De uísque em uísque, o cantor Waldick Soriano, de 75 anos e incríveis 18 ‘casamentos’, se tornou o protagonista cult da noite de sábado do CineOP. Compositor de mais de 700 canções, Waldick é uma mistura de presente e passado, de fragilidade e solidão, sob à penumbra da idade e de seu inseparável chapéu.
A principal noite do CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto) parece ter virado um bom terreno para personalidades que se aventuram a sentar na cadeira de diretor. Em 2007, a Vj Marina Person (MTV) usou o mesmo espaço para lançar Person, uma homenagem a seu pai, o cineasta Luis Sérgio Person, diretor de São Paulo S.A (1965). Este ano foi a vez da atriz Patrícia Pillar, que mostra seu primeiro trabalho atrás das câmeras com “Waldick: Sempre no meu coração”, sobre a história e as histórias do cantor brega Waldick Soriano, já com 75 anos.
Considerando as primeiras incursões em direção de cinema, Patrícia Pillar se saiu melhor. Desconstruiu o perfil machão de Waldick, não deixou o roteiro cair em um simples biografismo e usou o tempo a seu favor: em 58 minutos de filme, foi capaz de dosar o sentimentalismo quase inexistente do cantor com seu excesso de sarcasmo e mau humor.
O filme já começa com algumas evocações ao tempo. Waldick volta a sua terra (Caitité, BA) natal para um show. Nas primeiras cenas, a câmera percorre detalhes do cantor e de objetos que dão pistas sobre sua forte personalidade: o terço, o anel, o chapéu. Os planos das estradas, das ruas e da chuva são sempre mais longos. Outra característica: ao contrário de documentaristas viciados, que teimam em dar grandiosidade ao seu personagem, Patrícia coloca a câmera sempre em linha reta. Desta forma, se põe a desmistificar seu protagonista, dando-lhe ares mais humanos.
Os depoimentos de ex-mulheres de Waldick são de grande emoção. No total, foram 18 mulheres e apenas uma paixão: uma ex-prostituta paraense, que morreu quando o casal completava apenas dois meses. E o espantoso: mesmo com as queixas de amor não retribuído todas ainda são apaixonadas pelo cantor e o aceitariam de novo.
Por fim, o documentário se presta a divulgar não só o personagem, mas toda a cultura marginal brasileira. Vários cantores populares sofreram com a censura nos anos de chumbo e muitos, mesmo com músicas que a princípio pareciam inofensivas, eram politizados e não escondiam sua opção pela democracia. Waldick foi mais brasileiro que muita gente da nossa “cultura popular brasileira”. Foi lavrador, garimpeiro, engraxate e se apaixonou, à primeira vista, ao ver o chapéu e a imponência do personagem Durango Kid nos cinemas. Sob o mesmo chapéu, hoje, Waldick é uma mistura de presente e passado, de fragilidade e solidão.
A principal noite do CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto) parece ter virado um bom terreno para personalidades que se aventuram a sentar na cadeira de diretor. Em 2007, a Vj Marina Person (MTV) usou o mesmo espaço para lançar Person, uma homenagem a seu pai, o cineasta Luis Sérgio Person, diretor de São Paulo S.A (1965). Este ano foi a vez da atriz Patrícia Pillar, que mostra seu primeiro trabalho atrás das câmeras com “Waldick: Sempre no meu coração”, sobre a história e as histórias do cantor brega Waldick Soriano, já com 75 anos.
Considerando as primeiras incursões em direção de cinema, Patrícia Pillar se saiu melhor. Desconstruiu o perfil machão de Waldick, não deixou o roteiro cair em um simples biografismo e usou o tempo a seu favor: em 58 minutos de filme, foi capaz de dosar o sentimentalismo quase inexistente do cantor com seu excesso de sarcasmo e mau humor.
O filme já começa com algumas evocações ao tempo. Waldick volta a sua terra (Caitité, BA) natal para um show. Nas primeiras cenas, a câmera percorre detalhes do cantor e de objetos que dão pistas sobre sua forte personalidade: o terço, o anel, o chapéu. Os planos das estradas, das ruas e da chuva são sempre mais longos. Outra característica: ao contrário de documentaristas viciados, que teimam em dar grandiosidade ao seu personagem, Patrícia coloca a câmera sempre em linha reta. Desta forma, se põe a desmistificar seu protagonista, dando-lhe ares mais humanos.
Os depoimentos de ex-mulheres de Waldick são de grande emoção. No total, foram 18 mulheres e apenas uma paixão: uma ex-prostituta paraense, que morreu quando o casal completava apenas dois meses. E o espantoso: mesmo com as queixas de amor não retribuído todas ainda são apaixonadas pelo cantor e o aceitariam de novo.
Por fim, o documentário se presta a divulgar não só o personagem, mas toda a cultura marginal brasileira. Vários cantores populares sofreram com a censura nos anos de chumbo e muitos, mesmo com músicas que a princípio pareciam inofensivas, eram politizados e não escondiam sua opção pela democracia. Waldick foi mais brasileiro que muita gente da nossa “cultura popular brasileira”. Foi lavrador, garimpeiro, engraxate e se apaixonou, à primeira vista, ao ver o chapéu e a imponência do personagem Durango Kid nos cinemas. Sob o mesmo chapéu, hoje, Waldick é uma mistura de presente e passado, de fragilidade e solidão.
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Fique por dentro:
A Mostra de Cinema de Ouro Preto (12 à 17 de junho) chegou à sua terceira edição ainda sem a chancela de grande festival. No entanto, a programação foi bem mais acertada do que a de 2007, que homenageou Nelson Pereira dos Santos. Desta vez, Glauber Rocha e Rogério Sganzerla foram as personalidades lembradas. Além de "Waldick", de Patrícia Pillar, a mostra abriu espaço para outras estréias, como "Diário de Sintra", de Paloma Rocha (filha de Glauber), e "Os desafinados", ficção de Walter Lima Junior, em comemoração dos 50 anos da Bossa Nova.
Um comentário:
Gostaria de dizer que achei ótimo o seu texto sobre Henri Langlois e Maio de 68, publicado no Cinema em Cena. Pensei: "Preciso comentar com o autor desse texto o quanto gostei do artigo". E cá estou. Parabéns!
http://labcultural.zip.net
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