Alguns querem chamá-la de Tom Jobim; outros, de General Osório, em cuja praça fica, para que os turistas não a confundam com o aeroporto. Ao mesmo tempo, corre a pendenga sobre a localização de sua futura estátua: na praia ou na dita saída do metrô? E há os que querem mandar de vez para a reserva o velho Osório e dedicar a praça a Tom, que tanto a amou e namorou nela.

Em São Paulo, Tom Jobim (assim como Paulo Autran e Ayrton Senna) é um túnel. Mas, se a ideia de batizar um logradouro é o grande homem ter o seu nome imortalizado em envelopes, postais, telegramas etc., esta se frustrou -porque ninguém escreve para um túnel.

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Neste blog, Tom foi citado no artigo A história e as histórias do Farney-Sinatra Club e em outros textos sobre a Bossa Nova. Sobre Dick o Moviola publicou "As façanhas de Farnésio". Do Ruy Castro, esta salada mista aqui ó.



sábado, novembro 07, 2009

#videodasemana: João Gilberto - Estate (1983)


João Gilberto interpretando Estate, gravado no álbum Amoroso, em 1977. Os autores, como me alertou um Anônimo, são Bruno Martino e Bruno Brighetti. Os erros têm sido constantes por aqui. Felizmente!

sexta-feira, outubro 16, 2009

A história (e as histórias) do Sinatra-Farney Fan Club

Celinha me escreveu ensandecida reclamando a maternidade do Sinatra-Farney Fan Club à sua avó, Didi Reis. Em texto publicado nesta Moviola, em abril, atribuí erroneamente a criação do clube aos compositores Carlos Lyra e Roberto Menescal. Puro descuido de apuração e falha de memória.

Celinha, que não deixou e-mail, lenço nem documento, me indicou a leitura de Chega de Saudade, de Ruy Castro, para me interar melhor do assunto. O li há uns quatro anos. Mas como sou aplicado resolvi ler trechos novamente.

O Farney-Sinatra Fan Club, sediado na Tijuca, no Rio, fora criado para homenagear os cantores Dick Farney e Frank Sinatra. Segundo Castro, foi o primeiro fã-clube brasileiro. Iniciou suas atividades no porão da casa da avó de Celinha, mãe de Didi, e teve apenas 17 meses de vida – de fevereiro de 1949 à julho de 1950. E eis a ratificação: fora criado pelas meninas Joca, Teresa e Didi Reis.

Carlos Lyra era sócio, me alertou Celinha. Assim como João Donato, Johny Alf e tantos outros que já respiravam ares de Bossa Nova dez anos antes da gravação do Chega de Saudade, por João Gilberto.

Celinha me confidenciou na mensagem que está escrevendo um livro sobre a história do fã-clube. Fico no aguardo. Sempre bom existir registros para evitar que blogueiros cometam injustiça.

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+ Música Brasileira neste blog:

As façanhas de Farnésio
Afinal, o que é MPB?
Dizzy com Mocotó
Woodstock à mineira


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segunda-feira, julho 20, 2009

Woodstock à mineira

Está no Estado de Minas de hoje, 20/07/2009:

Por mais que os protagonistas neguem, um novo Clube da Esquina pode estar vindo à cena, mais especificamente em Três Pontas, onde Milton Nascimento e Wagner Tiso acabam de gravar as bases do novo disco de inéditas (com algumas regravações) de Milton, sob a produção de Tiso, com direito a participação do gr
upo Ânima Minas e dos cantores, compositores e instrumentistas Heitor Branquinho, Fernando Marchetti, Ismael Tiso, Adriano Kamizaki e André Duarte, entre os cerca de 20 jovens artistas três-pontanos, praticamente desconhecidos, que vão participar do projeto.

Terra natal de Bituca e Wagner, que, em Belo Horizonte, se juntaram aos descendentes das famílias Borges, Brant, Guedes e Horta para escreverem um capítulo à parte da música popular brasileira, a cidade de 55 mil habitantes, no Sul de Minas, vive hoje um momento de intensa atividade artístico-cultural.

A presença dos filhos ilustres parece ter sido o gancho que faltava para a reedição do lendário festival de música que, naquelas plagas, ficou conhecido como o Woodstock mineiro. De 10 a 13 de setembro, Milton Nascimento, Wagner Tiso, Jon Anderson (ele mesmo, o vocalista do Yes), Toninho Horta, Ivan Lins, Jorge Vercilo, Tom Zé, Ricardo Herz, Didier Lockwood, Wilson Sideral e outras prováveis atrações vão reviver aquela histórica tarde-noite-madrugada de 30 e 31 de julho de 1977, que conseguiu levar milhares de pessoas para o meio do pasto da Fazenda Paraíso.


Lá, se apresentaram para o delírio da plateia formada de três-pontanos e forasteiros de toda parte Milton Nascimento, Chico Buarque, Fafá de Belém, Clementina de Jesus, Francis Hime, Gonzaguinha, grupo Azimuth e outros convidados. “A coisa mais bonita daquilo tudo foram as pessoas que chegaram numa boa, sem cobrar nada, e cantaram em um dos morros mais bonitos da cidade”, recor
da Bituca.

Agora intitulado Festival Música do Mundo, o megaevento que será realizado em vários locais de Três Pontas, em setembro, poderá vir a integrar o calendário cultural da cidade. “Além de uma paisagem belíssima, somos um povo altamente musical”, diz Wagner Tiso. Em 1977, Tiso apresentou apenas uma música, já que tinha compromisso acertado com Gal Costa, que estava em turnê pelo Brasil.


O show maior da nova edição do chamado Woodstock mineiro será realizado no sábado (12 de setembro), no parque multiuso que a prefeitura da cidade está construindo em homenagem a Wagner Tiso, na Rodovia Três Pontas, na localidade conhecida como Vila Boa Vista.


Segundo Maurinho Bueno, coordenador de programação da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Turismo, que também preside o Centro Cultural Milton Nascimento, a Prefeitura de Três Pontas vai se responsabilizar pela logística, cabendo à Marola Produções, da jornalista Maria Dolores, autora da biografia Travessia – A vida de Milton Nascimento, a produção do festival.

Dez shows, além de apresentações paralelas em oito bares, fanfarras e folias de reis, uma tradição à parte da cidade, estão na agenda. Na biografia de Milton, a jornalista mineira dedica três páginas ao célebre festival, lembrando que Três Pontas, então com 37 mil habitantes, viu a população praticamente dobrar naquele dia. Apesar da praga rogada pelos opositores, segundo ela, a festa foi um sucesso, com direito a chá de cogumelo, maconha e a bebidas, tão comuns aos remanescentes do movimento hippie que correram para a cidade.

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Tostão por Chico Buarque
Sobre fome, queijos e digestões
Dizzy com Trio Mocotó
Afinal, o que é MPB?

sexta-feira, junho 19, 2009

Fim de Semana – Sobre queijos, fomes e digestões


Por João Marcos Veiga*

Novos aromas desenham no ar um cheiro de mudança ou, ao menos, de recomeço. Há pouco mais de um ano, o queijo – esse âmago, essa quintessência da mineiridade – foi elevado ao status de patrimônio cultural imaterial do estado. Durante a Expocachaça foi anunciado que, enfim, temos o dia da branquinha. No mês passado, a empresa Forno de Minas, um dos símbolos de nossa pedra filosofal, o pão-de-queijo, deixou de pertencer à insaciável e indigesta economia americana para retornar, depois de dez anos, à família mineira.

Mesa posta para indagar: o Brasil, sintetizado em Minas, continua se contentando com enlatados queimados em microondas ou, de tanto comer cru, começa a achar sua receita no lixo de uma digestão cultural inconstante?

Do lixo surgem alguns instrumentos do liquidificador do Graveola. Num movimento centrípeto, pop, soul, bossa nova, brega e experimentalismo trocam sabores. De um caldo polifônico surge, em vertigem centrífuga, um cheiro de novidade. Ao expor corajosamente suas fontes de inspiração, abrem-se novos canais de escoamento para nossas infinitas – enquanto lutem, posto que há a lama – criações musicais em constante antropofagia.

Em recente artigo, Arnaldo Jabor (aquele que Nelson Rodrigues se referia como o jovem que chupava sorvete em plena Marcha dos 100 mil) declarou que, de tanto o Brasil fazer antropofagia de outras culturas, já estamos em processo de indigestão. Recentemente descobri que a manga não é nossa (Mangifera indica) e que nosso único instrumento genuíno é a ... cuíca.

Enfim, o que é nosso? Nossa é essa sede que seca nossas gargantas roucas; nossa é essa fome que consome nossas estéticas glauberianas que não se rendem. Não somos o pulmão e tampouco as chuteiras do mundo, somos seu estômago. De canibais do século dezesseis, passamos a antropofágicos do século XX para chegar à regurgitofagia da transição de séculos.

A comida está para a criação assim como a culinária está para a cultura de um país. Assim, temperos somente ganham autêntico gosto quando celebram-se os próprios pratos. Apesar da exploração midiática, os cinqüenta anos de Bossa Nova e Cinema Novo e os cem anos do samba são sinais de que não vivemos tanto na solidão e num ensaio eterno de uma cegueira cultural.

Mas os guardiões do limiar estão sempre a postos (lembram da marcha contra a guitarra elétrica?): como explicar a inicial rejeição, tal qual uma criança relutando a comer verduras, ao Transamba de Caetano? Com um rock minimalista em compasso com o samba tal qual queijo e goiabada, o tropicalista reafirma o que todos insistem em não ver desde o “Transa”: a essência está na mudança. Ao cantar o falso Leblon e sentenciar que a Lapa é a síntese do Brasil, Caetano deixa de falar que ele sim é a síntese do Brasil.

O problema, como diria Elis, é que o Brazil não conhece o Brasil. Como dizia Manoel, a única solução, então, é dançar um tango argentino. Quer dizer, como diria aquele de Budapeste, o melhor é botar água no feijão, pois desde Cabral estamos com uma fome e uma sede de anteontem.

*João Marcos VEIGA, 23, é jornalista. Editor do programa Microfonia, da PUCTV
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Resenha – Budapeste





Prato do dia: Dizzy com Mocotó


Está na Folha de S. Paulo, de 18/06/2009

Gravações do jazzista americano com o trio de sambistas, perdidas desde os anos 70, são redescobertas e sairão em CD Álbum foi feito em estúdio de São Paulo, em 1974, durante turnê de Dizzy Gillespie pelo Brasil, e ficou sumido até o início de 2009

Um inédito encontro da música brasileira com o jazz está prestes a chegar ao público. Em 1974, durante uma turnê pela América do Sul, o trompetista norte-americano Dizzy Gillespie (1917-1993), um dos fundadores do jazz moderno, fez gravações com o Trio Mocotó e outros músicos brasileiros, material até hoje nunca lançado.

"Esse disco já tinha virado lenda", diz João Parahyba, 57, percussionista do trio que divide com Jorge Ben os méritos pela criação e difusão do samba-rock. "Tocamos com o Dizzy, mas até hoje não tínhamos prova alguma. Com o lançamento deste disco, o Trio Mocotó passa a fazer parte da história do jazz norte-americano", festeja o músico paulista.

Parahyba conta que o próprio Gillespie já havia se esquecido dessas gravações, quando o reencontrou, em 1987, num festival de jazz, em Estocolmo. "Ele me disse que só se lembrava da empatia que sentiu ao tocar com o Mocotó. O Dizzy gostava de músicos que tocavam mais à vontade, tinha pouco a ver com catedráticos".

De lá para cá, Parahyba fez o que pôde para localizar a fita master que o jazzista teria levado para os Estados Unidos. Só em janeiro último teve acesso a trechos do álbum, depois de receber um e-mail do produtor suíço Jacques Muyal, pedindo que o ajudasse a encontrar os músicos que participaram das sessões de gravação, no estúdio Eldorado, em São Paulo.

Amigo de Gillespie e diretor do selo Laser Swing, Muyal disse ao percussionista que virá ao Brasil, em julho, para tomar as providências necessárias para que o disco possa enfim chegar ao mercado.

"Quase chorei", diz Parahyba, lembrando de sua emoção ao ouvir trechos do disco perdido, 35 anos depois. "Acho que conseguimos juntar a essência do jazz do Dizzy com a essência da música brasileira", avalia, ressaltando a participação do pianista Amilson Godoy, como regente das gravações.

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quinta-feira, maio 07, 2009

Afinal, o que é MPB?


Está na coluna de Ruy Castro, na Folha de São Paulo de 27/04/2009:

MPB não é apenas uma abreviatura de “Música Popular Brasileira”. Antes cêsse, mas não ésse. Quando foi criada, por volta de 1965 ou 1966, significava um tipo de música então emergente, que não se sabia bem o que era – mas já não era bossa nova, não queria mais ser o samba e, muito menos, iê-iê-iê.

Seu primeiro produto, ainda sem o rótulo, pode ter sido ‘Arrastão’, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Logo vieram ‘Lunik 9’, de Gilberto Gil, ‘Upa, neguinho’, de Edu e Guarnieri, ‘Roda Viva’, de Chico Buarque, e outras que, com um certo ‘conteúdo’ em comum, também não se encaixavam em nenhum gênero familiar. Donde só podiam ser ‘MPB’.

Quando a ‘MPB’ minguou, dois ou três anos depois, a sigla sobreviveu e começou a ser aplicada – até hoje – a toda música produzida no Brasil, do padre José Mauricio ao padre Marcelo e de Chiquinha Gonzaga ao É o Tchan. Com isso, deseducaram-se várias gerações quanto à memória da nossa diversidade rítmica, até então classificada por sambas (em suas mil variações), marchas, choros, baiões, frevos, valsas, foxes, baladas, cocos etc. Virou tudo ‘MPB’.

Mas não para sempre, espero. Se o exemplo do MIS vingar, vamos passar a chamar ‘Garota de Ipanema’ de samba, ‘Alegria, Alegria’, de marchinha, ‘Domingo no Parque’, de baião, ‘Travessia’, de toada, ‘Caminhando’, de guarânia, ‘Mania de Você’, de rumba, ‘Beatriz’, de valsa, ou ‘Como uma Onda’, de bolero. Que, muito mais que ‘MPB’, é o que eles são.

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sexta-feira, abril 17, 2009

Fim de Semana - As façanhas de Farnésio


Em 16 de abril foi comemorado o dia da Voz. Não sabia até ligar a televisão para assistir o Pontapé Inicial, melhor programa de esporte da televisão, comandado por José Trajano, na ESPN Brasil. Embora Trajano, ardoroso torcedor do América carioca, tenha se lembrado de grandes intérpretes como Frank Sinatra e Lúcio Alves, cometeu uma injustiça: esqueceu Dick Farney.

Farnésio Dutra e Silva, o Dick, conta Ruy Castro em Chega de Saudade, arrebanhou fãs no período pré-Bossa Nova e continuou afinado com o novo estilo nas décadas seguintes. O Sinatra-Farney Fan Club, fundado por Carlos Lyra e Roberto Menescal, era dos mais populares do Rio e rival do Haymes-Lúcio Fan Club, dedicado a Dick Haymes e Lúcio Alves. Mesmo com a rivalidade dos fãs, os dois brasileiros estavam longe de alimentar qualquer briga, tanto que gravaram juntos discos e clássicos como “Tereza da Praia”, ao lado de “Copacabana”, a mais famosa gravação de Dick.

Para Ruy Castro, Farney foi uma espécie de São João Batista da Bossa Nova – mesmo com pouco mais de 30 anos, já era veterano nas boates, com passagens por Hollywood, padrinho de cantores como Johnny Alf e admirado até por Bing Crosby. Seu arquivo de foto é recheado de personalidades como o próprio Sinatra e Nat ‘King’ Cole.

Mas sua façanha maior é de ter sido, possivelmente, o primeiro a gravar “Tenderly", em 1947. Biógrafos não chegam a uma conclusão, atribuindo o debute também a Sarah Vaughan. Discussões à parte, o intérprete e pianista deixou um playlist enorme de clássicos e versões, em português e inglês...”Inútil Paisagem”, “Fotografia”, “Marina”, “Night and Day”, “This Love of Mine”....

Encontrei, no Youtube, um documentário dedicado a Dick feito pela TV Cultura, em 2007, em sete partes:

quarta-feira, setembro 14, 2005

Anos 80: O fim da música brasileira

A música brasileira é patrimônio de nossa cultura. Esteve ligada, ora na luta social, com estilos gerados nas periferias do país, ora na luta política, sendo uma grande arma de mobilização na luta contra a ditadura militar.Da “Era de Ouro do Rádio”, na década de 40, ao nascimento da Bossa Nova, o Brasil conseguiu respeito no cenário internacional.Nomes como João Gilberto e Tom Jobim conquistaram palcos americanos e gêneros populares como o samba, passaram a fazer parte de nossos registros históricos.

No contexto histórico-político, a música popular, representada principalmente pelos cariocas da Bossa Nova e os baianos do Tropicalismo, tiveram suma importância na mobilização dos jovens na luta pelo restabelecimento da democracia.Muitos deles passaram anos exilados, sendo procurados e torturados.

Enfim chegamos aos anos 80 e inicia-se na música brasileira um período de empobrecimento cultural, influenciado pelas tendências internacionais. Esse empobrecimento fica explicito quando analisamos a qualidade musical desse novo gênero intitulada rock brasileiro.Os acordes bem trabalhados e as músicas bem construídas – características de nossa música popular - dão lugar a músicas de poucos acordes, ma elaboradas e com letras sem significados.

Formado principalmente por estudantes universitários paulistas, cariocas e brasilienses - a maioria de famílias da alta sociedade -, esses “músicos” não correspondia à situação social de grande parte da população.Suas letras, algumas demasiadas sentimentais, outras por uma luta que não existia. Enfim, rebeldes sem causa. Impulsionados pela industria fonográfica, capitalistas sem nenhuma preocupação com a moral.

A derrocada da música atual é conseqüência dessa irresponsabilidade. Ao ligarmos o rádio, não conseguimos ouvi-lo por mais de dez minutos.Houve uma massificação da música.Surgem e desaparecem bandas a todo o momento.Sem nenhuma preocupação despejam letras sem sentido com três ou quatro bicordes mal trabalhados.

O esforço intelectual de nossa verdadeira musica popular brasileira foi destruída por meia dúzia de “bandinhas burguesas”.

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