
As perguntas que guiaram o trabalho – compartilhada por Paulo Vinicius Coelho –, foram: uma crônica desprovida de paixão pode jogar na vala comum atletas importantes da nossa história como Romário, Bebeto, Dunga, etc.? Esses jogadores também poderiam ganhar status quase 'sobre-humanos', como os campeões dos três primeiros mundiais pela Seleção, caso fossem descritos por jornalistas como Nelson, Armando Nogueira e Mário Filho?
A dissertação evidenciou as principais mudanças do gênero nos últimos 50 anos. Foram analisados textos de Tostão, Daniel Piza, Torero, Kfouri e Kelen Cristina, sob a luz de Nelson. Enfim, nossa crônica esportiva empobreceu ou não?
Você acredita em um empobrecimento da crônica esportiva atual, quando comparada aos textos da década de 1950, assinados por Nelson Rodrigues, Mário Filho, Armando Nogueira?
Juca Kfouri – Sem dúvida, porque, então, existia o “cronista” esportivo, coisa que hoje tem apenas mestre Armando Nogueira como representante. Mas me pergunto se nesta época de pouco tempo para leitura, de necessidade de informação, se seria mesmo possível manter o estilo dos citados. Ainda mais que eles se beneficiavam do fato de nem existir o videotape...
Nas crônicas em que o enredo gira em torno de um personagem, como você faz a escolha e quais os critérios utilizados? Esse tipo de enredo, com um personagem principal, é bastante utilizado?
JK – Eu raramente uso esse artifício, principalmente no quente de uma rodada. A menos que seja uma atuação assim como a do Zidane, contra o Brasil, na Copa passada. Ou que haja um drama pessoal como um frango decisivo de São Marcos.
Qual a prioridade em suas crônicas (comentário dos jogos, análise tática). E como o leitor reage: faz críticas, sugestões de pauta? A interatividade com o leitor ajuda na escolha da pauta do dia?
JK – A interatividade ajuda no blog, no jornal não. Eu prefiro tratar de bastidores e de emoções e não gosto muito da análise tática, porque ainda acho que o talento é que decide.
Uma crônica desprovida de paixão é capaz de jogar na vala comum atletas que merecem um lugar na história? Jogadores como Rivaldo, Ronaldo, Romário, Bebeto e Dunga, que deram ao país o quarto e o quinto título mundial, e que jamais foram tratados com a reverência dedicada aos campeões de 1958, 1962 e 1970, tiveram tratamento adequado pelos cronistas atuais?
JK – Os três primeiros, sem dúvida. Há belíssimos textos sobre todos eles. Bebeto e Dunga são, de fato, personagens menores.
