As mesmas perguntas sobre o passado e o futuro do jornalismo esportivo feitas ao Juca (no último post), foram enviadas ao jornalista José Roberto Torero – ao meu ver, um dos poucos representantes dos textos de futebol apaixonados e inventivos. Não houve grandes divergências entre as respostas dos dois. Aliás, ambos convergem a um mesmo questionamento: os leitores de hoje, ávidos por notícias rápidas e secas, teriam 'saco' para textos longos, apaixonados, poéticos, cheios de lirismo, que muitas vezes fogem a realidade do próprio esporte?
Você acredita em um empobrecimento da crônica esportiva atual, quando comparada aos textos da década de 1950, assinados por Nelson Rodrigues, Mário Filho, Armando Nogueira?
José Roberto Torero – Sim e não. Sim porque ninguém consegue ser tão bom quanto Nelson Rodrigues. Assim, qualquer tempo sem ele já é mais pobre. Por outro lado, hoje a crônica é mais técnica, mais bem informada, com mais conhecimento específico que a geração dos anos 50. E os textos, se não são tão bons quanto o do Nelson, têm uma boa variedade. Há gente mais política, como o Juca, mais filosófica, como o Tostão, e os metidos a engraçadinhos, como eu. Comparando com anos 80, por exemplo, esta primeira década do século está mais interessante.
Nas crônicas em que o enredo gira em torno de um personagem, como você faz a escolha e quais os critérios utilizados? Esse tipo de enredo, com um personagem principal, é bastante utilizado?
JRT – No meu caso, sim. Um bom exemplo são os textos onde uso o Zé Cabala para entrevistar algum jogador morto. Neste caso, o assunto é apenas e tão somente o defunto em questão.
Qual a prioridade em suas crônicas (comentário dos jogos, análise tática). E como o leitor reage: faz críticas, sugestões de pauta? Em caso de resposta positiva, a interatividade com o leitor ajuda na escolha da pauta do dia?
JRT – Como escrevo longe dos dias de jogos, tive que me especializar em textos frios, ou seja, raramente comento jogos ou assuntos mais quentes. Daí o uso de personagens como o Zé Cabala, Tico e Teco, etc... Acho que faço mais um comentário do comentário, são mais contos que crônicas esportivas.
O leitor faz críticas e sugestões de pauta, mas pouco. Mesmo na internet, ele ainda é um tanto passivo. Comenta muito, mas sugere pouco. Mas, em parte, porque nós, escritores de futebol, ainda não soubemos como aproveitar a internet. Uma exceção, no meu caso, foi a Copa dos Pesadelos, uma série que fiz em meu blog e que teve textos feitos a partir de sugestões enviadas pelos leitores (está disponível no blog).
Uma crônica desprovida de paixão é capaz de jogar na vala comum atletas que merecem um lugar na história? Jogadores como Rivaldo, Ronaldo, Romário, Bebeto e Dunga, que deram ao país o quarto e o quinto título mundial, e que jamais foram tratados com a reverência dedicada aos campeões de 1958, 1962 e 1970, tiveram tratamento adequado pelos cronistas atuais?
JRT – Acho que tiveram a atenção e os elogios que mereceram. E vou defender aqui a crônica sem paixão, ou melhor, sem babação: acredito que a paixão não é uma qualidade absoluta. Ela pode ser desagradável (tirando Nelson Rodrigues e Armando Nogueira, que outro cronista com paixão faz textos decentes?). Acho que não se pode ter Nelson Rodrigues como o paradigma absoluto da crônica esportiva, assim como não deve ser do teatro e do conto. Criar apelidos fantásticos e tecer loas épicos é divertido, mas não combina tanto com o futebol de hoje, e a crônica é filha do seu tempo.
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José Roberto Torero, 47, é formado em Letras pela USP. É escritor, roteirista, jornalista e, de quebra, cronista esportivo da Folha. Começou a escrever sobre futebol no Jornal da Tarde e, depois, mudou-se para a Placar. Venceu o Prêmio Jabuti, em 1995. Respondeu às questões, por e-mail, em outubro de 2008.
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Um comentário:
Eu já vim comentar aqui e infelizmente foi justamente em um post sobre futebol, assim como esse. Eu não curto muito, maaas... vou elogiar teu blog outra vez (:
É bastante interessante... E bonito!
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