Com a taxa de mortalidade no Brasil estável em 6,3/1.000 habitantes na última década, cerca de 1, 2 milhão de brasileiros batem as botas todos os anos. Com o aumento na demanda por uma vaguinha bem acomodada a sete palmos do chão, "ser jogado na vala comum" se transformou de despretensioso provérbio a motivo de insônia aos que anseiam um sono eterno sossegado.
Tomei conhecimento há alguns meses em conversa com meu pai e depois com o Marcelo Dias - um amigo advogado muito atento aos negócios, de pés de eucaliptos a pés na cova -, sobre o aumento na procura por terrenos em cemitérios, por necessidade familiar ou por precavidos com medo de passar a eternidade loteado em um cubículo de repartição pública.
Nossa cultura escatológica explica tanto temor dos tementes a Deus. Religiões monoteístas ocidentais, como a Católica e as Neo-pentecostais que gorjeiam por cá, pregam que seus membros valorosos de uma fé verdadeira serão "livrados do fogo do inferno" e "suas almas levadas todas para o céu".
Porém, tamanha benesse divina e promessas de vida eterna em suaves prestações têm custado caro aos cristãos. Um terreno no cemitério de Alfenas, por exemplo, com pouco mais de dois metros quadrados que custava R$ 2,5 mil, é vendido, hoje, a cerca de R$ 6 mil.
A inflação foi puxada por uma mórbida "especulação funerária", de funcionamento simples: o empresariado ávido por negócios, certo que sua hora ainda não chegou, comprou o cercadinho há alguns anos e, hoje, com a iminente lotação dos cemitérios municipais, vende a preços exorbitantes, alavancando também o valor dos que garantiram seu pedaço de terra sem esse propósito.
Mais uma vez, os analistas de mercado tiveram olho-vivo, ainda mais que as opções oferecidas ao certâme de defunto não têm sido das melhores, assim na terra como no céu.
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