Que o Brasil é referência quando o assunto é pornografia, é fato. O país não é somente um dos maiores consumidores de filmes pornôs do mundo, como também é o maior produtor de filmes do gênero na América Latina. Mas o que se passa nos bastidores da produção brasileira ainda é assunto pouco discutido. Movida por esse questionamento, a antropóloga Maria Elvira Díaz-Benítez passou um ano e meio estudando essa indústria para sua tese de doutorado, que deu origem ao livro ''Nas redes do sexo''. A obra chega nessa semana às livrarias, pela editora Zahar.
''São pessoas bem diversas, não dá para responder essa pergunta de maneira fácil. Não existe um padrão, mas tem muita gente do Rio, São Paulo e do Sul. Principalmente a rede de atrizes está bem concentrada nessa região'', afirma.
Em sua tese, no entanto, ela identifica os locais onde ocorrem a maior parte do recrutamento dos atores e atrizes, e a maioria deles está ligada à prostituição, como boates, pontos de rua ou sites de acompanhantes.
Em sua pesquisa, Maria Elvira acabou traçando um perfil do universo pornô brasileiro, mas ela conta que foi dificil quebrar a barreira inicial para entrar nesse mundo. ''Eu escrevia para produtoras, entrava em contato pelo 'fale conosco', mandava mensagens por Orkut e nunca tinha resposta''.
Sua sorte mudou quando um jornalista do Rio lhe passou o telefone pessoal de Rita Cadillac. A ex-chacrete e atriz pornô não só aceitou dar uma entrevista à pesquisadora como conseguiu outros contatos para ela. Na mesma semana, outro golpe de sorte: um produtor da Brasileirinhas, a maior produtora de filmes pornográficos do país, entrou em contato com Maria Elvira e a convidou para o lançamento do filme pornô de Mateus Carrieri. A partir daí, tudo ficou mais acessível e, entre 2006 e 2008, a antropóloga entrevistou mais de 50 pessoas e acompanhou várias produções em São Paulo, desde o recrutamento dos atores até as gravações e distribuição dos filmes. Segundo ela, o recrutamento dos atores, no chamado pornô comercial, passa por vários estereótipos.
''O mundo do pornô joga com esses estereótipos. Um deles é o mito da sexualidade bestial do negro'', explica a pesquisadora. Isso faz, por exemplo, com que os negros sejam bem colocados nesse mercado, por eles são estigmatizados como ''bem dotados'' e amantes ''selvagens''. (...)
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