"Edifício Master, ao trazer o homem comum, simples e banal para as telas nos faz pensar nas vidas, histórias e personagens que se encontram dentro de cada estreito apartamento na imensa selva vertical em que vivemos nas grandes metrópoles".
O cinema é uma arte que nasceu na cidade e ao longo do século XX foi responsável por retratar as transformações de suas formas de organização. Ao contrário da pintura e da fotografia que imortalizam a paisagem, a sétima arte usou da capacidade de captar imagens em movimento para documentar o nascimento das grandes metrópoles. Ao trazer o homem comum para as telas – principalmente, após o neo-realismo italiano -, o cinema foi responsável por estreitar ainda mais a relação entre homem e espaço urbano, integrando-o na sua paisagem como construtor subjetivo da própria cidade, dando alma ao lugar que habita.
Edifício Master, do diretor Eduardo Coutinho (Cabra marcado para morrer, 1984), retrata a organização por excelência das grandes cidades: o edifício. Coutinho pretende mostrar, com a performance de seus entrevistados, como a cidade esconde a existência humana atrás de seus emaranhados de arranha-céus. Fechados em apartamentos conjugados, esses moradores apresentam duas contradições características das sociedades pós-modernas: a solidão no meio do tumulto, do caos e a estreita relação entre anonimato e visibilidade.
Para retratar esse sufocamento, o documentário é fechado e as únicas imagens externas são feitas no começo do filme. Dos minutos seguintes até o final, a equipe transita entre os corredores dos 12 andares de 36 apartamentos cada. A geometria dos corredores, das portas, dos apartamentos conjugados estabelece a idéia de uma sociedade disciplinar. E a disciplina é abordada nas primeiras entrevistas do filme exaltando a presença do novo síndico que afastou a prostituição e as “casas de massagem” do edifício.
A câmera é, quase sempre, fixa e as entrevistas são o eixo dramático exclusivo. A seleção das entrevistas dá prioridade aos depoimentos auto-reflexivos, misturando trechos de silêncio e testemunhos dos moradores contando segredos, experiências, emoções e sentimentos . Uma metáfora destes testemunhos é a música cantada pelo morador Henrique, My Way (meu caminho), de Frank Sinatra.
Quanto a sua estrutura, Coutinho parece provocar e botar em discussão a própria veracidade do documentário na entrevista com Alessandra, uma garota de programa, moradora de um dos conjugados. Ela se assume como uma “mentirosa verdadeira” e diz que se pode mentir mesmo dizendo a verdade. Com a permissão de Coutinho, Alessandra evoca uma discussão presente desde as primeiras exibições de cinema: É possível recortar e retratar a realidade através do cinema, reproduzindo a imagem tal qual ela seria sem a interferência da câmera?
Eduardo Coutinho defende a impossibilidade de filmar o real, que está em constante transformação. O que se filmou nas semanas que a equipe esteve presente no edifício foi a realidade interagindo com a câmera e o diretor. A câmera transpassa a realidade, as imagens são fílmicas, mesmo não sendo estabelecidas por roteiro. A equipe aparece nas cenas desde sua entrada, filmada pela câmera de segurança do prédio.
O comprometimento de Coutinho não é com a veracidade dos depoimentos e sim de tirar a câmera da posição do simples voyerismo e levá-la à reflexão crítica da nossa sociedade. Edifício Master, ao trazer o homem comum, simples e banal para as telas nos faz pensar nas vidas, histórias e personagens que se encontram dentro de cada estreito apartamento na imensa selva vertical em que vivemos nas grandes metrópoles.
Edifício Master, do diretor Eduardo Coutinho (Cabra marcado para morrer, 1984), retrata a organização por excelência das grandes cidades: o edifício. Coutinho pretende mostrar, com a performance de seus entrevistados, como a cidade esconde a existência humana atrás de seus emaranhados de arranha-céus. Fechados em apartamentos conjugados, esses moradores apresentam duas contradições características das sociedades pós-modernas: a solidão no meio do tumulto, do caos e a estreita relação entre anonimato e visibilidade.
Para retratar esse sufocamento, o documentário é fechado e as únicas imagens externas são feitas no começo do filme. Dos minutos seguintes até o final, a equipe transita entre os corredores dos 12 andares de 36 apartamentos cada. A geometria dos corredores, das portas, dos apartamentos conjugados estabelece a idéia de uma sociedade disciplinar. E a disciplina é abordada nas primeiras entrevistas do filme exaltando a presença do novo síndico que afastou a prostituição e as “casas de massagem” do edifício.
A câmera é, quase sempre, fixa e as entrevistas são o eixo dramático exclusivo. A seleção das entrevistas dá prioridade aos depoimentos auto-reflexivos, misturando trechos de silêncio e testemunhos dos moradores contando segredos, experiências, emoções e sentimentos . Uma metáfora destes testemunhos é a música cantada pelo morador Henrique, My Way (meu caminho), de Frank Sinatra.
Quanto a sua estrutura, Coutinho parece provocar e botar em discussão a própria veracidade do documentário na entrevista com Alessandra, uma garota de programa, moradora de um dos conjugados. Ela se assume como uma “mentirosa verdadeira” e diz que se pode mentir mesmo dizendo a verdade. Com a permissão de Coutinho, Alessandra evoca uma discussão presente desde as primeiras exibições de cinema: É possível recortar e retratar a realidade através do cinema, reproduzindo a imagem tal qual ela seria sem a interferência da câmera?
Eduardo Coutinho defende a impossibilidade de filmar o real, que está em constante transformação. O que se filmou nas semanas que a equipe esteve presente no edifício foi a realidade interagindo com a câmera e o diretor. A câmera transpassa a realidade, as imagens são fílmicas, mesmo não sendo estabelecidas por roteiro. A equipe aparece nas cenas desde sua entrada, filmada pela câmera de segurança do prédio.
O comprometimento de Coutinho não é com a veracidade dos depoimentos e sim de tirar a câmera da posição do simples voyerismo e levá-la à reflexão crítica da nossa sociedade. Edifício Master, ao trazer o homem comum, simples e banal para as telas nos faz pensar nas vidas, histórias e personagens que se encontram dentro de cada estreito apartamento na imensa selva vertical em que vivemos nas grandes metrópoles.
_Texto: Renan Damasceno
_A imagem pertence ao site sllepycity.net
_Assista um trecho do documentário Edifício Master
3 comentários:
Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Até mais.
Grande Renan!
Parabéns pelo trampo novo!
Cade a foto da serra do curral? escolhe uma bacana e manda pra eu colocar no meu blog.
Aki, q dia vc vai colocar um link do meu blog no seu? hehe
Abração, Léo Quintino.
Ahh Rorô q legal ver seu texto sobre esse filme.. É um dos meus preferidos! tudo nele é perfeito, muito bem dirigido e muito bem editado, até o making off é bárbaro. O que me chamou muito a atenção, foi o fato de reforçar a idéia de que a arte imita a vida. É possivel fazer um bom filme retratando a realidade sem que parta de violência ou discussões polêmicas...Muitas vezes a ficção do cinema imita a realidade só que os diálogos são melhores :D
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