domingo, novembro 18, 2007

Kubrick - O filósofo do cinema visual (II)

De 1964 à 1971, Kubrick criou suas três obras primas: De viés político, criticou ácida e comicamente a Guerra Fria em Dr. Strangelove (1964); no ano em que o homem pisou na lua pela primeira vez, lançou 2001: Uma odisséia no espaço (1969), provando a incapacidade do homem em dominar suas próprias criações. Sexo e ultraviolência fazem parte do cotidiano do sujeito sem identidade pós-moderno, representado de Alex Delarge, em Laranja Mecânica (1971)

Doutor Fantástico (1964) é considerado por muitos críticos o início da segunda fase das obras de Kubrick. Já estabelecido na Inglaterra, desde a produção de Lolita, seu novo filme marca a passagem do cinema de caráter “humanista” para a fase da exploração dos mistérios humanos.

Dr. Fantástico é um clássico do humor negro, da crítica ao militarismo, à corrida armamentista e à banalidade em que os chefes de estado atribuem à guerra. Os bastidores da Guerra Fria são expostos e, por conseqüência, a total desmistificação do poder. Peter Sellers é, simplesmente, genial no papel de três personagens (um deles, o próprio Doutor Fantástico, um médico alemão que não consegue controlar seus extintos nazistas na cadeira de rodas, contorcendo-se todo para não saudar o presidente americano com a mesma predestinação que saudava seu fuher).

((Considero esse filme essencial para a cinemateca de qualquer cinéfilo. É visível o caráter crítico e peculiar que o diretor enxerga a humanidade e consegue adaptar para as telas os mais falhos extintos do Ser)). Em Dr. Fantástico, a relação homem-máquina é proposta pelo diretor e retomada no filme seguinte. Se em 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) a máquina Hal 9000 substituiria os erros humanos, como a máquina perfeita que nunca comete falhas, a bomba construida pelo doutor Fantástico foge ao controle do homem, que nada pode fazer para impedir a bomba de destruir o planeta. A humanidade passa a ser vítima de sua própria criação.

Enigmático, revolucionário, impecável. Muitos são os adjetivos que podemos atribuir à obra-prima do cinema de ficção-científica 2001: Uma Odisséia no espaço. Não somente é o maior filme de ficção científica de todos os tempos, como a obra que redefiniu o gênero. Originalmente criado em 70mm o filme era pra ser assistido em Cinerama, uma espécie de tela em 180º que daria a sensação do espectador mergulhar na história, desde o átomo até o universo (Se na tela da Tv já ficamos fascinados, imagine dentro do filme).

A evolução (ou não-evolução) do homem, desde o macaco que descobre a ferramenta até o astronauta que se aventura pelo universo é marcada pela presença do enigmático monolito negro. Ele determina o tempo e a história, sua aparição sempre representa alguma mudança na evolução da espécie no planeta. A inteligência humana é substituída pela máquina Hal 9000. Em 2001, os homens pouco têm personalidade, inclusive, no filme, o único personagem carismático é o computador Hal. Único que fala de assuntos relacionados a sentimentos, mesmo afirmando não possuir algum. A máquina é superior aos falhos astronautas, mas mesmo assim oferece total obediência aos tripulantes da nave. A falha do computador é um mistério, é impossível deduzir se Hal detectou um erro em seu funcionamento ou sua atitude foi proposital. Mas uma vez o homem torna-se refém de sua própria criação.

Os planetas parecem movimentar-se ao som da música e os planos longos definem uma viajem visual única na história do cinema. É impossível não se impressionar com o universo de 2001.

Laranja Mecânica (1971) completa a trilogia de obras geniais de Kubrick. É o retrato do sujeito da pós-modernidade, uma não-identidade que se libera na violência e no sexo. Nada mais primitivo. Alex DeLarge (numa brilhante atuação de Malcom McDowell) é o líder de uma gangue de “drugues” , e sua principal diversão é a prática da violência e ouvir Beethoven, o que exemplifica a mobilidade do sujeito.

Com a inviabilidade das leis, no século XXI, novas formas de tratamento serão testadas.Alex será vítima de um tratamento de choque que cura a violência com a exibição exaustiva de cenas de própria violência. São tirados do homem os seus impulsos naturais, tornando-o um objeto vazio. Kubrick faz análises sociológicas e filosóficas impiedosas para o futuro do ser humano. O grande número de simbolismos no filme é prova disso. Um ser pós-moderno que vive da inconstância, da identidade móvel e do hedonismo.

A exibição do filme foi proibida na Inglaterra a mando de Kubrick, em resposta à avalanche de crítica recebida pelo excesso de violência.

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