De maior ídolo a mercenário e ingrato, Ronaldo sucumbe
Tempo, implacável nocauteador. Aos 34 anos, Ronaldo vai anunciar hoje (14/01), em entrevista coletiva, sua aposentadoria do futebol, após quase duas décadas de brilhante carreira. Frustrado com a eliminação do Corinthians na Libertadores (somada ao vandalismo protagonizado pela torcida após a derrota) e com dificuldade em perder peso, ele antecipara decisão que estava marcada para o fim do ano.
Todos os clichês são tentadores para descrever a trajetória do Fenômeno, eleito três vezes melhor jogador do mundo (1996, 1997 e 2002), bicampeão mundial (1994 e 2002) e autor de 414 gols, com a camisa verde-amarela (62, sendo 15 em Mundiais), e pelos sete clubes que defendeu: Cruzeiro (44), PSV (54), Barcelona (47), Inter de Milão (59), Real Madrid (104), Milan (9) e Corinthians (35).
Ressurgido de contusões gravíssimas, envolvido em escândalos na vida particular, ídolo e vilão nos clubes que defendeu, Ronaldo é o nosso Touro Indomável, nosso Jake LaMotta, lendário boxeador do Bronx, vivido por Robert De Niro, em Touro Indomável, melhor filme de Martin Scorsese.
Não falta a Ronaldo drama particular para tornar-lhe personagem scorcesiano: sua vida, de Castelo de Chantilly a travestis, tem ingredientes para um roteiro de primeira grandeza. Assim como o primeiro boxeador a vencer Sugar Ray Robinson, ele foi gênio em seu esporte, mas as polêmicas e os desafios transformaram sua vida em um ringue.
Sejamos mais sutis. Outrora o maior do mundo, as idiossincrasias que cometeu ao longo da carreira não o transformará em um apresentador gordo de cabarés, tal qual LaMotta, mas serão suficientes para macular a imagem de mito, que já se confunde com a de ingrato (saiu da Inter, após receber apoio da torcida durante a recuperação) e mercenário (trocou a paixão Flamengo pelo projeto Corinthians).
Desta última acusação, no entanto, está farto. Inteligente - nunca falou além do necessário -, Ronaldo sabe que futebol, assim como a Igreja e o jogo do bicho, se alimenta de fé. E que Deus é dinheiro, muito dinheiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário