Lionel Messi está para o Tango Nuevo de Astor Piazzolla, assim como Neymar para o samba da velha guarda. O brilhantismo dos dois maiores jogadores de futebol do mundo na atualidade – posso me equivocar em atribuir tal prestígio ao premiado argentino -, subverte alguns conceitos que teimam em se arrraigar no chão de seus países. Enquanto a era Dunga suplanta os acordes alegres do samba de morro, com um jogo mais quadrado que bicordes de heavy metal, Lionel tenta bailar leve e sutilmente sobre as milongas tristes e chorosas dos argentinos.
O futebol de Neymar é curto e certeiro igual samba de Noel, fino que nem composição de Ismael Silva na voz de Francisco Alves, cheio de virtuose à Pixinguinha e malandro do tipo Cartola. É completo e já nasceu pronto, prato cheio para saudosistas que clamam por mais Canhoteiros, Zizinhos e Pelés, num país que não para de produzir volantes – ou transformar armadores em marcadores.
Já Lionel Messi, embora a derrota do Barcelona para o Bayern de Munique na Liga mereça trilha de Corsini ou Magaldi, se espalha pelos gramados do Camp Nou como os dedos de Piazzolla percorrem as teclas do bandoneón. Feito tarântula. Jovem, Messi tem a dura missão de dar brilho e brio ao cada vez mais acinzentado futebol argentino, ainda salvo por Sérgio Aguero, Higaín e o pouco notado Ricardo Noir, escondido no Boca Juniors.
No Brasil, o Santos bagunçou o esquema, assim como João Gilberto leu a cartilha do samba para nos presentear com a Bossa Nova. Já marcou uma centena de gols em quatro meses, jogando com três jogadores no meio-campo com características de armadores e apenas um carregador de piano auxiliado pelos laterais. O esquema é novo? Pode ser, mas o compasso é de samba velho, para nossa alegre apreciação – e felicidade de não encará-los como adversários na Copa.
Ao contrário, esperamos encontrar os argentinos em solo sul-africano. Teremos, para tanto, que enfrentar Lionel Messi e Cia., eliminá-los e fazê-los desabar em lágrimas ao som de um tango interpretado por Carlos Gardel ou Rosita Quiroga. E mostrar aos argentinos que “Que veinte años no es nada”, como canta Gardel em Volver, para vingar o gol de Cannigia na Copa do Mundo, em 1990, na Itália.
*Charge do Neymar, reproduzida do Flickr do Fábio Nada
2 comentários:
Belo texo, cabrón!!
abrazos rotos,
xuanzito
texto
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