segunda-feira, dezembro 03, 2007

Kubrick - O filósofo do cinema visual (I)

Renan Damasceno

*Especial para a coluna "Tremendões" do site Delfos

Poucos diretores conseguiram construir ao longo do tempo uma filmografia tão densa e autônoma quanto Stanley Kubrick (1928-1999). Perdoem-me os novos aficionados e admiradores dos cinemas “alternativos”, que lotam as salas em sessões de cineclubes, que insistem em estabelecer uma linha que divide o “cinema comercial” do “c
inema de arte”. Mas se há essa linha, Kubrick, assim como Alfred Hitchkock, Billy Wilder..., caminhou sobre os dois trilhos: financiado por grandes produtoras que não interferiram na genialidade e autonomia da obra.

De temperamento difícil e avesso à mídia, esse estadunidense do Bronx (NY) sempre dirigiu o que lhe parecia interessante – vide os hiatos entre suas produções, mais visíveis nas últimas obras. Seu início de carreira como fotógrafo da revista Look define a característica do seu cinema: profundamente visual, com planos longos e exaustivamente repetidos na gravação até alcançar a perfeição. A câmera é o próprio olho do diretor que vigia cada passo do ator e cada milímetro da cena.

(Ao ver seus filmes, imagino que nenhum plano poderia ser filmado sem ser daquela maneira, tamanha a precisão. Kubric trabalha, essencialmente, com o não “verbalizável”, o que nos permite sentir a imagem e a música”).

Sua filmografia não é extensa. De Fear and desire (1953) ao controverso e criticado Eyes wide Shut (De olhos bem fechados, 1999) foram 13 filmes, sendo O grande Golpe (1956) seu primeiro longa-metragem expressivo. Com uma narrativa não linear, o filme é considerado influência para obras como Pulp Fiction (de Quentin Tarantino,1994) e outros filmes do “neobrutalismo”, ( décadas de 80/90).

Em 1957, lança Glória Feita de Sangue, considerado por muitos o melhor filme sobre a Primeira Guerra de todos os tempos, estrelado por Kirk Douglas. Após ordenar um ataque suicida, o general do grupo escolhe três soldados que vão ser condenados à morte. Kubrick viaja pelo lado humanista, pelos rostos dos combatentes e denuncia os absurdos e as insanidades da guerra. O zoom, comum em suas obras, nos aproxima dos soldados e mergulhamos em seus sentimentos, fato inédito em filmes de guerra.

Spartacus (1960) é um filme épico e o primeiro de grande orçamento dirigido por Kubrick. Após o abandono do diretor original, Anthony Maan, a escolha do seu nome à direção, o confirma entre os grandes diretores de Hollywood e, a partir deste, sua característica de perfeccionista obsessivo.

Se a obra literária de Vladimir Nabokov é considerada um dos maiores romances do século XX, a adaptação de Kubick para o clássico Lolita (1962) esteve à altura. Mesmo sendo menos “quente” e mais cômico que o livro, Lolita é o espetáculo da regressão e da decadência do homem. A cena da morte de Clare Quilty - com uma brilhante atuação de Peter Sellers - , atrás do quadro, nos primeiros minutos do filme, é o retrato da falência da cultura européia e da sociedade contemporânea. A paixão do erudito escritor Humbert Humbert por uma garota de 14 anos é a prova da Impotência do ser humano, preso ao desejo sexual.

2 comentários:

Menian disse...

Sempre leio seu blog, mas nunca comento; fiz um também (http://latariaetrintaetres.blogspot.com/),
e ai aproveito: hoje é seu aniversário e achei que seria mais considerável te mandar uma não-scrap. Não sei se verá isso exatamente hoje, mas enfim, FELIZ ANIVERSÁRIO, Renan!

Anônimo disse...

olá. Estava pescando filmes na net e achei seu blog. Mas enfim... Gostei bastante. Não só pela sua paixão por Glauber Rocha e vodka Balalaika. Mas pq estou querendo umas indicações filmes nouvelle vague. Tirando aqueles de sempre. Tem alguma indicação a fazer?