Estreou neste fim de semana nos cinemas brasileiros O Segredo de seus Olhos (de Juan José Campanella), concorrente argentino ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme, protagonizado por Ricardo Darín, é uma das duas películas sul-americanas que disputam a estatueta este ano, número inédito de indicações na mesma categoria para a região, que não chegava lá desde 2002, com O Filho da Noiva - outro portenho com a dobradinha Campanella-Darín.
O peruano La Teta Assustada, de Cláudia Llosa, vencedor do Urso de Ouro, em Berlim, é o outro latino no páreo.
Em 52 anos de categoria própria - os estrangeiros, antes de 1957, eram agraciados apenas com prêmio honorário -, a América Sul venceu apenas uma vez, em 1985, com o também argentino La Historia Oficial, drama que retrata a curta e sangrenta ditadura militar do país (1976-1983).
Explico o motivo pelo qual atribuo tanta importância a categoria.
A vitória ou a presença assídua na disputa pelo Oscar de melhor filme de língua não-inglesa indicam, mais do que qualidade, a maturidade de um país de menor tradição cinematográfica em exprimir histórias universais: que superam as fronteiras dos regionalismos e encantam platéias através da linguagem do cinema.
Especulações
Instigado pelo número de premiações internacionais que o cinema argentino recebeu nesta década, tentei especular algumas rezões da consolidação portenha no mapa do cinema mundial. A primeira (e quase óbvia) é o idioma. Além de ser língua oficial de 20 países e falado por mais de meio bilhão de pessoas, o espanhol facilita o intercâmbio com países de maior tradição cinematográfica - como a Espanha.
Em 2002, Cármen Maura, uma das mulheres preferidas de Pedro Almodóvar, interpretou a avó no belíssimo filme Valentín. A Menina Santa, de Lucrecia Martel, um dos marcos do renascimento do cinema argentino, teve uma "ajudinha" dos irmãos Pedro e Agustín Almodóvar.
O intercâmbio também favorece no desenvolvimento e fusões de linguagens. O Segredo de Seus Olhos, por exemplo, tem pitadas de thriller policial, cinema político e comédia romântica, influências claras de produções norte-americanas. (Campanella trabalhou nos últimos anos em séries de TV nos Estados Unidos, como Law & Order e 30 Rock).
Outro indicativo de sucesso é a produção dos principais filmes do país em torno de um mesmo ator: Ricardo Darín, hoje reconhecido e verenado além das fronteiras argentinas. Darín foi protagonista de quatro dos principais filmes da década: o premiadíssimo Nove Rainhas (2000) - adaptado quatro anos mais tarde para o cinema americano como Criminal -, Clube da Lua (2004) e os dois últimos argentinos no Oscar - O filho da Noiva (2001) e, agora, O Segredo de Seus Olhos.
El Secreto
Favorito ao Oscar, O Segredo de seus olhos é um thriller policial leve (por ter pitadas de comédia) e envolvente (por ser conduzido por romances que não se resolvem). Passado em dois momentos distintos da história do país, o filme conta a história de um crime cometido no início da década de 1970, que permanece sem solução.
O ex-oficial de Justiça Benjamin (Ricardo Darín), que recebeu o caso à época, resolve retomar os fatos para um romance. Logo, Benjamin percebe que o jogo da Justiça vai além das pilhas de pastas e papéis que ocupam até o teto de sua sala. De caçador, passa à caça e, com a mudança de governo no país, vê escoar pelas mãos a chance de desvendar o mistério do estupro da bela jovem.
A chance reaparece agora, quase 40 anos depois, e as respostas que tanto Benjamin procurou podem ir além das páginas de um livro.
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