domingo, junho 17, 2007

Edifício Master - Solidão no meio da metrópole



"Edifício Master, ao trazer o homem comum, simples e banal para as telas nos faz pensar nas vidas, histórias e personagens que se encontram dentro de cada estreito apartamento na imensa selva vertical em que vivemos nas grandes metrópoles".

O cinema é uma arte que nasceu na cidade e ao longo do século XX foi responsável por retratar as transformações de suas formas de organização. Ao contrário da pintura e da fotografia que imortalizam a paisagem, a sétima arte usou da capacidade de captar imagens em movimento para documentar o nascimento das grandes metrópoles. Ao trazer o homem comum para as telas – principalmente, após o neo-realismo italiano -, o cinema foi responsável por estreitar ainda mais a relação entre homem e espaço urbano, integrando-o na sua paisagem como construtor subjetivo da própria cidade, dando alma ao lugar que habita.

Edifício Master, do diretor Eduardo Coutinho (Cabra marcado para morrer, 1984), retrata a organização por excelência das grandes cidades: o edifício. Coutinho pretende mostrar, com a performance de seus entrevistados, como a cidade esconde a existência humana atrás de seus emaranhados de arranha-céus. Fechados em apartamentos conjugados, esses moradores apresentam duas contradições características das sociedades pós-modernas: a solidão no meio do tumulto, do caos e a estreita relação entre anonimato e visibilidade.

Para retratar esse sufocamento, o documentário é fechado e as únicas imagens externas são feitas no começo do filme. Dos minutos seguintes até o final, a equipe transita entre os corredores dos 12 andares de 36 apartamentos cada. A geometria dos corredores, das portas, dos apartamentos conjugados estabelece a idéia de uma sociedade disciplinar. E a disciplina é abordada nas primeiras entrevistas do filme exaltando a presença do novo síndico que afastou a prostituição e as “casas de massagem” do edifício.

A câmera é, quase sempre, fixa e as entrevistas são o eixo dramático exclusivo. A seleção das entrevistas dá prioridade aos depoimentos auto-reflexivos, misturando trechos de silêncio e testemunhos dos moradores contando segredos, experiências, emoções e sentimentos . Uma metáfora destes testemunhos é a música cantada pelo morador Henrique, My Way (meu caminho), de Frank Sinatra.

Quanto a sua estrutura, Coutinho parece provocar e botar em discussão a própria veracidade do documentário na entrevista com Alessandra, uma garota de programa, moradora de um dos conjugados. Ela se assume como uma “mentirosa verdadeira” e diz que se pode mentir mesmo dizendo a verdade. Com a permissão de Coutinho, Alessandra evoca uma discussão presente desde as primeiras exibições de cinema: É possível recortar e retratar a realidade através do cinema, reproduzindo a imagem tal qual ela seria sem a interferência da câmera?

Eduardo Coutinho defende a impossibilidade de filmar o real, que está em constante transformação. O que se filmou nas semanas que a equipe esteve presente no edifício foi a realidade interagindo com a câmera e o diretor. A câmera transpassa a realidade, as imagens são fílmicas, mesmo não sendo estabelecidas por roteiro. A equipe aparece nas cenas desde sua entrada, filmada pela câmera de segurança do prédio.

O comprometimento de Coutinho não é com a veracidade dos depoimentos e sim de tirar a câmera da posição do simples voyerismo e levá-la à reflexão crítica da nossa sociedade. Edifício Master, ao trazer o homem comum, simples e banal para as telas nos faz pensar nas vidas, histórias e personagens que se encontram dentro de cada estreito apartamento na imensa selva vertical em que vivemos nas grandes metrópoles.

_A imagem pertence ao site sllepycity.net
_Assista um trecho do documentário Edifício Master

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Até mais.

Anônimo disse...

Grande Renan!

Parabéns pelo trampo novo!

Cade a foto da serra do curral? escolhe uma bacana e manda pra eu colocar no meu blog.

Aki, q dia vc vai colocar um link do meu blog no seu? hehe

Abração, Léo Quintino.

Anônimo disse...

Ahh Rorô q legal ver seu texto sobre esse filme.. É um dos meus preferidos! tudo nele é perfeito, muito bem dirigido e muito bem editado, até o making off é bárbaro. O que me chamou muito a atenção, foi o fato de reforçar a idéia de que a arte imita a vida. É possivel fazer um bom filme retratando a realidade sem que parta de violência ou discussões polêmicas...Muitas vezes a ficção do cinema imita a realidade só que os diálogos são melhores :D